Por Lúcio Alves de Barros*
A violência escolar, devido à sua peculiar invisibilidade em determinados tempos, poderia com poucas ou reduzidas ações chegar ao seu fim ou mesmo ao seu equilíbrio. Apesar de toda discussão em torno da democratização das instituições escolares – o que é até matéria constitucional e está presente na LDB –, fato é que estamos patinando em terreno movediço simplesmente por ignorarmos possibilidades que definitivamente ajudariam na solução do problema.
Uma das possibilidades que poderia fazer parte do cotidiano escolar é a designação de uma potente esfera de negociação de conflitos. Colocar os pares frente a frente ou mesmo professores e alunos para conversar sobre a temática é de crucial importância. A ação é barata: uma sala, uma pessoa que tenha autoridade simbólica em meio às partes e mesas redondas com cadeiras no intuito de fomentar o debate não em relação à ação de X, Y ou Z, mas sim sobre a conjuntura que levou à configuração da violência ou da incivilidade, como querem os estudiosos do assunto.
Outra boa possibilidade é a predição. Evitar o problema antes que ele aconteça não faz parte de nossa cultura. Os brasileiros são recalcitrantes às demandas de evitar o pior. Não por acaso, caem viadutos, encostas, telhados, temos enchentes e crises como a hídrica. Nas escolas não é diferente: salas desleixadas, quadros destruídos, áreas sujas e emporcalhadas, banheiros vergonhosos, muros pichados são amostras de ambientes que inegavelmente interferem na ecologia da violência. Quanto aos alunos, é possível a percepção no dia a dia do seu estresse, dos problemas domésticos que chegam à escola ou da necessidade de auxílio que, por natureza e em algum momento (crianças, adolescentes ou jovens), demandam. O mesmo pode-se dizer dos professores que, adoecidos e estressados, também andam necessitando de ajuda, sempre bem-vinda, seja da direção, seja das famílias dos estudantes.
A violência poderia ser diminuída ou exterminada também com a efetiva e verdadeira participação da família no cotidiano da escola. Especialmente em instituições públicas, as crianças e adolescentes raramente não são esquecidos pelos pais ou responsáveis que justificadamente – em sua grande maioria – precisam trabalhar. Todavia, o trabalho não pode e não deve impedir que os pais deem atenção aos filhos durante o cotidiano de suas tarefas escolares. Mais que isso; é imprescindível que saibam da realidade do filho em toda a sua condição como discente da instituição escolar. Geralmente os pais somente verificam notas e se apresentam quando as relações já estão mais do que tensas e fora dos limites aceitáveis da civilização. O engano reside nessa questão, pois pais avisados e armados vencem a guerra contra a violência com mais tranquilidade e assertividade. Além disso, distribuem a responsabilidade com os professores e ajudam a direção a tomar novas frentes em casos nos quais a escola e as famílias podem caminhar de mãos bem unidas.
Por último, vale frisar uma possibilidade que não é boa: “ligar para o 190”. Criminalizar e judicializar ações violentas de crianças e adolescentes em escolas constituem um retrocesso imenso. Primeiro porque a polícia não está – dentre várias ações – preparada para isso; segundo que a obrigação da solução de um problema na escola é dos atores que vivem o cotidiano escolar e que têm a consciência de como é o modus operandi institucional. Chamar a polícia tornou-se um golpe caro e sério nas organizações escolares, a ponto de escolas ficarem rotuladas de violentas e perigosas. Todos perdem o crédito: a escola, os professores, a direção e os estudantes. De tudo isso, nada como velhas falas e fórmulas em contextos minados, “menos polícia e mais negociação: bom para o aluno, ótimo para a escola”.
* Professor na Faculdade de Educação da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais)
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