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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Estudantes chilenos afirmam que não confiam no governo

 

Estudantes decidem retomar o diálogo com o governo de Sebastián Piñera, mas anunciam que isso não significam o fim das mobilizações. Lideranças estudantis dizem não confiar no governo e criticam as condições que o Palácio de La Moneda colocou para as negociações, entre elas, a normalização de todas as atividades acadêmicas. Uma nova marcha foi convocada para esta quinta-feira em Santiago e outras cidades do país.

Na terça-feira, após mais de 10 horas de reunião, os representantes das 36 federações que formam a Confederação de Estudantes do Chile (Confech), encabeçados por Camila Vallejo, da Universidade do Chile, e Giorgio Jackson, da Universidade Católica, decidiram retomar o diálogo com o governo de direita de Sebastián Piñera, representado por seu ministro da Educação, Felipe Bulnes. Isso, no entanto, não significa o fim das mobilizações, pois o pleno universitário deixou a critério de cada federação encerrar ou não o primeiro semestre (para não perder conclusões de curso e créditos), mas chamou a que todos não voltem às aulas no segundo semestre se não houver avanços na mesa de negociações com o governo.

Os “pinguins”, estudantes secundaristas, também concordaram em sentar à mesa de negociação com Bulnes, desde que o ministro dê “as garantias mínimas” para negociar. Estas são: flexibilidade nos prazos para terminar o semestre acadêmico, frear o ritmo de discussão das iniciativas educacionais que estavam no Congresso Nacional e tornar públicas as atas dessas tratativas. No entanto, a menos de 24 horas desta decisão, os estudantes reconheceram “não confiar no governo” e criticaram as condições que o Palácio de La Moneda colocou para as mesas de trabalho.

“Valorizamos a disposição ao diálogo”, disse o ministro Bulnes, acrescentando, porém, que era fundamental “normalizar as atividades acadêmicas o quanto antes”.

Essas palavras não caíram bem no interior da Confech: “O governo, através do ministro, assinala que quer um diálogo sem condições, no entanto, a condição é encerrar o semestre e iniciar o segundo”, manifestou Camila Vallejo. “Ele nos diz que quer avançar com o movimento e que apoiam nossas demandas, no entanto, assinala que nós não podemos incidir na lei do orçamento (da nação, em 2012)”, acrescentou a dirigente universitária.

Neste sentido, precisou que nesta quinta assistirão à reunião com o ministro da Educação, mas mantendo a postura de que “o movimento segue”. Neste cenário, Camila Vallejo ratificou o chamado para uma nova marcha convocada para esta quinta em Santiago e nas principais cidades do país.

Na quinta passada, mais de 200 mil pessoas saíram às ruas no Chile mais uma vez para protestar por melhorias na educação, jogando por terra a estratégia do governo de apostar no desgaste do movimento estudantil que demonstrou que as reivindicações dos jovens seguem fortes.

Neste cenário, na terça-feira, também se conheceu a última pesquisa do Centro de Estudos da Realidade Contemporânea (CERC) que revelou que a aprovação da gestão do presidente Sebastian Piñera caiu para 22% (13 pontos a menos do que o índice registrado em maio), enquanto que o nível de desaprovação subiu de 53% para 66% no mesmo período em que vem ocorrendo o conflito estudantil.

A pesquisa revelou também que em todos os estratos sociais a educação é o principal problema do país. Cerca de 89% apoiam as demandas estudantis e 71% estão a favor de efetuar um plebiscito para solucionar este problema. Além disso, a pesquisa mostrou que, para 37% dos entrevistados, o governo não está interessado em resolver o problema e que só está preocupado em “ganhar a batalha” frente aos estudantes.

Com esses números – e terminada a modorra das festas patrióticas (18 e 19 de setembro) e o impacto da tragédia aérea em Juan Fernández – a mais o incêndio provocado pelo prefeito da acomodada comunidade de Providencia, o coronel do Exército Cristian Labbé, que decretou o fechamento dos colégios e a negativa de matrícula para alunos distantes de sua jurisdição, não coube ao ministro da Educação, Felipe Bulnes, outra coisa do que negociar com muito tino e cuidado.

A boa notícia do dia chegou ao final da quarta-feira, quando os quatro
estudantes secundaristas de três colégios de Santiago decidiram terminar a greve de fome que vinham mantendo. Entre os estudantes, estavam duas alunas do colégio Darío Salas, que estavam em jejum há 71 dias. Elas anunciaram sua decisão acompanhados por representantes da Confech, entre eles Camila Vallejo e Giorgio Jackson, na frente do prédio central da Universidade do Chile, onde estavam pernoitando desde a semana passada.

A decisão foi anunciada por Maura Roque, grevista do Darío Salas, que explicou que decidiram encerrar a greve diante da “vontade dos dirigentes estudantis de não excluir nenhuma organização da mesa de trabalho com o governo".

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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