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segunda-feira, 18 de abril de 2016

Pesquisadores dizem que não há solução mágica para crise no país

Cientistas políticos analisam cenários com e sem impeachment


   
POR LUIZA SOUTO E STELLA BORGES 

A Presidente Dilma Rousseff Foto: André Coelho / Agência O Globo

SÃO PAULO -Independentemente do resultado da votação em que deputados decidem neste domingo pelo afastamento ou pela permanência da presidente Dilma Rousseff, o país seguirá enfrentando dificuldades para sair principalmente da crise financeira. É o que analisam cinco cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, num panorama em que desenham os dois cenários. Para eles, não há solução mágica para resolver questões como o desemprego e a corrupção num curto espaço de tempo. Ao mesmo tempo, há quem lembre que um eventual mandato de Michel Temer não tem simpatia do eleitorado. A manutenção da petista acarreta, entre outras medidas urgentes, convencer a população a voltar a acreditar no PT, apontam os analistas.

WAGNER DE MELO ROMÃO
JOSÉ ÁLVARO MOISÉS
CARLOS ALBERTO DE MELO
HILTON CESÁRIO FERNANDES
CLÁUDIO COUTO
WAGNER DE MELO ROMÃO

Se for barrado:

“Se a presidente Dilma permanecer no cargo, ela terá que buscar as forças políticas e sociais do país, incluindo setores do empresariado e dos movimentos sociais, e liderar um pacto de recomposição do governo, de base aliada no Congresso e de projeto de país para curto e médio prazos. Penso que é mais fácil que o PT e sua base aliada aceitem uma eventual derrota, mas o pedido de impedimento não se sustenta juridicamente. Além disso, basta conhecer um pouco os procedimentos orçamentários neste país para ver que não há crime de responsabilidade no que imputam à presidente.”

Se não for barrado:

“Se Temer assume, terá de compor sua base em diálogo com a atual oposição e adotar ‘pacote’ de medidas imediatas para ganhar legitimidade, pois no momento não possui quase nenhuma. Se ele e Cunha forem derrotados, a tendência é que se prolongue o posicionamento de derrotar o atual governo a qualquer custo. A próxima trincheira tende a ser o TSE. Mas, para que essa ‘saída’ se torne viável, seria necessário desprezar o PMDB, o que traz grande complicador para o atual campo contrário ao governo. É aí que a articulação de Dilma e Lula com setores ‘de fora’ do campo político-partidário poderia lhes dar algum fôlego.”

Wagner de Melo Romão é professor de ciência política da Unicamp

JOSÉ ÁLVARO MOISÉS

Se for barrado:

“Se não passar o impeachment, Dilma tem três grandes desafios aos quais terá de responder: primeiro, reconstruir as condições de governabilidade, porque houve debandada de partidos. Ela criou muitos conflitos, hostilizou o PMDB, e a oposição não teria condições para diálogo. O segundo desafio seria colocar a economia para funcionar de novo, e isso implica medidas duras e recessivas. O ajuste fiscal do início do ano passado ficou pela metade com a saída de Joaquim Levy. Como fazer isso sem mexer nos programas sociais? O terceiro desafio são as denúncias de corrupção que afetam seu governo, e as irregularidades na campanha.”


Se não for barrado:

“Em caso de impeachment, Temer vai, de cara, confrontar-se com a maior crise política desde os anos 80. A população está desconfiada de todos os políticos. O primeiro desafio seria como formar um governo sem concessões de fisiologismo. Numa democracia, é normal os políticos fazerem acordos. O que não é normal é que os acordos sejam feitos longe dos olhos do público como está acontecendo esses dias com Temer, em reuniões com os políticos negociando cargos. Ele vai ter de ser um líder baseado nos critérios de transparência, explicar qual vai ser o papel de cada partido. Também terá de assegurar que vai combater a corrupção.”

