Maluf, procurado em 181 países onde será preso se desembarcar, recebe homenagens da elite política. É o fim da picada
Amigos, a coisa não aconteceu agora, foi no domingo anterior ao passado, mas nunca é tarde para exprimir uma indignação.
No caso, minha indignação com a cabulosa presença de parte da elite política brasileira na posse do deputado Paulo Maluf como presidente do PP de São Paulo.
Estavam lá, lépidos e pimpões, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o deputado mais votado do Estado nas eleições passadas, Gabriel Chalita (por enquanto no PSB, mas rumando para o PMDB), o prefeito Gilberto Kassab (PSD), cria política do ex-presidenciável José Serra, e um dos mais duros e implacáveis críticos de Maluf no passado, o ex-deputado tucano e hoje secretário de Energia paulista, José Aníbal – entre outros.
Ordem de captura internacional desde 2007
Amigos, não é possível! Até há pouco, Maluf era tido, visto e apontado como a encarnação do mal, como tudo o que de pior há na política. Agora, é paparicado, em nome de apoios políticos e eleitorais.
É o fim da picada: desde março do ano passado, o ex-prefeito é procurado em todo o planeta pela Interpol, a polícia internacional, e será preso se desembarcar em nada menos do que 181 países do mundo.
Sua ordem de captura foi expedida em 2007 pela Justiça de Nova York sob a acusação de conspiração, fraude e roubalheira de dinheiro público por, como prefeito (1993-197), ter entre outras coisas supostamente desviado recursos das obras da Avenida Jornalista Roberto Marinho (ex-Água Espraiada) para contas em entidades financeiras de Nova York, de onde a dinheirama teria se espalhado para a Suíça, o Reino Unido e o paraíso fiscal britânico da Ilha de Jersey, no Canal da Mancha.
A denúncia na Justiça americana é de responsabilidade do promotor de Nova York Robert Morgenthau, que trabalhou em investigação conjunta com integrantes do Ministério Público paulista desde 2001.
Onde está o pudor em confraternizar com alguém procurado pela Interpol?
Do ponto de vista jurídico estrito, Maluf não foi condenado. Mesmo assim, em minha modesta opinião, esses políticos, especialmente o governador Alckmin, deveria ter algum pudor em confraternizar com alguém que hoje só pode sair do Brasil para visitar a Coreia do Norte, os Estados Federados da Micronésia, as Ilhas Salomão, Kiribati, Palau, Tuvalu e Vanuatu – os únicos países do planeta que não são filiados à Interpol e nos quais, portanto, não vale a ordem internacional de capura de Maluf. (Ele não pode ser preso no Brasil porque o pedido é da Justiça dos Estados Unidos e o país, segundo a Constituição, não concede a extradição de seus nacionais).
O ex-prefeito, que tinha uma suíte permanente no luxuosíssimo Hotel Plaza Athenée de Paris e esteve preso durante 40 dias em 2005 numa carceragem da Polícia Federal, hoje não pode nem atravessar a fronteira em Foz do Iguaçu para dar um pulinho no Paraguai.
E, no entanto, foi enaltecido como homem público e saudado como “grande colaborador” do governo Dilma pelo vice Michel Temer, e saudado pelo governador Alckmin, que disse de sua “alegria” por ter, desde há algumas semanas, o apoio do PP na Assembleia Legislativa – negociado por ele próprio, contra indicações de Maluf para seu governo.
O que diria Mário Covas?
O mentor político de Alckmin, o falecido governador tucano Mário Covas – talvez o mais duro e implacável adversário de Maluf ao longo de sua vida pública – deve estar se revirando no túmulo com a atitude do afilhado.
Tudo de olho nas eleições municipais do ano que vem e nas presidenciais de 2014. O que não se faz, no Brasil, em nome de vencer.
Deliciado, Maluf tinha um sorriso malicioso nos lábios quando, sobre eventuais alianças, disse:
– Nós, que somos do bem, faremos coligação com quem for também do bem.
Vejam a ficha do homem “do bem” no “procura-se” da Interpol:
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