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O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Marina e seu patrimônio imutável e congelado


DEBATE ABERTO


Marina surgiu candidata a presidência como uma nova e prometedora alternativa e teve então seus quase vinte milhões de votos em espólio eleitoral. Começou então um processo político-psicológico inquietante. Considerou-se dona desse acervo eleitoral, como um patrimônio pessoal permanente.
Lembro-me do assombro e entusiasmo de Jô Soares diante daquela cabocla frágil e inteligente. Eu a tinha conhecido num dos muitos cursos que dei no Centro de Formação da então Prelazia do Acre e Purus, de meu querido amigo, o bispo Moacyr Grecci. Creio que chegou a ter pensado em ser freira. Mais adiante se fez evangélica, numa Igreja que foi seu bom samaritano em uma de suas doenças. Atacada pelo mercúrio que ingerira quando pequena, ao lado de seu pai, minerador pobre, sua saúde parecia estar por um fio, mas daquela vozinha fina saía uma determinação admirável. 

Jantei com ela, ainda ministra, na casa do caro ministro Patrus Ananias e fiquei empolgado por aquela acreana indomável. Ao nosso lado estava também o senador do mesmo estado, Tião Viana. Aumentava meu interesse o fato de ter duas noras acreanas. Recordo-me de vê-la comer a parte em uma marmita com uma ração pequena de comida especial. Contou-nos de suas lutas incessantes em defesa do meio ambiente e de uma vitória, mudando o projeto da hidroelétrica do rio Madeira, um desenho frio dos tecnocratas de gabinetes, insensíveis à realidade e a suas gentes e até à flora e seus peixes. 

Infelizmente lhe faltou várias vezes o apoio presidencial e a gota d`água quando os assuntos da Amazônia passaram para um ministro de assuntos estratégicos, Mangadeira Unger, totalmente mirabolante, com seu acento gringo e pontificando do alto de sua cátedra em Harvard. De lá escrevia frenético sobre todo o tipo de proposições para um Brasil distante e desconhecido em suas práticas reais. Como antes fez com Erundina, o PT perderia valioso quadro, preferindo, entretanto defender sua nomenclatura aparelhista afundada em contravenções. 

E aí Marina surgiu candidata a presidência como uma nova e prometedora alternativa e teve então seus quase vinte milhões de votos em espólio eleitoral. Levou Dilma ao segundo turno, para gáudio do tucanato, da Veja e de comentadores televisivos que espumam raiva e despeito. Participei de uma luta bem levada, que recordo cheia de ciladas da direita e de religiosos conservadores. Finalmente Dilma Rousseff tornou-se a primeira mulher presidenta a caminho de um segundo mandato. 

Começou então, com Marina Silva, um processo político-psicológico inquietante. Considerou-se dona desse acervo eleitoral, como um patrimônio pessoal permanente, sem levar em conta os vários fatores que influíram no momento da votação. Foi ficando obsessiva, querendo ser novamente candidata a qualquer custo, na base enganosa daquele discutível capital eleitoral, para ela intocado, como uma soma de dinheiro que se guarda num cofre. Quis fazer a tal rede, não tanto com alguma coisa nova mas – não nos deixemos iludir –, principalmente como a base para servir a seus interesses eleitorais. A rede nascia, antes de tudo a serviço das ambições presidenciais de Marina. Agora que a rede não foi aprovada, não sei se optará por um plano B, no PPS, de estranha e triste trajetória. 

O curioso é que ela aí agiu como os políticos tradicionais que criticava. Que são os velhos coronéis senão aqueles que têm a cabresto os votos de seus currais? “Eu sou gente do coronel fulano”, diziam lá na minha terra da fronteira gaúcha os pobres presos por pequenas benesses aos chefetes locais. 

Para ela, os vinte milhões de votos estavam amarrados por fios inquebrantáveis e duradouros no tempo, a serviço de sua ambição eleitoral. É com profunda tristeza e enorme decepção que lembro em amarga ironia, aquela peça de vaudeville: “Greta Garbo acabou quem diria no Irajá”.


Luiz Alberto Gómez de Sousa, sociólogo e ex-funcionário das Nações Unidas, é diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes.

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