José Álvaro Moisés é cientista político da USP

CARLOS ALBERTO DE MELO

Se for barrado:

"Nenhum processo de impeachment é positivo. Pode ser inevitável, mas positivo é a normalidade. Agora, a manutenção de Dilma significa a continuação da crise. Será muito difícil ela conseguir retomar o processo. Terá de mostrar que tem mais a população ao lado dela do que a oposição, estancar a Lava-Jato, reconstituir maioria na Câmara e no Senado, e dar resposta eficaz, urgente e imediata para a economia. E hoje ela não consegue fazer essas quatro coisas. Ao mesmo tempo, ter visão otimista de um governo sem ela e imaginar que, com impeachment, tudo se resolve num passe de mágica é quase infantil. Vamos continuar tendo problemas."

Se não for barrado:

“Sem Dilma não significa que a crise acabou. Primeiro, Temer parte de uma oposição a ele de 20%. Você tem negação a Dilma, mas não tem apoio a Temer. E há grande problema fiscal no Brasil que precisa ser resolvido, e não será com medidas conciliatórias. Isso vai exigir características e capacidades que não podemos afirmar que ele tenha. Ele não vai romper com tudo aquilo que se critica no sistema político. Quando se troca PT pelo PMDB, não se está fazendo troca moral com ganho evidente. O que se pode ter é ganho operacional de alguma monta, supondo que operadores do PMDB sejam mais eficazes, mas também é duvidoso.”

Carlos Alberto de Melo é cientista Político e professor do Insper

HILTON CESÁRIO FERNANDES

Se for barrado:

“Se Dilma continuar, começará um movimento na sociedade muito mais forte do que teve até agora, pelo sentimento de desesperança. Ela terá dificuldade de recompor o governo. Mas o PT ganhará força, porque virá de uma vitória, mesmo bastante abalado. Provavelmente tentarão retomada com os movimentos sociais e sindicatos, grupos mais próximos do partido. Mas é certo também que haverá descontamento da população, que espera solução mágica. Dilma enfrentará outros processos, o principal será a cassação da chapa de 2014, que está no TSE. De qualquer forma, é vitória, mas terá ainda outras batalhas.”


Se não for barrado:

“O que vejo na população é o desejo de que a presidente saia e de que o novo governo seja reconstruído, como se a grande culpada fosse Dilma. Mas Temer também não tem apoio da população se não conseguir fechar com os partidos. Certamente vai sofrer a mesma coisa que Dilma. O PT ainda tem base muito forte. E tem o agravante de Temer ser visto como conspirador, o símbolo do que chamam de golpe. O mercado deve reagir bem, porque é a aposta. Há o movimento de especulação e o impacto psicológico de expectativa de nova liderança. Então, mesmo sendo Temer, ou sendo outro, entra com a vantagem da esperança.”

Hilton Cesário Fernandes é professor de Ciência Política da FESPSP

CLÁUDIO COUTO

Se for barrado:

“Se o impeachment não acontecer, uma possibilidade que hoje eu considero remota, o governo sai desse processo muito fragilizado, com dificuldades de criar agendas positivas. É um governo que se esgotou, não teria mais condições de liderar. Será um governo morto-vivo. Continuará a andar, mas se arrastando. Se o Lula de fato conseguisse assumir o cargo de ministro, as coisas melhorariam um pouco, mas ele chega tarde demais, assim como acontece com a maioria das coisas no governo Dilma: ela toma as decisões certas na hora em que elas não são mais corretas. Mas o impeachment com base nas ‘pedaladas fiscais’, para mim, não é justificativa.”

Se não for barrado:

“Com o impeachment, cria-se a percepção de que terá havido mais condições de sinalizar algo para os mercados, aos vários segmentos, porque há desconfiança grande por parte das pessoas não só pela crise política, mas também pela crise econômica. Mas existe uma desconfiança das pessoas com Temer, porque ele foi eleito pela mesma chapa. Vê-se nele uma pessoa que até dias atrás era próximo a Dilma. As pessoas veem o PMDB ao lado do PT na corrupção. Como um partido com membros envolvidos em corrupção se apresenta como solução? Temer é visto como aliado de Cunha.”

Cláudio Couto é cientista político da FGV-SP

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