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quinta-feira, 24 de março de 2016

Manual da PM condena 'excesso de violência' de policiais em estádios


Diego Garcia, do ESPN.com.br
REGINALDO ALVES DE CASTRO/GAZETA PRESS
Polícia Militar vem tendo constantes confrontos com torcida do Corinthians
Polícia Militar vem tendo constantes confrontos com torcida do Corinthians
O Manual de Controle de Distúrbios Civis da Polícia Militar é claro quanto a como deve ser a ação da PM em eventos públicos: "evitando ao máximo o uso de violência". Só que vários pontos importantes do documento oficial foram aparentemente descumpridos no último sábado, quando uma "ação de guerra" - definição dada por torcedores em redes sociais - ocorreu na Arena Corinthians, com uso de bombas de efeito moral, gás de pimenta e violência.
Datado de julho de 1997 e assinado pelo então coronel da PM, Carlos Alberto da Costa, o Manual possui 102 páginas e foi analisado pela reportagem da ESPN.
Segundo o mesmo, sua finalidade é "Regular as questões de doutrina, de instrução e emprego das unidades ou frações que tenham por missão o controle de distúrbios civis no âmbito da Polícia Militar do Estado de São Paulo", em conceitos como aglomeração de pessoas, multidões, manifestações, perturbações da ordem pública, calamidades e tumultos.
O tópico número 3, "Prioridade no Emprego dos Meios", trata basicamente sobre como devem proceder as tropas da polícia diante de cada situação. E é bem claro em seu item 3.2: "evitando ao máximo o uso de meios violentos". Como também mais abaixo, no 3.2.2.1: "Caso se tenha conhecimento de armas de fogo e predisposição ferrenha em agir contra a ação policial recomenda-se suspensão de demonstração de força, substituindo-a por um ataque com armamento químico ou utilização de viaturas blindadas".
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Torcedora filmou confronto entre PM e corintianos no domingo; assista
O tópico 3.2.3 trata da ordem de dispersão e exige da tropa o uso "de amplificadores de som, alto-falantes das viaturas ou megafones para incitar os manifestantes a abandonarem pacificamente o local. Essa proclamação deve ser feita de modo claro em termos positivos e incisivos. Os manifestantes não devem ser repreendidos, desafiados ou ameaçados".
Mais abaixo, o ponto 3.2.4 pede pelo "recolhimento de provas", que consiste em "fotografar ou filmar todos os fatos ocorridos para posterior apresentação. A ameaça que tal atitude faz à identidade dos líderes e agitadores, a perda do anonimato, causa forte impacto pela temeridade de posterior identificação". Em seguida, pede-se que o mesmo recolhimento de provas seja feito por civis. Mas, nesse caso, o "tiro sai pela culatra" da PM, pois todos os vídeos postados em redes sociais sobre a confusão de sábado mostram truculência dos policiais contra pessoas desarmadas, com famílias e crianças em meio a torcedores comuns e organizados.
Em seguida, o 3.2.8 pede pela "detenção de líderes" com ajuda de tropas de apoio e equipes encarregadas dessas detenções. Mas, segundo o capitão André Luiz Figueiredo Zaccaro, da PM paulista, apenas duas pessoas foram detidas após os confrontos.
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Antero critica ação da PM após jogo do Corinthians: 'Está na hora de parar; deixa o torcedor se manifestar'
VERSÃO DA TORCIDA
Segundo vários torcedores ouvidos pela reportagem, o que ocorreu foi que a torcida apenas entoou gritos de "Polícia opressora" e acabou sendo repreendida com violência, bombas e gás de pimenta. Vários corintianos confirmaram essa versão à ESPN. Nas redes sociais, tanto em Twitter quanto Facebook, é possível ver vários relatos dizendo o mesmo.
Em forma de anonimato, uma torcedora que estava presente no sábado deu um depoimento à reportagem contando o que aconteceu.
