Considerada a maior operação de terrorismo de estado praticada contra a população da América Latina, a Operação Condor ainda está envolta em controvérsia. Os pontos mais obscuros são a data efetiva do início da operação, o grau de participação dos EUA. O consenso é que a operação foi oficializada em reunião realizada no Chile, em 1975. Assinam sua ata de fundação representantes dos governos de Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Chile.
Najla Passos - Brasília
Brasília - Cerca de quarto décadas se passaram e a Operação Condor continua gerando controvérsias. Há polêmica, por exemplo, sobre o início efetivo da articulação que criou uma espécie de estado paralelo na América Latina, com licença para matar os opositores dos regimes ditatoriais. E também sobre o grau efetivo de participação efetiva dos Estados Unidos, a potência mundial, e do Brasil, o “subimpério da região”.
O consenso é que a operação foi oficializada em reunião realizada em Santiago, no Chile, em 1975. Assinam sua ata de fundação representantes dos governos ditatoriais de Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Chile. Entretanto, o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos de Porto Alegre, Jair Krischke, defende que, apesar de não constar na ata, o Brasil foi o criador do pacto. E alguns anos antes.
Segundo ele, há documentos que comprovam as prisões de dois militantes
brasileiros na Argentina, em 1970 e 1971, respectivamente. O primeiro deles é o coronel Jefferson Cardin, líder da primeira ação de guerrilha contra o golpe de 1964. O outro é o jornalista Edmur Péricles Camargo, cujo desparecimento forçado em solo argentino antes do início da vigência do pacto foi denunciado com exclusividade pela Carta Maior.
O advogado, professor e ativista paraguaio Martin Almada acredito que o marco inicial é ainda anterior. Para ele, o golpe de estado, no Brasil, que depôs João Goulart, em 1964, iniciou a primeira fase da Operação Condor, quando a interação entre os aparatos repressivos dos estados envolvidos ainda se dava de forma bilateral. Só mais tarde, com a instalação de ditaduras militares nos demais países, se tornaria multilateral.
O médico, professor e escritor Paraguaio, Alfredo Boccia Paz, minimiza a participação do Brasil no pacto, com base na falta de documentação comprobatória.
Entretanto, o jornalista Luiz Cláudio Cunha, pesquisador do tema, afirma que dois brasileiros estiveram presentes à reunião de Santiago, embora tenham tido o cuidado histórico de não assinar a ata, por ordem do então presidente Geisel: Flávio de Marco e Thaumaturgo Sotero Vaz. Ambos agentes do Centro de Informações do Exército (CIE), militares veteranos, ex-combatentes da Guerrilha do Araguaia.
A diretora do Programa de Estudos sobre a América Latina da Long Island University de Nova Iorque, Patrice McSherry, acredita que a Condor teve início, de fato, entre 1973 e 1974, com o início das conferências dos exércitos americanos, patrocinadas pelos Estados Unidos, com o objetivo de proteger o continente das ações do comunismo internacional. “A Condor começou como aparato paralelo, mais formalizado, entre 73 e 74. Antes havia intercâmbios entre os exércitos, mas não era uma ação tão organizada”, afirmou.
Segundo ela, a operação foi articulada como com o objetivo de unificar as forças militares para impedir que governos esquerdistas chegassem ao poder e para exterminar os movimentos de esquerda. “O sistema transnacional da Condor silenciou até mesmo os indivíduos que haviam conseguido escapar das ditaduras dos seus países”, disse.
A pesquisadora norte-americana atesta, também, que a participação dos Estados Unidos é evidente. Documentos já desclassificados pela CIA comprovam que o país foi responsável, por exemplo, por fornecer um sistema de comunicação codificado, com base no Panamá, que permitia a rápida e eficiente troca de informações entre as ditaduras. “Os Estados Unidos tinham conhecimento de todo o conteúdo das conversas”, afirma.
Ela afirma, ainda, que própria estrutura da operação foi montada de modo a dificuldar investigar posteriores e, assim, garantir a impunidade dos seus executores. “A Condor criou um estado paralelo, com veículos e aparatos sem identificação, centros de tortura e cemitérios clandestinos, uma estrutura de comunicação coficada, utilização de espiões civis e esquadrões da morte paramilitares”, relatou.
