Se o nosso ex-governador e senador eleito, Aécio Neves, for verdadeiramente um mineiro, e cultuar os valores herdados de seu avô, que são resultado de lutas históricas, que Minas Gerais sempre enfrentou em momentos em que a democracia esteve ou correu perigo, poderá se desligar do PSDB, pelo imbróglio em que se viu envolvido, sem nada ter feito para se tornar vítima da mais rasteira arapongagem. Restando-lhe motivos de sobra para esta decisão, que agradará e, muito os mineiros.
Muitos já sabiam, e até o nosso senador Aécio Neves, já tinha sido alertado sobre um grupo de São Paulo, do seu partido - PSDB - que estava incursionando em Minas Gerais para fazer uma devassa sobre sua vida, com o objetivo político de desmoralizá-lo e assim evitar que sua pretensão a candidatar-se à presidência da república fosse concretizada, minando completamente sua pretensão e caminho natural.
Tal fato teve início, porque o grupo do governador José Serra, começou a se preparar para que a escolha para a disputa ficasse somente restrita a São Paulo, já que o comando e o centro de poder e decisão do PSDB, desde sempre foi a capital paulista.
Por isto a candidatura do nosso ex-governador e senador, Aécio Neves não decolou, mesmo com todos os esforços e popularidade conquistados em oito anos de governo em Minas Gerais, sem contar seu poder de agregar mais apoio de diferentes partidos e segmentos sociais, até mesmo os que defendem uma bandeira ideologica mais contundente.
Para compreender melhor é forçoso que façamos uma breve digressão no tempo, retrocedendo a época da política do café-com-leite.
A política do café-com-leite foi um acordo firmado entre as oligarquias estaduais e o governo federal durante a República Velha para que os presidentes da República fossem escolhidos entre os políticos de São Paulo e Minas Gerais. Portanto, ora o presidente seria paulista, ora mineiro.
O nome desse acordo era uma alusão à economia de São Paulo e Minas, grandes produtores, respectivamente, de café e leite. Além disso, eram estados bastante populosos, fortes politicamente e berços de duas das principais legendas republicanas: o Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro.
A política do café-com-leite só pode ser entendida quando analisada dentro do quadro político-econômico da Republica Velha. Afinal, a prerrogativa dos paulistas e mineiros para a escolha dos presidentes correspondia, de outro lado, aos benefícios garantidos pelo governo federal às oligarquias das demais províncias - não se chamavam estados, na época. Em troca da autonomia local e da não interferência do governo federal nas questões provinciais, as elites estaduais garantiam o apoio das suas bancadas ao presidente da República. Essa era a essência de um outro acordo mais amplo que a política do café-com-leite e no qual esta se encaixava: a política dos governadores. Dentro desse contexto, São Paulo e Minas Gerais controlaram o processo sucessório nacional justamente em razão do seu peso econômico, demográfico e político.
Durante os mais de 30 anos em que perdurou a política do café-com-leite, o Brasil elegeu 11 presidentes da República, sendo 6 paulistas - incluindo Prudente de Moraes e Campos Salles - e 3 mineiros. Dois vice-presidentes assumiram o posto do titular ao longo desse período: o fluminense Nilo Peçanha, no lugar de Afonso Pena, falecido em 1909; e o mineiro Delfim Moreira, substituindo o paulista Rodrigues Alves, morto em 1918, antes mesmo de tomar posse naquele que seria seu segundo mandato como presidente.
Em 1909, diante de divergências entre políticos mineiros quanto à escolha do candidato à sucessão presidencial, Pinheiro Machado, expressiva liderança política do Rio Grande do Sul, lançou o nome de Hermes da Fonseca. No caso de Epitácio Pessoa, sua eleição, em 1919, para suceder Delfim Moreira, que se afastara do cargo, foi um desdobramento dos problemas causados pela Primeira Guerra Mundial na economia brasileira.
De qualquer forma, mesmo nos momentos de crise, a eleição presidencial contou com o apoio das províncias de São Paulo e Minas Gerais. Isso é, ainda que não elegessem um paulista ou mineiro, as duas províncias sempre participavam das articulações para a escolha do novo presidente. Por outro lado, as divergências que envolviam o processo sucessório demonstravam que outras províncias, de importância menor, também aspiravam ao poder central.
A evolução dessa crise política acabaria levando ao movimento de 1930, liderado pela oligarquia gaúcha - tendo à frente Vargas - com o apoio da Paraíba, a quem foi dado o cargo de vice na chapa de Getúlio, e Minas Gerais, que abandonara a aliança com São Paulo quando o paulista Washington Luís optou pela indicação do também paulista Júlio Prestes. Embora vitorioso, nem mesmo chegou a tomar posse, atropelado pela intensa movimentação política que culminaria na instalação de um governo provisório, em novembro de 1930.
Esta breve mais esclarecedora explicação nos aponta o porquê de São Paulo se ver politicamente como um Brasil fora do Brasil, pelo menos na visão dos políticos do PSDB, que agora estão arrancando os cabelos pelo ódio alimentado pela rivalidade, mas que provocará uma vitória do povo sobre a oligarquia conservadora e reacionária paulista.
Se nosso ex-governador Aécio Neves soubesse que a única rejeição que carrega é de pertencer aos quadros do PSDB, já haveria a muito pulado fora do barco, e o momento não poderia ser mais favorável e politicamente correto.
Minas Gerais não se agachara para São Paulo, e não deixará se levar pela demagogia e locupletação do candidato José Serra, que até o presente somente fez apequenar e subverter a democracia, com suas manobras de mudar o foco do debate.
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