O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel (PT), usou um avião fretado pelo empresário João Dória Júnior para viajar em outubro do ano passado da Bulgária, onde integrava uma comitiva oficial do governo, para a Itália, onde se reuniu com empresários em evento organizado por Dória. A Comissão de Ética Pública deve analisar o caso
Pimentel viajou da Bulgária a Roma em avião fretado por empresário
João Dória Júnior pagou aeronave para levar ministro, que participou de seminário
Luiza Damé, Thiago Herdy
BRASÍLIA e SÃO PAULO. A Comissão de Ética Pública da Presidência deverá analisar, na próxima reunião, mais uma denúncia contra o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. Desta vez, a acusação envolve o uso de avião fretado pelo empresário João Dória Júnior, em outubro do ano passado, numa viagem entre a Bulgária, onde Pimentel integrava a comitiva da presidente Dilma Rousseff, e a Itália, quando se reuniu com empresários brasileiros e italianos, segundo informações do site Terra Magazine. O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), anunciou ontem que entrará ainda hoje com uma representação contra o ministro, na Comissão de Ética.
No fim da tarde de ontem, o empresário informou ao GLOBO ter fretado um avião para que o ministro participasse do evento promovido por ele com empresários brasileiros e italianos. Mais cedo, João Dória havia negado ao portal Terra ter realizado o fretamento, informando que "governantes não viajam com despesas pagas pelo evento, cada um assume sua própria despesa". A assessoria atribuiu a mudança de posição do empresário ao fato dele não ter se informado com a equipe de produção do evento sobre a forma de transporte de Pimentel. Disse também que não informaria o valor pago pelo frete e que João Dória estava em reunião, por isso não daria entrevista sobre o assunto.
O Código de Conduta da Alta Administração Federal, ao qual todos os ministros estão submetidos, proíbe que as autoridades do governo federal recebam salários, transporte, hospedagem ou qualquer favor do setor privado, para evitar situações que possam gerar dúvidas sobre sua probidade e honorabilidade. A assessoria de imprensa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) disse que a resposta de Pimentel era a dada ao Terra Magazine, que publicou a denúncia.
- Saí da comitiva da presidente e fui mesmo para Roma, mas não fui em avião oficial porque o compromisso não fazia parte da agenda da presidente. Não tinha como ir de avião oficial. Ele (João Dória Júnior) mandou um avião e eu usei a aeronave que ele colocou para mim naquele momento - disse Pimentel.
Ministro recebeu R$ 5,2 mil em diárias
Na viagem, de 1 a 9 de outubro de 2011, Pimentel integrou a comitiva da presidente na Bélgica e Bulgária, depois seguiu para a Itália, onde se reuniu com o embaixador do Brasil em Roma, José Viegas, e fez palestra a empresários no Seminário Bilateral Itália/Brasil, sobre as relações econômicas e a integração entre os dois países. O grupo Lide, presidido por João Dória Júnior, emitiu nota no fim da noite dizendo que fretou o voo porque o ministro estava sem acesso a avião comercial em tempo para comparecer ao evento.
Ele recebeu R$ 5.284,11 de diárias, segundo dados do Portal da Transparência, administrado pela Controladoria Geral da União (CGU).
Antes de embarcar para o Paraná, Bueno deixou a assessoria do PPS orientada a preparar a representação à Comissão de Ética. A próxima reunião do colegiado está marcada para o dia 6 de junho.
- Mais uma vez o Pimentel deve explicações à Nação, mas o governo está blindando o seu ministro. Ele tem de explicar não só as suas lucrativas consultorias como esta viagem. Não sei quantas denúncias serão necessárias para que o governo, numa atitude republicana, afaste o ministro e lhe dê condições de se defender - argumentou o líder do PPS.
Em fevereiro deste ano, a Comissão de Ética decidiu analisar o trabalho de consultoria realizado por Pimentel entre 2009 e 2010, acatando a denúncia feita pelo PSDB, com base em reportagens do GLOBO, publicadas em dezembro do ano passado. O conselheiro Fábio Coutinho foi designado relator do caso, que deverá ser julgado na próxima reunião. Pimentel mandou explicações por escrito à comissão, mas o relator pediu novos esclarecimentos, enviados na última sexta-feira ao colegiado.
Depois de sair da prefeitura de Belo Horizonte e antes de entrar no governo Dilma, Pimentel faturou R$ 2 milhões em serviços de consultoria, metade paga pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), para assessoria na elaboração de projetos na área tributária e palestras nas dez regionais da entidade. As palestras nunca ocorreram.
FONTE: O GLOBO
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