Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Menores vivem turbinados pelo cheiro de cola nas ruas de BH

Arnaldo Viana - Estado de Minas

Noite considerada gelada para os padrões de temperatura de BH. Cerca de 15 graus. Encontramos dois dos menores como os olhos quase fechados pelo efeito do tíner. Eles tentam, pela segunda vez, arrombar a porta de madeira, presa com corrente e cadeado, do imóvel que abrigava a casa noturna Pau & Pedra, na Getúlio Vargas. Na primeira, entraram para dormir e satisfazer outras necessidades. A PM os retirou de lá e alguém reforçou a tranca.

Não é possível conversar com os dois, com idade entre 12 e 14 anos. Eles não conseguem. O cérebro está tomado pelo tíner. É quando aparecem Luís, ou Nego, e Guilherme, ou Guigui ou Preto, ambos de 22 anos. “Precisamos entrar. Nossos colchões e cobertores estão aí dentro. Sem eles, como vamos dormir com este frio?”, pergunta Luís, 1,90m, corpo de atleta, dentes perfeitos e, aparentemente, com saúde. Ao lado dele o Guigui, com menos de 1,70m, forte, também sadio e com os dentes bons. Nada que os impeça de trabalhar, se não fosse a vida marginal.

Chega um carro da PM. Um policial desce com um cassetete. Luís e Guigui se afastam. São maiores e não querem correr risco de passar a noite na cadeia. Eles também cheiram tíner, mas não parecem sob efeito de drogas. “Não somos chefes deles. Eles nos seguem, mas não mandamos. Fazem o que querem. Só não deixamos que fumem crack, essa droga do capeta”, afirmam.

Luís está há 11 anos nas ruas, desde a morte do pai. A mãe se casou com outro homem e mudou-se para São Paulo. “Viver com padrasto, de jeito nenhum.” Já teve chance de deixar a sarjeta. Ainda adolescente foi convidado para jogar basquete no Mackenzie. “Fui com o técnico Pio. Fiquei um ano, até o dia em que descobriram que cheiro tíner. Mas se tiver outra oportunidade consigo parar. Ele tem um filho de 3 anos criado pelos avó, pois ele não vive com a mãe da criança. De vez em quando, sai com o menino pelas ruas.

Guigui, há oito anos na rua, ainda não é pai, mas tem mulher, também moradora das calçadas. “O maior problema na rua é o frio”, diz. “E a polícia também”, completa Luís. “A gente almoça, às vezes, no Restaurante Popular. À noite, umas ‘tias’ distribuem sopa e até remédio.” Em nenhum momento admitem voz de comando sobre os menores. “A gente ficava lá perto do Restaurante Popular (na Avenida do Contorno, região da Lagoinha). Mudamos para a praça e eles nos seguiram.”
Na Praça ABC, eles dormiam sob a marquise da extinta padaria. Um comerciante jogou creolina no lugar para afastá-los. Por isso procuraram abrigo no galpão do antigo Pau & Pedra. Banho, só nas fontes públicas. “Dinheiro a gente pede. Nunca matei nem roubei”, diz Guigui.

“Meu sonho é ter uma casinha, nem que seja pequena. Uma senhora que mora aqui na região disse que ia tentar nesse negócio aí de Minha casa, Minha Vida (programa do governo federal), para eu pagar R$ 109 por mês”, diz Luís. Ele estudou até a quinta série e acredita que pode ganhar a vida no basquete ou como motorista. Guigui também pensa numa casa para morar com a mulher: “Se tiver oportunidade posso trabalhar de porteiro e sei lavar carro. Já fiz isso.”

Enquanto a vida não muda, se é que vai mudar para eles, Luís e Guigui voltam para a Praça ABC. Ocupam agora o passeio do outro lado da padaria, no cruzamento com a Rua Cláudio Manoel, longe do cheiro da creolina. Espalhados, meninos e meninas, desligados da realidade pelo tíner, continuam deixando de cabelo em pé comerciantes, clientes e pedestres.


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