Viúva comandou as decisões sobre funeral e recomposição da chapa nacional; ela convocou reunião com militantes, quando pedirá que deem continuidade ao trabalho do marido.
A reportagem é de Hylda Cavalcanti e publicada por Rede Brasil Atual – RBA, 17-08-2014.
Tem chamado a atenção de quem frequenta a casa do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, nos últimos dias, o comportamento de sua esposa, a economista Renata Campos, diante da tragédia que vivencia a família desde a última quarta-feira (13). De pouca fala, avessa a entrevistas, porém tida como preparada, boa ouvinte e, principalmente, conhecida por ter sido bastante valorizada pelo marido, a viúva tem mantido postura surpreendente.
Com serenidade, embora bastante abatida, segundo correligionários do PSB, ela participou de todas as discussões políticas até agora. “Enquanto a ministra Ana Arraes (mãe de Campos) está despedaçada e questiona constantemente ‘por que não fui eu’, Renata tem segurado as pontas de todos”, afirmou um amigo que foi até a casa prestar condolências.
Segundo a secretária de Cultura de Recife, Leda Alves, que teve longa conversa com a esposa de Eduardo Camposna última sexta-feira, Renata disse que tem procurado enviar muitas mensagens para o companheiro "por meio de orações."
Para os que procuraram a família poucas horas após a noticia da tragédia, chegou a dizer, em tom equilibrado “isso não estava no script” e contou que Campos estava feliz e havia comemorado a boa repercussão da entrevista concedida ao Jornal Nacional, da TV Globo, como quem faz um gol. “Ele dizia isso repetidas vezes no Rio de Janeiro”, relatou.
Portas abertas
Na manhã deste sábado, foi a vez de Renata surpreender as pessoas mais simples que foram à residência da família, no bairro de Dois Irmãos, em Recife. Pelo entra e sai de políticos, amigos e familiares, os seguranças têm procurado evitar grande concentração de pessoas na casa, inclusive porque elas poderão manter contato durante o velório de Campos.
Como era início da manhã e o movimento estava mais tranquilo que no dia anterior, a viúva mudou as regras e pediu para avisar que, com exceção a dar entrevistas ou ser fotografada, o que não estava disposta a fazer naquele momento, gostaria de receber a todos que desejavam conversar e prestar solidariedade. E assim o fez, na companhia do pai, o médico e ex-secretário estadual de Saúde, Ciro de Andrade Lima, e o filho mais velho, João Henrique.
A iniciativa emocionou muitos, como o motorista Pedro Gomes, que foi até o local com uma carteira do trabalho. Servidor aposentado do governo de Pernambuco, ele, durante três anos, trabalhou como motorista da esposa deMiguel Arraes quando governador, a então primeira dama Magdalena Arraes (avó de Eduardo Campos). A carteira foi levada numa tentativa de mostrar que a família o conhecia para que o deixassem entrar, mas não foi necessário.
Pedro saiu da residência contando que recebeu um convite de Renata para retornar à tarde, quando encontraria donaMagdalena. “Estava no interior do estado, dirigindo meu carro, no sentido do município de Floresta, quando soube da notícia. O choque foi tão grande, que preferi dar a direção para meu irmão. Não tive mais condições. Doeu demais”, garantiu.
Não só o motorista foi atendido, mas, também, outras pessoas que, como ele, esperavam do lado de fora da casa. Com a mesma simplicidade, Renata recebeu a florista Josiane Oliveira, que levou um ramalhete para homenagearEduardo. “Eu tinha um quiosque de flores desde a época em que dona Renata e o Eduardo eram namorados. E fui quem vendeu as primeiras flores compradas por ele para a então namorada. Sempre que ele passava por lá, lembrava disso e pedia um ramalhete bonito para levar para a esposa”, salientou Joseane, chorando.
Última palavra
A ex-primeira dama de Pernambuco participou pessoalmente da organização do funeral de Campos. Sem sair de casa, orientou os políticos que foram até São Paulo cuidar do reconhecimento dos corpos. Disse que não gostaria que os restos mortais do marido fossem liberados antes dos das outras vítimas, mas, sim, conjuntamente.
Renata também deu instruções detalhadas sobre como gostaria que fosse realizado o velório e o percurso a ser feito pelo transporte do caixão em carro aberto – previsto para ser conduzido a partir das 21h deste sábado por 13 bairros do Recife para que as comunidades moradoras de áreas mais humildes possam ver de perto. A ideia partiu dela, depois de pedido feito por entrevistados durante reportagem na TV local.
Da mesma forma, preferiu que a missa campal fosse realizada na área externa em frente ao Palácio do Campo das Princesas, o que foi acatado. Solicitou ao cerimonial, ainda, que o velório de Eduardo ocorra até as 16h, por entender como inviável um funeral de muitos dias. E teria reiterado, diante das dificuldades observadas para reconhecimento dos corpos por parte do Instituto de Medicinal Legal (IML), em São Paulo, que abria mão de uma investigação mais detalhada dos restos mortais do presidenciável, por considerar que a demora só tornaria tudo ainda mais doloroso.
A última iniciativa foi convocar líderes políticos e a militância do PSB para um encontro na próxima segunda-feira (18), às 10h. O intuito, de acordo com informações de correligionários de Campos, é pedir aos pessebistas que deem continuidade ao projeto do marido, apoiando a nova chapa presidencial que é montada. Assim como pedirá que reforcem o apoio ao candidato indicado pelo marido ao governo estadual, o auditor Paulo Câmara.
Nos bastidores da entrevista do Jornal Nacional, o ex-governador tinha dito que o único dia em que iria parar a agenda da campanha seria a próxima segunda-feira, quando fazia questão de estar junto da mulher e dos filhos. Nesta data,Renata faz aniversário. Agora será, também, o primeira dia, após o sepultamento do marido, da primeira aparição pública em evento político de que participará como protagonista.
Esteio
Discreta, adepta de roupas simples, pouco chamativas, e mãe de cinco filhos, Renata é tida como o grande esteio deEduardo Campos. Fez faculdade de economia, passou em ótima colocação no concurso para auditora do Tribunal de Contas do Estado (TCE), engravidou aos 46 anos do quinto filho e não se fez de rogada em, pouco tempo após o parto, acompanhar o marido na maioria das viagens, carregando o pequeno Miguel para todos os lugares (o nome do caçula é uma homenagem a Miguel Arraes).
Alguns meses atrás, durante reportagem para a revista Piaui, a ex-primeira-dama deu uma declaração que mostra bem sua personalidade. Quando perguntada se acreditava que despertaria muita curiosidade ao longo da eleição, comentou: "Eu não sei, mas pode ser curioso saber quem é a mulher que teve cinco partos normais, cinco filhos do mesmo marido, não pinta o cabelo e tem uma profissão."
Se Renata atuará como uma articuladora de bastidores do PSB daqui por diante e até como candidata a vice-presidência, continuando o trabalho político que exercia ao lado de Campos, ou como coadjuvante das próximas cenas, ainda não se sabe, mas o certo é que, caso deseje, ela tem tudo para ser participante ativa destas eleições.
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