“Meu nome é Barack Obama e eu sou o cara que fez Mark [Zuckerberg] usar terno e gravata”, afirmou o presidente dos Estados Unidos em um encontro com o fundador do Facebook no dia 20 de abril. Sentando ao lado de Zuckerberg, Obama respondeu pela internet perguntas de usuários e funcionários da rede social. O clima no evento era descontraído, com piadas. Antes, Sheryl Sandberg, executiva-chefe de operações da rede social, tinha afirmado: “Mesmo sendo o Facebook, nada de cutucar o presidente”.
A política americana é marcada por algumas uniões fiéis entre certos setores da indústria e partidos políticos. A proximidade entre o Partido Republicano com as indústrias de energia e farmacêutica é um exemplo, mas uma das mais duradouras parceiras entre público e privado nos EUA é a relação entre Hollywood e os democratas. Empresas clássicas do Vale do Silício, como Apple e Microsoft, também costumam ser próximas do Partido Democrata. Mas e as empresas novas - Google, Facebook, Twitter - como se posicionam?
Zuckerberg e o Facebook - menina dos olhos da geração de empresas online pós-bolha -, a primeira vista, não têm um lado definido. Zuckerberg não vota [o voto não é obrigatório nos EUA] e não fez doações nos ciclos eleitorais de 2008 e 2010, de acordo com dados da Comissão Eleitoral Federal americana. Mas Sandberg, que fez a piada sobre cutucar o presidente, é uma democrata assumida: ela é uma democrata registrada e trabalhou no Departamento do Tesouro na administração de Bill Clinton. Fez doações para os democratas na campanha de 2008, quando ainda trabalhava como vice-presidente de vendas e operações globais do Google.
Steve Jobs, diretor-executivo da Apple, e Carol Bartz, diretora-executiva do Yahoo!, também são financiadores de campanhas democratas, assim como Reed Hastings, cofundador e diretor-executivo da Netflix, empresa que aluga DVDs pela internet (e entrega na casa dos usuários) e hoje é também a maior força por trás do mercado de filmes online por streaming, com um total de mais de 22,8 milhões de assinantes. Jeff Bezos, da Amazon, é mais um líder das empresas online que apoiou Obama em 2008.
Várias empresas do mesmo ramo doarem bastante dinheiro para um partido político costuma garantir que alguma parte da agenda legislativa dessa indústria vai ser defendida no Congresso por membros daquele partido. Foi assim que deputados e senadores democratas, na primeira metade da década de 2000, atacavam novas formas de distribuir conteúdo na rede que não estavam de acordo com os ideais de Hollywood. Leis que os democratas tentaram aprovar na época incluiam proibir dispositivos que não tivessem um hardware aprovado pelo governo que tornaria impossível copiar arquivos e proibir que CDs fossem ouvidos em vários aparelhos. Essa tecnofobia chegou a afastar a área tecnológica: nas eleições para o senado em 2002, por exemplo, o dinheiro do Vale do Silício foi divido em dois, em vez de favorecer os democratas.
Proximidade do poder também favorece na hora de fazer lobby. Ao contrário do Brasil, onde a prática é ilegal, o lobby - exercer pressão para tentar influenciar decisões do poder público - é legal e regulamentado nos EUA. Em 2010, o Google foi a terceira empresa de tecnologia que mais gastou com a prática: US$ 5,16 milhões, atrás apenas da Microsoft e da HP. O Yahoo! gastou US$ 2,23 milhões e a Amazon US$ 2,05. Bem atrás, o Facebook aparece com apenas US$ 351 mil. Mas não espere que a história se repita em 2011: desde dezembro do ano passado a empresa está aumentando o escritório em Washington e investindo mais em lobby.
Por outro lado, espere que a história se repita: em 2012, líderes das principais empresas de tecnologia devem financiar a campanha de Obama - junto com Hollywood, duas indústrias que parecem cada vez mais se convergir, tanto na política quanto no mercado.
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