Comissão da Verdade é 'moeda falsa', diz general ex-ministro do governo Sarney
"Leônidas disse que Dilma deveria ter 'a modéstia' de deixar de olhar o passado e olhar para frente"
BRASÍLIA - Ex-ministro do Exército do governo José Sarney, o general da reserva Leônidas Pires Gonçalves atacou a presidente Dilma Rousseff e a Comissão da Verdade instalada na quarta-feira, em solenidade no Palácio do Planalto, classificando-a de 'uma moeda falsa, que só tem um lado' e de 'completamente extemporânea'. Ao Estadão, Leônidas disse que a presidente Dilma deveria ter 'a modéstia' de deixar de olhar o passado e olhar para frente, 'para o futuro do País'.
Recolhido em sua residência, Leônidas, que está com 91 anos, evita fazer declarações à imprensa, mas fez questão de falar sobre a instalação da Comissão da Verdade por considerar que os militares estão 'sendo injustiçados' e não vê quem os defenda no governo. Segundo ele, quando Nelson Jobim era ministro da Defesa havia um interlocutor. 'Ele se colocava', disse. 'Mas o seu sucessor, Celso Amorim, que deveria se manifestar está ligado ao problema.'
O general se diz indignado com o que define como 'injustiça que está sendo feita com o Exército'. Para ele, a Força está sendo 'sumariamente julgada e punida'. Mas Leônidas defendeu a liberdade de expressão. 'Que se respeite a minha opinião. Aqui é uma democracia. A palavra é livre e isso foi graças à nossa intervenção', reagiu.
Para ele, 'embora o discurso seja de que não haverá punição com esta Comissão da Verdade, já estão promovendo a maior punição ao Exército, que está tendo o seu conceito abalado injustamente'.
O ex-ministro do Exército acha que os comandantes militares deveriam falar em defesa da categoria e espera que eles, pelo menos, estejam levando a insatisfação dos oficiais aos demais integrantes do governo em relação à Comissão da Verdade.
Leônidas declarou ainda que os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica 'têm de orientar como os militares que forem chamados à comissão devem se comportar'.
Convite. O general da reserva não acredita que será convidado a depor na comissão. 'Não há razão para eu ser convidado', declarou ele, citando que no tempo em que o DOI-Codi do Rio de Janeiro esteve vinculado a ele, entre abril de 74 e fevereiro de 77, 'nunca apareceu nada nem ninguém que tivesse alegado ter sido torturado'. E emendou: 'Eu já desafiei que alguém se apresentasse na TV e nunca apareceu nada'.
Nas declarações feitas ao Estado, o ex-ministro - que foi um dos avalistas da posse do presidente Sarney, quando Tancredo Neves morreu, garantindo a transição de um governo militar para o civil - diz que a presidente Dilma Rousseff tem que 'esquecer o passado, olhar para a frente' e se preocupar com o futuro do País.
O general Leônidas Pires rechaçou a possibilidade de a Lei de Anistia ser revogada, como um segundo passo, depois de a comissão da Verdade fazer seu trabalho, por conta de pressão das esquerdas. 'Isso não tem cabimento. A não ser que exista vontade expressa do revanchismo.'
Para ele, 'é impossível mexer na Lei da Anistia, que foi fruto de um acordo no passado e que já foi chancelada pelo Supremo'. E emendou: 'Se quiserem fazer pressão no Supremo, o poder moderador tem de entrar em atuação no País'.