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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Parentes e amigos de jovem assassinado clamam por justiça


Caso foi tema de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos em Coronel Fabriciano.

Comissão de Direitos Humanos realizou reunião para obter esclarecimentos sobre a morte de Frederico Alan de Souza Paiva, ocorrida em Coronel Fabriciano
Comissão de Direitos Humanos realizou reunião para obter esclarecimentos sobre a morte de Frederico Alan de Souza Paiva, ocorrida em Coronel Fabriciano - Foto: Raíla Melo
Com camisetas pretas em sinal de luto, com a inscrição “Exigimos justiça” e a foto do jovem Frederico Alan de Souza Paiva, morto no dia 4 de julho, supostamente por um policial militar, durante uma blitz em Coronel Fabriciano (Vale do Aço), dezenas de parentes e amigos da vítima lotaram a Câmara Municipal durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta terça-feira (12/8/14).
Convocada a requerimento do deputado Celinho do Sinttrocel (PCdoB), a audiência, conduzida pelo presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), teve por finalidade obter esclarecimentos sobre a morte de Frederico e contou com a presença da mãe da vítima, Carmem Rodrigues de Souza Paiva (a vereadora Carmem do Sinttrocel, também do PCdoB). Emocionada, em vários momentos da reunião, ao ouvir ou citar o nome do filho, ela não conseguiu reter as lágrimas. "A polícia, que deveria dar segurança à população, atuou de forma torpe”, denunciou. Ela exigiu que o autor do crime seja julgado por júri popular, sem privilégio de foro especial.
A vereadora lembrou que o filho, que era estudante universitário, não tinha antecedentes criminais. “A covarde atitude policial não pode ser acomodada em arquivos, números e gráficos”, disse, comovida. "Conto com amigos, familiares e deputados e ainda com a parcela das Polícias Civil e Militar que não compactua com procedimentos abusivos para que a justiça seja feita”, continuou.
Igualmente comovido, Emanuel de Souza, o irmão da vítima, também chorou e falou sobre os sonhos do irmão, que era bolsista em uma faculdade de Engenharia. Ele criticou “o corporativismo da PM, que faz com que os bons policiais se calem” e o despreparo da corporação. Segundo ele, Frederico foi atingido a menos de cinco metros, pelas costas, e, se ao invés de uma arma de fogo, o policial estivesse portando uma uma arma menos letal, como de choque, ou spray de pimenta, talvez tivesse evitado a morte do jovem.
Comandante da PM lamenta abusos de policiais
O comandante da 12ª Região da Polícia Militar, coronel Jordão Bueno Júnior, também condenou os procedimentos abusivos de policiais que por vezes acabam em grandes tragédias, como a que vitimou Frederico, mas ressaltou que a instituição não admite nem apoia essas práticas. Ele prometeu que o caso não será julgado em foro especial, mas no Tribunal do Júri, conforme determina a lei em casos que envolvem policial militar em crime doloso contra civis. “A PM está alinhada com as melhores doutrinas internacionais, previstas pela ONU”, afirmou. Ele ainda argumentou que a corporação orienta seus policiais com cadernos doutrinários nos quais aborda, inclusive, a questão dos direitos humanos como disciplina.
O delegado da 8ª Delegacia de Polícia Civil de Coronel Fabriciano, Jorge Luís Cândido Caldeira, disse que o inquérito sobre o caso de Frederico foi realizado dentro do prazo legal, submetido ao Judiciário local e encaminhado ao Ministério Público como homicídio qualificado, por motivo fútil e que impossibilitou a defesa da vítima. “O resultado final fica a cargo do Judiciário e da população, a quem vai caber o julgamento”, disse. Ele lembrou que a Polícia Civil indiciou também uma tenente por falsidade ideológica, por ter supostamente assinado um laudo com dados não comprovados que favoreceriam o acusado.
“Laudos fraudulentos e boletins com registro equivocado ocorriam na época da ditadura, não cabem numa democracia”, disse o deputado Durval Ângelo, após o depoimento do policial civil. Ele elogiou a decisão de indiciamento no caso porque “reforça as garantias do cidadão".
Duplicidade das investigações - O promotor Bruno Schiavo disse que o Ministério Público fará a apreciação isenta do fato e já está examinando os dois inquéritos policiais - um da PM e outro da Polícia Civil -, o que, na sua opinião, se configura num “conflito positivo”, já que as duas corporações mostraram interesse em investigar.
O promotor Francisco Ângelo Silva Assis discordou, afirmando que o ideal é a unicidade de investigação entre as polícias. Ele defendeu uma a investigação conjunta em caso de crime doloso contra a vida e propôs que a ALMG leve ao Governo do Estado essa preocupação com a duplicidade investigativa.
Deputados também exigem justiça
Os parlamentares apresentaram pedidos de providências a diversos órgãos públicos
Os parlamentares apresentaram pedidos de providências a diversos órgãos públicos -Foto: Raíla Melo
“O que nos traz aqui é o senso de justiça e a busca da verdade. Se houve morte por parte de um agente de Estado, esse Estado tem que dar resposta imediata à sociedade”, afirmou o deputado Durval Ângelo.
O autor do requerimento para a reunião, deputado Celinho do Sinttrocel, lamentou a dor da mãe e da família pela perda trágica e citou dados estatísticos do Centro Brasileiro de Estudos Latinoamericanos, segundo os quais, entre 1980 e 2010, 390 mil jovens entre 15 e 29 anos foram assassinados no Brasil. “De lá para cá, o quadro de violência contra os jovens brasileiros só aumentou”, disse. “O Brasil é o quarto país do mundo onde mais se matam jovens e crianças – a grande maioria do sexo masculino –, e a Região Sudeste é a que possui as maiores taxas de mortalidade, com evidente elevação em Vitória e Belo Horizonte”, denunciou.
"Esse quadro deixa evidente o descaso do poder público e da sociedade, mesmo reconhecendo que na última década houve avanços, que foram insuficientes para deter a matança dos jovens no País”, afirmou. O deputado acrescentou que em 2011, a cada 100 mil jovens, 54 foram assassinados, e a principal causa dos homicídios está no conflito com a polícia.
Providências – Ao final da reunião, os parlamentares apresentaram uma série de pedidos de providências a diversos órgãos públicos. Entre os requerimentos, consta um para a instalação de uma nova delegacia de polícia em Coronel Fabriciano, para que a cidade não fique dependente de outros municípios nos plantões noturnos e de fim de semana. Eles também solicitam aumento do efetivo policial e melhor aparelhamento das corporações policiais, bem como agilidade na conclusão do caso que apura a morte do jovem Frederico. Esses requerimentos serão votados na próxima reunião da comissão.

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