Editorial do Blog política cidadania e dignidade:
* José Luiz Barbosa
Esta luta que se apresenta quase que imperceptível aos olhos de uns e que se agiganta a cada dia é uma demonstração de indignação inconstestável do povo com a suberversão do poder que impôs restrições e instituiu a autotutela ao exercício da cidadania.
Mesmo que teimem em não enxergar e fazerem-se de surdos aos apelos e clamores da genuína e legitíma manifestação popular, pois, que nasceu e está crescendo nos corações, mentes e almas das pessoas, que chegaram a conclusão que somente protegendo seus interesses coletivamente poderão interferir no curso deste processo político avassalador que instalou o caos na econômia e vem provocando a desestabilização nas relações entre povos e nações, e que sequer são ouvidas ou consultadas sobre decisões e soluções para problemas comuns.
Esta luta é sua, pois será pela sua participação que ela tomará as ruas de todas as cidades, seja pequena, média ou grande, e resgataremos a soberania popular que rege o estado democrático de direito, e que tornou-se refém do poder que fora arrebatado sutil e sorrateiramente pela estadania instituída pelo poder político, e é este poder político inverso e ofenso ao interesse público e coletivo inimigo público número 1 para a garantia do exercício pleno da cidadania que haveremos de derrotar.
*Presidente da Associação Cidadania e Dignidade
Há uma semana, centenas de indignados vindos de toda a Europa se instalaram na capital belga para participar da Ágora Internacional Bruxelas, uma antessala da manifestação mundial que será realizada neste sábado, dia 15 de outubro. “O maior perigo que nos ameaça é a passividade”: essa é a consigna com a qual trabalha todos aqueles que vieram a Bélgica através de uma marcha de 1.200 quilômetros. A reportagem é de Eduardo Febbro, direto de Bruxelas.
Eduardo Febbro - Direto de Bruxelas para a Carta Maior
A sede da revolta europeia contra o sistema financeiro, as oligarquias que conservam o poder em caixas fortes, a impunidade, a democracia sequestrada por um punhado de privilegiados e os grandes grupos de comunicação que pintam a realidade segundo a multinacional a qual pertencem está em Bruxelas. Há uma semana, centenas de indignados vindos de toda a Europa se instalaram na capital belga para participar da Ágora Internacional Bruxelas, uma antessala da manifestação mundial que será realizada neste sábado, dia 15 de outubro. “O maior perigo que nos ameaça é a passividade”: essa é a consigna com a qual trabalha todos aqueles que vieram a Bélgica através de uma marcha de 1.200 quilômetros que consta de três frentes: a Marcha Meseta, que saiu de Madri, a Mediterrânea, que saiu de Barcelona, e a Marcha Toulouse, que saiu desta cidade do sul da França.
A medida que passaram os dias convergiram para Bruxelas indignados da Grã-Bretanha, Grécia, Alemanha, Itália, Irlanda, Noruega, Dinamarca, Suécia, Holanda e Portugal. Os caminhantes chegaram a Bruxelas com um tesouro nas mãos: O Livro dos Povos. Na marcha em direção a Bélgica, os indignados realizaram nas localidades visitadas assembleias populares nas quais recolheram as queixas, ideias e reflexões dos habitantes.
Miguel Ángel, um dos protagonistas da Marcha Mediterrânea, ressalta que “ninguém ficará surpreso com a universalidade dos problemas recolhidos no Livro dos Povos. Desemprego, corrupção, desperdício do dinheiro público, aumento dos impostos, diminuição dos investimentos em saúde e educação, problemas ambientais. Esses são os problemas do Universo”. O livro dos povos será apresentado às instituições europeias com a mesma filosofia que desprende de um grafite pintado em um muro de Bruxelas: “nossos sonhos não cabem em vossas urnas”. Como diz um cartaz da organização ATTAC: “não somos mercadorias nas mãos de políticos e banqueiros”.
Logo de saída, o movimento dos indignados rechaçou o convite do Parlamento Europeu. A Eurocâmara os convidou mas, em uma carta remetida na quinta-feira, os indignados lembram que no Livro dos Povos “estão as vozes esquecidas” e incitam os europarlamentares a participar “de maneira horizontal” nas assembleias que eles organizam. A meta, em princípio, foi difícil de concretizar em Bruxelas. Do mesmo modo que em Madri. Barcelona, Paris, Nova York ou Washington, o braço rígido do liberalismo esperou os indignados com um severo dispositivo policial.
