A participação brasileira na construção da cidadania.
Humberto Dantas
Nos últimos anos organizações internacionais têm tornado constante a tentativa de dimensionar a participação efetiva da sociedade na construção da cidadania. O objetivo dos estudos é captar o envolvimento dos indivíduos em assuntos de interesse social.
Nesse sentido, a organização chilena Participa desenvolveu junto à Admimak – empresa de pesquisa de mercado – um indicador que tem por intuito aferir o grau de participação dos indivíduos em assuntos de interesse comum relacionados ao desenvolvimento da sociedade. Com o apoio da Rede Interamericana pela Democracia (RID), organização que congrega entidades que defendem a conscientização política nas Américas, a pesquisa foi realizada em sete países: Chile, Brasil, Argentina, Bolívia, Peru, República Dominicana e Costa Rica. No Brasil, a atividade ficou sob responsabilidade do Movimento Voto Consciente, que realizou o trabalho com a empresa de análise de mercado Franceschini e Associados – que incluiu o projeto em sua relação de atividades de responsabilidade social.
O levantamento, que será repetido anualmente, entrevistou 1.006 pessoas entre julho e agosto. A abordagem foi telefônica, por sorteio, de maiores de 18 anos residentes em uma das seis capitais selecionadas: São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Recife, Manaus e Porto Alegre. Os gêneros: masculino (49,5) e feminino (50,5) mantiveram-se equilibrados. Cerca de 40% das pessoas entrevistadas moram em São Paulo, 20% no Rio de Janeiro e os 40% restantes nas demais capitais. Com relação à classe econômica, 56% foram classificados na camada inferior da pirâmide, 34% no extrato médio e os demais no setor mais alto. Todas as faixas etárias, a partir dos 18 anos, foram contempladas.
Os resultados mostraram que o Brasil ainda revela traços preocupantes da falta de envolvimento da sociedade em questões políticas. Enquanto as atividades religiosas e assistencialistas recebem a adesão de cerca de 19,5% dos entrevistados, as ações relacionadas à gestão pública (2,6%), aos partidos políticos (3,2%) e às organizações não-governamentais que defendem a democracia (4,5%) não ultrapassam os cinco pontos percentuais. Em relação aos demais países, o Brasil não se destaca em qualquer tipo de atividade social, estando abaixo da média em nove dos onze quesitos levantados.
No que diz respeito ao perfil de quem participa, os homens destacam-se expressivamente em organizações esportivas (11,2% contra 3,5% das mulheres) e também na atuação em sindicatos e organizações profissionais (7,6% contra 4,1%). O público feminino está mais presente nas organizações religiosas, mas a diferença não é significativa. No que diz respeito à idade, enquanto os jovens de 18 a 25 anos dedicam-se mais às organizações esportivas, os indivíduos entre 26 e 46 anos são os principais responsáveis pelas organizações de bairro. Na faixa acima dos 46 anos o destaque fica por conta das atividades voluntárias. Por fim, a adesão dos entrevistados às atividades divididas por classe social demonstra uma maior participação do extrato considerado alto na maioria dos quesitos apresentados.
Feita a leitura inicial dos indicadores foi constituído um índice de Participação Cidadã, no qual um grau mais acentuado de envolvimento dos indivíduos nas atividades destacadas garantia uma pontuação maior. Em comparação às outras seis nações o Brasil ocupa o último lugar. O indicador varia de 0 a 20 pontos, e apenas 8,7% dos brasileiros estão classificados no extrato nomeado “participação alta” – ocupado por indivíduos que somaram mais de 6 pontos. Além disso, 51% foram considerados “sem participação”. A média nacional, a pior entre todas, equivale a 1,7 ponto - metade do valor apresentado pela República Dominicana, a primeira colocada.
Os motivos que incentivam o brasileiro a participar ainda estão ligados às características solidárias, como ajuda ao próximo, altruísmo e assistencialismo. Razões relacionadas às motivações políticas, como obter benefícios coletivos, não aparecem como importantes. Por outro lado, a desculpa mais utilizada para a “não participação” é a falta de tempo.
A leitura positiva que se pode fazer dos dados é a adesão de cerca de um quinto da população às ações voluntárias. Além disso, merece destaque a questão feita em relação à obrigatoriedade do voto. Enquanto pesquisas realizadas pela UNICAMP e pela USP em 2002 revelavam que cerca de 50% dos brasileiros não votaria se não fossem obrigados, a pesquisa apontou que 70% dos entrevistados participariam das eleições se o comparecimento fosse facultativo.
Humberto DantasCientista político professor universitário e
conselheiro do Movimento Voto Consciente.
conselheiro do Movimento Voto Consciente.
Índice de Participação Cidadã é um projeto do
Movimento Voto Consciente, Coordenado por
Eduardo Giembinsky, dentro dos Programas da
Rede Interamericana pela Democracia,
mais informações www.votoconsciente.org.br
Movimento Voto Consciente, Coordenado por
Eduardo Giembinsky, dentro dos Programas da
Rede Interamericana pela Democracia,
mais informações www.votoconsciente.org.br
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