Entretanto, tanto ela quanto vários outros participantes ressaltaram que, apesar dos cuidados para manter os aparatos repressivos fora da estruturas regulares dos governos, há registros disponíveis que podem ajudar a esclarecer os fatos, como os documentos já desclassificados pela CIA que tratam do apoio norte-americano às ditaduras da América do Sul. Ou mesmo os documentos do chamado “Arquivo do Terror”, descobertos no Paraguai pelo ativista Martin Almada, que também participou do evento.
O consenso é que a operação foi oficializada em reunião realizada em Santiago, no Chile, em 1975. Assinam sua ata de fundação representantes dos governos ditatoriais de Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Chile. Entretanto, o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos de Porto Alegre, Jair Krischke, defende que, apesar de não constar na ata, o Brasil foi o criador do pacto. E alguns anos antes.
Segundo ele, há documentos que comprovam as prisões de dois militantes
brasileiros na Argentina, em 1970 e 1971, respectivamente. O primeiro deles é o coronel Jefferson Cardin, líder da primeira ação de guerrilha contra o golpe de 1964. O outro é o jornalista Edmur Péricles Camargo, cujo desparecimento forçado em solo argentino antes do início da vigência do pacto foi denunciado com exclusividade pela Carta Maior.
O advogado, professor e ativista paraguaio Martin Almada acredito que o marco inicial é ainda anterior. Para ele, o golpe de estado, no Brasil, que depôs João Goulart, em 1964, iniciou a primeira fase da Operação Condor, quando a interação entre os aparatos repressivos dos estados envolvidos ainda se dava de forma bilateral. Só mais tarde, com a instalação de ditaduras militares nos demais países, se tornaria multilateral.
O médico, professor e escritor Paraguaio, Alfredo Boccia Paz, minimiza a participação do Brasil no pacto, com base na falta de documentação comprobatória.
Entretanto, o jornalista Luiz Cláudio Cunha, pesquisador do tema, afirma que dois brasileiros estiveram presentes à reunião de Santiago, embora tenham tido o cuidado histórico de não assinar a ata, por ordem do então presidente Geisel: Flávio de Marco e Thaumaturgo Sotero Vaz. Ambos agentes do Centro de Informações do Exército (CIE), militares veteranos, ex-combatentes da Guerrilha do Araguaia.
A diretora do Programa de Estudos sobre a América Latina da Long Island University de Nova Iorque, Patrice McSherry, acredita que a Condor teve início, de fato, entre 1973 e 1974, com o início das conferências dos exércitos americanos, patrocinadas pelos Estados Unidos, com o objetivo de proteger o continente das ações do comunismo internacional. “A Condor começou como aparato paralelo, mais formalizado, entre 73 e 74. Antes havia intercâmbios entre os exércitos, mas não era uma ação tão organizada”, afirmou.
Segundo ela, a operação foi articulada como com o objetivo de unificar as forças militares para impedir que governos esquerdistas chegassem ao poder e para exterminar os movimentos de esquerda. “O sistema transnacional da Condor silenciou até mesmo os indivíduos que haviam conseguido escapar das ditaduras dos seus países”, disse.
A pesquisadora norte-americana atesta, também, que a participação dos Estados Unidos é evidente. Documentos já desclassificados pela CIA comprovam que o país foi responsável, por exemplo, por fornecer um sistema de comunicação codificado, com base no Panamá, que permitia a rápida e eficiente troca de informações entre as ditaduras. “Os Estados Unidos tinham conhecimento de todo o conteúdo das conversas”, afirma.
Ela afirma, ainda, que própria estrutura da operação foi montada de modo a dificuldar investigar posteriores e, assim, garantir a impunidade dos seus executores. “A Condor criou um estado paralelo, com veículos e aparatos sem identificação, centros de tortura e cemitérios clandestinos, uma estrutura de comunicação coficada, utilização de espiões civis e esquadrões da morte paramilitares”, relatou.
Entretanto, tanto ela quanto vários outros participantes ressaltaram que, apesar dos cuidados para manter os aparatos repressivos fora da estruturas regulares dos governos, há registros disponíveis que podem ajudar a esclarecer os fatos, como os documentos já desclassificados pela CIA que tratam do apoio norte-americano às ditaduras da América do Sul. Ou mesmo os documentos do chamado “Arquivo do Terror”, descobertos no Paraguai pelo ativista Martin Almada, que também participou do evento.
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