Tiago Dantas/Jornal da Tarde
Policiais militares tentaram impedir uma manifestação de movimentos negros no centro de São Paulo ontem à tarde. Alegando que se sentiam ofendidos por cartazes que denunciavam a violência policial na periferia, os PMs apreenderam ao menos quatro faixas e exigiram que desenhos e frases fossem cobertos, o que foi interpretado como censura por quem participava do protesto.
Uma sindicância foi instaurada pela PM para apurar. A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) vai pedir providências ao comando da PM segunda-feira. “Essa ação dos policiais endossa tudo o que a gente estava denunciando no protesto”, disse Douglas Belchior, da União de Núcleos de Educação Popular para Negros(as) e Classe Trabalhadora (Uneafro).
Os cartazes que irritaram os policiais mostravam desenhos de PMs apontando arma para um rapaz e atribuíam ao Estado as mortes de jovens pobres e negros, citando o Mapa da Violência 2011.
O levantamento, lançado pelo Ministério da Justiça, mostra que de cada três jovens assassinados, dois são negros e que, enquanto o homicídio de jovens brancos caiu 23,3% no último ano, o de negros cresceu 13,2%.
Os manifestantes se concentraram no calçadão da Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal, por volta das 12h. A confusão com os policias começou na sequência. “Eles chegaram reprimindo. Um tenente falou para a gente: ‘Não sou assassino’. Estávamos falando da corporação, do número de mortes que o Estado pratica na periferia, um genocídio”, afirmou Belchior.
Advogados e deputados estaduais foram chamados ao local.
“O secretário de Segurança Pública (Antônio Ferreira Pinto) ligou para um dos líderes e pediu desculpas. Mas não é de desculpas orais que a gente precisa. É de mudança de atitude dos policiais fardados na rua”, disse a professora Sara Mendes de Siqueira, de 27 anos, integrante do Comitê contra o Genocídio da População Negra. Segundo ela, ninguém ficou ferido na confusão.
“É um absurdo. O que os policiais fizeram vai contra a liberdade de manifestação. Eles não podem balizar o que um cidadão pode ou não dizer em um protesto. Se a corporação acha que foi atingida, procure a Justiça”, opinou Martim de Almeida Sampaio, coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB, que pretende pedir explicações à PM.
A PM informou que “em respeito aos direitos humanos, determinou a imediata instauração de sindicância para apurar em que circunstâncias se deram as apreensões dos materiais utilizados pelos manifestantes.”
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