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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Demóstenes: “O que aconteceu comigo pode acontecer com outro senador”

No segundo discurso que fez em sua defesa, o senador goiano faz um apelo corporativo, ao mandar para os colegas o recado de que amanhã eles também poderão estar na mesma situação que ele

Valter Campanato/ABr
"Bola da vez". Demóstenes tenta sensibilizar os demais senadores, dizendo que eles poderão amanhã estar em situação semelhante à dele
Alvo de processo por quebra de decoro parlamentar, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) fez o segundo discurso da série de oito pronunciamentos prometidos até o próximo dia 11, uma quarta-feira, quando será julgado em votação secreta em plenário. A exemplo do que aconteceu ontem (segunda, 2), quando negou envolvimento com a quadrilha do contraventor goiano Carlinhos Cachoeira (tudo sobre o caso), preso desde 29 de fevereiro, Demóstenes tentou desqualificar os autos das operações Vegas e Monte Carlo, trabalho conduzido pela Polícia Federal há pelo menos três anos. E disse que, se é ele quem hoje enfrenta acusações, amanhã poderá ser qualquer um de seus pares.
Novamente, Demóstenes falou para um plenário praticamente vazio. Como aconteceu ontem (segunda, 2), menos de dez dos 81 senadores testemunharam o pronunciamento: Pedro Simon (PMDB-RS), Pedro Taques (PDT-MT), Paulo Paim (PT-RS), Paulo Davim (PV-RN), João Capiberibe (PSB-AP), Lídice da Mata (PSB-BA) e Sérgio Petecão (PSD-AC). O deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA) também estava em plenário durante o discurso. Somente depois que Demóstenes terminou seu pronunciamento é que começaram a chegar outros senadores, como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Gim Argello (PTB-DF), José Pimentel (PT-CE) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA). Demóstenes repetiu a estratégia de deixar o plenário pelo elevador privativo do cafezinho, sem falar com a impresa.
Para o senador, as gravações que o incriminam e constam dos autos encaminhados ao Supremo Tribunal Federal (STF) são ilegais, porque não haviam sido autorizadas previamente pela corte, como determina a Constituição. Além disso, argumentou o senador, as escutas telefônicas estão editadas, montadas e até mesmo adulteradas, o que desqualificaria a acusação.
“O que o policial decidiu que era certo, virava certeza indiscutível. Para dar um exemplo prosaico, se, numa conversa de terceiros, alguém se referisse a outrem com apelido de ‘gordo’ ou ‘gordinho’, o policial que transcreveu colocava na frente, entre parênteses: Demóstenes, em maiúsculas. Se a alcunha fosse ‘doutor’, escrevia Demóstenes também. Se falasse a palavra ‘professor’, nem vacilava, Demóstenes entre parênteses”, apontou o congressista goiano, que trocou o tom emotivo do discurso de ontem pela retórica orientada por expressões técnicas como “tira hermeneuta”, que se refere ao policial que interpreta textos e contextos segundo orientações pré-estabelecidas.
“O tira hermeneuta, de propósito, só colocou no papel o que julgou conveniente para a campanha de demolição da minha honra”, acrescentou Demóstenes, dizendo-se confiante na sua absolvição, em julgamento que se dará por meio de voto secreto.
“Bola da vez”
A certa altura do discurso, Demóstenes fez lembretes velados ao lembrar que, se atualmente é ele a enfrentar a “estratégia de moer reputação”, um dia pode ser qualquer um que exerça cargo eletivo. “Hoje eu sou a bola da vez. Se a tramoia der certo comigo e me amputar o mandato, daqui a pouco pode se repetir com outra vítima, um outro senador”, avisou o parlamentar, em menção que remete à absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF),  que se livrou da cassação em agosto de 2011, em julgamento de quebra de decoro movido depois da divulgação de vídeo em que ela aparece recebendo dinheiro de propina. À época, deputados recorreram ao sigilo do voto para salvar a deputada, como moeda de troca para retribuição caso a situação se invertesse, eventualmente.
Demóstenes apelou também para o espírito de corpo que também salvou o mandato de Renan Calheiros (PMDB-AL), em setembro de 2007 (relembre). “Foi dito à exaustão que fica mal para o Senado me absolver. A leitura atenta dos autos indica o contrário. O que fica mal para o Senado é validar agressões à Constituição e ao seu guardião, o Supremo Tribunal Federal”, argumentou o senador, promotor público licenciado e ex-secretário de Segurança Pública de Goiás.
Por fim, Demóstenes voltou a pedir para ser julgado por seus atos como parlamentar, e não por suas palavras grampeadas pela PF ou pelo que tem sido veiculado na imprensa. E voltou a atacar os procedimentos investigatórios partilhados por autoridades policiais e membros do Ministério Público Federal – ele se queixou da falta de atenção conferida por parlamentares do Conselho de Ética do Senado e da CPI do Cachoeira à perícia encomendada pela defesa em alguns dos áudios do inquérito.
“Perícia não é uma modalidade de enrolação da defesa, não é uma filigrana para postergar julgamento. Perícia é uma ciência a serviço da Justiça. Como avançou a tecnologia de grampear telefone, houve significativas melhoras no pessoal, nas técnicas e nos equipamentos de perícia. Para me investigar ilegalmente se utilizou tecnologia de ponta. Para me punir estão sendo usados métodos medievais. Existir bode expiatório é indigno do Senado da República”, concluiu o parlamentar goiano, que teve processo de cassação contra si aprovado por unanimidade no Conselho de Ética, no último dia 25.

Colaborou Mariana Haubert.

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