Trabalho de proteção de nascentes ajuda a garantir água em MG
A grande estiagem do verão no Sudeste nos últimos dias provocou a realização
de uma campanha para economizar água na Grande São Paulo. Extrema, em
Minas Gerais, aposta na proteção das nascentes para garantir o estoque de
água. O município está ganhando fama mundial com o Programa Conservador
das Águas, o projeto recebeu o prêmio da ONU de melhores práticas
ambientais no planeta.
São Pedro foi mais uma vez acusado de negacear com as chuvas. Na terra, o
grande vilão da vez é o conjunto de represas chamado de Sistema Cantareira,
acusado de baixar o nível. O cabeça do complô seria o reservatório Jaguari, o
coração do sistema que nos últimos dias mostrava as gengivas e parte dos
fundos com menos de 10% da capacidade, assombrando com a falta d’água a
região metropolitana de São Paulo.
Mas, a responsabilidade material seria do
Rio Jaguari, que corre na divisa entre São Paulo e o sul de Minas, e é principal
alimentador do sistema. Ele é bebido inteirinho pela população paulistana.
O Rio Jaguari é caudaloso na época de chuva e verte por toda cortina de
pedra. Nos picos de cheia alcança uma vazão de até 200 mil litros por
segundo. A vazão média do rio é de 22 mil litros por segundo. Em um dia
nessa semana a vazão foi de 1.350 litros, quando o Jaguari contribuiu com o
Sistema Cantareira com apenas 6% do que costuma levar. O Rio Jaguari é
abastecido pela água que vem das nascentes.
O Sistema Cantareira conta com
aproximadamente dez mil nascentes.
O Rio Jaguari engrossa e ganha corpo na divisa paulista de Joanópolis com
Extrema, no extremo sul de Minas. O município está ganhando fama mundial
com o Programa Conservador das Águas, um projeto de proteção de
nascentes que, entre tantos prêmios, levou o troféu da ONU de melhores
práticas ambientais no planeta.
A grota pioneira do programa tinha sido desmatada e formada de pasto.
Em
2008, foi concluído o trabalho de cercada e replantio. Hoje, o lugar é um vistoso
capoeirão revigorado. “Ela está com 60% da vazão original, da vazão média.
Ela teve um pouco da sua capacidade, mas está uma nascente viva”, diz o
secretário de Meio Ambiente de Extrema, Paulo Pereira.
O programa de Extrema reconhece o proprietário rural como prestador de
serviços ambientais já que ele abre mão de ter lucro em áreas protegidas para
garantir um bem comum que é a água. A chuva quando cai em terreno limpo
corre direto para o rio e logo volta para o mar.
Em áreas conservadas, a água
se infiltra no solo, forma bolsões freáticos na montanha, por exemplo, encharca
o solo e o subsolo. Depois, vai se liberando devagar pelas nascentes,
garantindo o abastecimento nos períodos secos.
O proprietário inscrito no
projeto ganha por ajudar a estocar água.
A propriedade de João Batista de Oliveira tem 122 hectares no Programa
Conservador das Águas. Ele foi um dos primeiros produtores a participar do
projeto na região e recebe atualmente cerca de R$ 2,3 mil por mês como
compensação. “A água para o gado não falta, mas o volume caiu 40%”, diz.
O criador Hélio de Lima é proprietário de 90 hectares na serra da Mantiqueira.
Praticamente a metade do local é coberta de mata que compõe um mosaico de
pasto e áreas de roça com grotas sadias. “Hoje, temos água. Nove minas todas
preservadas. Nenhuma secou”, diz.
As nascentes da fazenda fornecem água capaz de abastecer seis mil pessoas
na cidade de São Paulo.
O criador poderia ter mais 30 ou 40 cabeças de gado
nas áreas reflorestadas. Ele recebe R$ 1,6 mil de compensação. Mas, não tem
nada que pague ver as minas perenes.
Nas áreas com reservas de mata as nascentes sofreram menos com a inédita
estiagem de verão, o que reforça uma lição que parece ter sido esquecida por
parte da população. Como o alimento que vem da fazenda, a água consumida
na maioria das cidades brasileiras também é produzida na propriedade rural.
O município de Extrema já conta com 7,5 mil hectares no Programa
Conservador das Águas e avança ao ritmo de plantio de 800 mudas por dia na
meta de agregar 150 hectares ao ano. Na composição do Sistema Cantareira,
o programa participa com apenas 7% das nascentes. Mas, segundo o
secretário Paulo Pereira, tem um balanço positivo.
O programa de Extrema foi inspirado no modelo de Nova York, nos Estados
Unidos.
Há 25 anos, ao invés de gastar bilhões em reservatórios, o estado
optou por investir milhões em propriedades que produzem água a 200
quilômetros de distância.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp)
abastece a Grande São Paulo.
O coordenador de mananciais Ricardo Araújo
disse que a empresa já plantou R$ 1,3 milhão de mudas para melhorar o
Sistema Cantareira, mas não tem planos, no momento, de pagar compensação
aos proprietários rurais, como acontece em Extrema. Em Brasília, há projeto
que cria uma política nacional de pagamento por serviços ambientais parado
na Câmara Federal.
AmbienteBrasil (Fonte: Globo Rural)