"No fim do jogo, o pessoal começou a gritar 'PM opressora', coisas assim, nada muito ofensivo, só isso mesmo. Falamos da Federação Paulista, do Capez, são protestos que estão acontecendo desde o começo do campeonato, e desde o começo do campeonato estamos apanhando. E subimos, fomos embora, no jogo de sábado. Esperaram a gente embora e quando estávamos no acesso, lá fora, eles vieram para cima. E eles têm armas, eles têm cassetetes, e aí chegaram batendo, batendo em pessoas que estavam andando, mandando ir embora. Então, quando acabou o jogo, o pessoal estava subindo e a PM já estava lá em cima, foi tudo orquestrado por eles. Já estavam esperando. E quando o pessoal subiu, com crianças, todo mundo para ir embora na paz, aí começou a pancadaria deles, eles vindo para cima dos torcedores, simplesmente porque a gente estava cantando. E aí foi bomba, foi gás de pimenta, foi cassetete, eles gritando e chamando as mulheres de vagabunda, de vadias, me xingaram também, estou com a perna queimada. Levei com cassetete também porque foram agrediram um cara que estava passando e racharam a cabeça dele. Fomos defender, caiu celular, muita gente perdeu tênis, eu mesma perdi o sapato e tive que ir descalça para a minha casa. É muito complicado, tentava ter um diálogo com eles e já chegavam batendo. Eles falam que o protesto é democrático e que pode ter, a Federação liberou a gente a protestar, e é esse tipo de tratamento que temos. Todo jogo é medo, pânico, não queremos mais levar crianças e gente de idade por conta desse absurdo, porque temos medo, virou guerra", disse a corintiana E.P., 30 anos, que pediu anonimato com medo de represálias da PM.
LADO DA POLÍCIA MILITAR
Em entrevista à ESPN no último sábado, o capitão André Luiz Figueiredo Zaccaro disse que torcedores da Gaviões tentaram agredir policiais no portão de saída. Segundo ele, os PMs pediram apoio, mas do lado de fora haviam torcedores preparados com paus, pedras e garrafas para agredir os policiais. A reportagem não encontrou imagens dessas alegações.
Zaccaro ainda rejeitou rivalidade com a Gaviões da Fiel devido aos protestos recentes contra o governo, e também por briga com a PM após o jogo com o Cerro Porteño. Ele acrescentou que três policiais saíram feridos da confusão de sábado. As versões do capitão e dos torcedores, portanto, são bem diferentes.
ESPN ainda pediu resposta à PM sobre o descumprimento do Manual de Controle de Distúrbios Civis durante a ação do último sábado. E o Batalhão respondeu explicando o tumulto em nota oficial enviada à reportagem.
"A Polícia Militar do Estado de São Paulo, através do 2º Batalhão de Polícia de Choque, no último sábado (19) realizou o policiamento no jogo entre Corinthians X Linense, na Arena Corinthians, pelo Campeonato Paulista de Futebol, Série A-1. O evento contou com o público de 31.532 pessoas e transcorreu de maneira pacífica.
Ao término do jogo, no momento de saída do público da Arena, no Portão "O" (esplanada) de acesso da Torcida Organizada Gaviões da Fiel, alguns torcedores, sem motivo aparente, agrediram três policiais militares. Estes, conforme os protocolos e treinamentos, solicitaram apoio e tentaram detê-los. Outros torcedores vieram a agredir e lançar objetos contra aqueles policiais.
Houve a necessidade da pronta intervenção, de maneira pontual, para restabelecimento da Ordem Pública. Esta atuação foi pautada nas técnicas, táticas e procedimentos de Controle e Gestão de Tumultos em Espetáculos Públicos.
Importante destacar que desta ação não restaram torcedores feridos, entretanto três policiais militares foram lesionados, dos quais uma policial feminina com fratura no braço.
Houve a prisão, pelo policiamento territorial, de dois torcedores diretamente envolvidos no tumulto, que foram conduzidos ao plantão policial para registro cartorário.
O 2º BPChq desde 1934 realiza policiamento em locais de espetáculos públicos e eventos esportivos, artísticos, culturais e religiosos e tem a expertise nesta modalidade corroborada pela quantidades de público e de eventos realizados ao longo dos anos.
No ano de 2015 realizou o policiamento em 283 (duzentos e oitenta e três) eventos esportivos, com o público total de 3.462.247 (três milhões, quatrocentos e sessenta e dois mil e duzentos e quarenta e sete) pessoas, que usufruíram da segurança e tranquilidade proporcionadas pela Polícia Militar.
Oportuno destacar que as melhores práticas e posturas na Gestão de Grandes Eventos são anualmente transmitidas às demais Forças de Segurança do Brasil, cujos integrantes frequentam o concorrido curso de especialização profissional em Policiamento em Eventos", dizia a resposta da PM.

ESPN.COM.BR
Manual da PM mostra pontos importantes da ação policial que são deixados de lado
Manual da PM mostra pontos importantes da ação policial que são deixados de lado

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