Quem não se comunica se trumbica, já dizia o grande filósofo da comunicação de massas Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Os resultados das eleições deste domingo revelaram que os diretores de campanha não aprenderam ainda a explorar os prodigiosos recursos oferecidos pela maravilhosa máquina da comunicação moderna.
Da internet, nem é preciso falar. A rede mundial de computadores ficou completamente à margem da panfletagem eleitoral. A rede acabou sendo usada por particulares, nem sempre com as melhores intenções, que aproveitaram para disseminar boatos e maledicências, quase sempre anônimas. Mas vamos falar do horário eleitoral gratuito, essa invenção da democracia brasileira.
O fenômeno Tiririca e seu 1,3 milhão de votos provavelmente não existiriam sem as facilidades oferecidas pelo horário gratuito. Mas a maioria dos quase 20 mil candidatos nas eleições proporcionais entraram e saíram da televisão sem deixar o anonimato. Ou seja: a propaganda compulsória na rádio e televisão só ajuda a quem já é conhecido. Os desconhecidos, aqueles que botam a cara na telinha para dizer: “Eu sou fulano, meu número é tal”, continuam desconhecidos depois de 100 minutos diários de exposição durante 45 dias.
Perguntem a qualquer vendedor de sabão em pó ou a um bom autor de novela o que é possível fazer com esse tempo todo de TV. Bem, o Tiririca sabe. Mas dava pena ver a aflição dos eleitores mais responsáveis às vésperas da eleição à procura de um candidato a deputado estadual para votar. Faltou candidato, ou melhor, faltou comunicação para saber a simples biografia dos senhores candidatos.
Quanto aos candidatos majoritários, por serem menos em quantidade e por terem mais tempo de exposição, conseguem até dar o seu recado. Mas vejam só como o debate na televisão está se tornando uma coisa inútil. Todo mundo concorda que as agressões pessoais, as baixarias e as pegadinhas não pegam bem num debate de alto nível. Mas para ser bom, para ficar no campo das ideias, o debate perde a emoção. E sem emoção o telespectador dorme diante do televisor. Ou muda de canal.
O único candidato que conseguiu tirar o eleitor de seu torpor televisivo durante os debates foi o Plínio de Arruda Sampaio, do PSol, e suas mirabolantes propostas de desgoverno. Teve gente que achou engraçado. A maioria não entendeu a piada. Plínio teve menos votos para presidente do que Tiririca para deputado.
Outro instrumento de comunicação infalível nas campanhas eleitorais são as pesquisas de intenção de votos. Nas mãos dos marqueteiros, as pesquisas de opinião são capazes de indicar os rumos de uma campanha: onde atacar para melhorar o desempenho do candidato, qual o eleitor a ser conquistado, que tipo de mensagem deve ser veiculada. Nas mãos da imprensa as pesquisas viraram um adivinhômetro, com a pretensão de antecipar o resultado da eleição.
Mas as pesquisas falham. Que o diga Aloysio Nunes, o candidato tucano ao Senado por São Paulo, que passou a campanha inteira como um nanico das pesquisas e terminou as eleições como o novo campeão de votos para a câmara alta.
E por que falham? Falham porque ninguém é obrigado a responder as entrevistas dos pesquisadores e quem responde não é obrigado a dizer a verdade ou ser sincero. Se o eleitor, no momento solene de dar seu voto, na solidão da cabine que de indevassável não tem nada, é capaz de brincar e votar no palhaço ou na mulher-fruta, imagina o que ele não fará diante do pobre pesquisador que resolveu tomar seu precioso tempo.
Ainda bem que ainda não foi baixada a MP que subsititui as eleições pelas pesquisas. Por enquanto, continua valendo o resultado das urnas.
Fonte: conjur.com.br
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