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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

18 anos depois, crime racial que abalou Inglaterra tem condenação


A 18 anos de um crime racial que comoveu o Reino Unido nos anos 90, dois jovens foram considerados culpados do assassinato do adolescente Stephen Lawrence e condenados à prisão. Segundo o instituto de Relações Raciais do Reino Unido, 93 pessoas morreram em ataques raciais desde o assassinato de Lawrence em 1993. No caso mais recente, em 26 de dezembro, um estudante indiano, Anuj Bidve, foi morto com um tiro à queima-roupa por um jovem branco em Manchester.

A 18 anos de um crime racial que comoveu o Reino Unido nos anos 90, dois jovens foram considerados culpados e condenados à prisão perpétua graças às provas fornecidas por novos exames forenses. O rastro minúsculo de sangue da vítima na jaqueta de Gary Dobson e restos de cabelo na roupa de David Norris foram decisivos no veredito da Corte Criminal de Old Bailey, em Londres, no julgamento do caso envolvendo o assassinato do adolescente Stephen Lawrence.

A impecável investigação policial foi uma maneira de compensar o catálogo de erros da primeira investigação que terminou com a própria Scotland Yard acusada de racismo institucional por uma comissão investigadora em 1998. Nesta quarta-feira, a polícia deixou claro que o caso ainda estava aberto e assinalou que com o veredito começava-se a cicatrizar uma terrível ferida familiar, social e institucional, mas um membro da comissão investigadora disse ao “The Independent” que, na sua opinião, a Scotland Yard segue sendo racista.

Stephen Lawrence tinha 18 anos quando foi apunhalado perto de uma parada de ônibus em Eltham, sul de Londres. A polícia identificou rapidamente cinco homens, de idade entre 16 e 20 anos, membros de uma gangue juvenil que aterrorizava o bairro, como “principais suspeitos”, mas os erros da investigação terminaram impossibilitando a condução do caso à Justiça em 1993 e permitindo a absolvição dos cinco no julgamento finalmente realizado um ano mais tarde.

Os erros policiais levaram à formação de uma comissão investigadora que, em 1999, deu seu próprio veredito sobre a Scotland Yard. Segundo a comissão, os erros não se deviam unicamente á negligência ou incompetência profissional, mas sim a um “racismo institucional” que valorizava a importância do crime segundo a cor da pele da vítima.

Cadeia de erros
Os erros começaram minutos após o ataque, quando os policiais que chegaram à cena do crime não se deram conta que o jovem havia sido apunhalado e não lhe deram os primeiros socorros. A investigação posterior não melhorou as coisas. A principal testemunha do ataque só forneceu o retrato falado um dia depois do fato. Apesar de umas vinte pessoas terem nomeado os atacantes nas primeiras 48 horas, a polícia demorou mais de duas semanas para prendê-los, perdendo provas forenses irrecuperáveis.

A vigilância encoberta dos suspeitos também esteve repleta de desatinos. Os encarregados não tinham câmeras que permitissem registrar os movimentos dos suspeitos em torno de suas casas. Entre as provas que se perderam estavam duas típicas de filme: pessoas que saíam das casas levando sacos de lixo com roupas dentro.

O julgamento teve que esperar até que, em 2005, o parlamento aprovasse uma reforma da lei do “duplo julgamento” que impedia que uma pessoa fosse julgada duas vezes pelo mesmo delito. Esta reforma permitiu que outro crime, o do adolescente Damiola Taylor, terminasse com a condenação de dois dos acusados utilizando técnicas forenses similares às que permitiram o novo julgamento no caso Lawrence.

Um caso não resolvido
Nesta quarta-feira, o juiz Colman Treacy reconheceu que a condenação era menor do que Norris e Dogbson mereciam “pela gravidade de um caso de racismo puro que traumatizou a nação”. Segundo a lei britânica, Dobson e Norris foram condenados como menores porque o eram quando cometeram o crime. Apesar da sentença de prisão perpétua, devem cumprir um mínimo entre 14 e 15 anos de prisão.

O caso, porém, não está concluído. Em uma entrevista coletiva à imprensa, o comissário geral da Polícia Metropolitana, Bernard Hogan-Howe indicou que os outros envolvidos no caso Lawrence não devem acreditar que podem respirar aliviados. “Estamos investigando ainda e gostaríamos de aproveitar essa oportunidade para solicitar que se tiver mais alguma informação sobre o caso, mesmo depois de tanto tempo, passem para nós”, disse Hogan-Howe.

Na saída do tribunal de Old Bailey, o pai de Stephen Lawrence, Neville, disse que ainda há muito por fazer. “Este é um primeiro passo de uma viagem muito longa”, assinalou. A viagem será muito longa para o conjunto da sociedade. Segundo o instituto de Relações Raciais do Reino Unido, 93 pessoas morreram em ataques raciais desde o assassinato de Lawrence em 1993. “A violência racial não diminuiu. O que muda em cada caso são algumas circunstâncias e o perfil das vítimas”, disse Harmit Athwal, porta-voz da organização. No caso mais recente, em 26 de dezembro, um estudante indiano, Anuj Bidve, foi assassinado em Manchester por um jovem branco que perguntou a hora para o estudante e disparou à queima-roupa contra ele.

Tradução: Katarina Peixoto


Fotos: The Guardian

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