Assim que chegaram à capital belga e se instalaram no Parque Elisabeth foram desalojados pela polícia com um forte aparato militar. A Ágora Bruxelas Internacional que deveria ser realizada ali terminou com a prisão de dezenas de pessoas até que as autoridades municipais instalaram os indignados no edifício da HUB, Hogeschool-Universiteit Brussel. Ali vivem confinados há uma semana.
Os cartazes escritos em vários idiomas testemunham o espírito que rodeia esse encontro que, ao longo da semana, debateu e elaborou propostas sobre os problemas do planeta. ‘Bem vinda dignidade”, “Resistir não é um crime”, “Seja você mesmo a mudança que quer para o mundo”, “Regras para nós, ouro para eles”, dizem as consignas. Pierre, um indignado francês que partiu de Toulouse, celebra o apoio popular recebido ao longo do caminho e repudia as operações policiais: “as pessoas se aproximam de nós, nos animam, dão água, comida, compartilham nossos problemas. Na verdade, estamos todos no mesmo barco: sem trabalho, pagando aluguéis de mansão por um apartamento que é uma caixa de fósforos, com salários ridículos e um sistema financeiro cujos delinquentes seguem livre e festejando a catástrofe que provocaram. Foi uma marcha dura, a cada dia tendo que encontrar um lugar onde comer e dormir. Além disso, a maioria dos indignados são pessoas que estão sem trabalho, temos poucos recursos, mas seguimos adiante”.
Sábado, 15 de outubro, é o grande dia. Depois da Jornada Internacional do Anticapitalismo realizada dia 12 de setembro em Bruxelas, o sábado é o dia de ir “juntos por uma mudança global”. “A resposta das pessoas superou nossas expectativas”, diz Irene, uma jovem integrante da Ágora Internacional Bruxelas. As cifras falam por si só: 900 cidades do mundo, de 93 países, responderam ao chamado. O manifesto elaborado para este 15 de outubro, traduzido em 18 idiomas, incluindo o hebraico e o japonês está acessível na página http://15october.net/pt e destaca que “os poderes estabelecidos atuam em benefício de uns poucos, ignorando a vontade da grande maioria, sem se importar com os custos humanos ou ecológicos a pagar. É preciso por um fim a esta intolerável situação”.
Jon Aguirre Such, porta-voz de Democracia Real Já, da Espanha, explica que as manifestações mundiais e a concentração emblemática em Bruxelas, são feitas contra quatro poderes: o financeiro, o político, o militar e o midiático. Bancos, agências de classificação de risco, paraísos fiscais, dirigentes políticos, a OTAN e os grandes grupos de comunicação encarnam o lado obscuro da modernidade. Mais profundamente, o eurodeputado irlandês Paul Murphy, integrante do grupo Confederação da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica no Parlamento Europeu, destacou a forma pela qual as revoluções árabes influenciaram as mobilizações no Ocidente: “as revoltas do mundo árabe nos ensinaram o poder do povo”.
Daí a proposta dos organizadores das marchas para quando alguém se aproxima e pergunta: “quem está por trás disso tudo”. A resposta é muito simples: “eu”. Todos esses “eu” já estão no Twitter (#soy150) explicando por que chegou a hora de lutar pela mudança: “porque acredito na humanidade e em sua capacidade de mudar o mundo”, escreve Blanca Mundele. Paco Arnau escreve no Twitter: “porque é preciso apontar os culpados: grandes empresários e banqueiros, e não só seus lacaios na política e no governo”. Lily anota: “porque já é hora de despertar de uma vez e mudar, tomar decisões próprias em vez de deixas que as tomem por nós”.
A coordenação mundial do 15-O elaborou um mapa interativo das marchas mundiais (http://map.15october.net/). A página do 15-O no Facebook também oferece muita informação adicional sobre um evento que, nos últimos dias, acelerou sua densidade planetária (https://www.facebook.com/15octobernet?sk=wall).
Cegos e surdos ante à desigualdade, a pobreza, a destruição do planeta, o crime financeiro, a exploração dos trabalhadores, a eliminação das classes médias, a fome, a corrupção e a impunidade, os poderes do mundo terminarão algum dia renunciando frente à onda de protestos. Esse é o sonho de Jean Claude, de apenas 17 anos, um estudante belga que pintou em um muro do centro da cidade uma mensagem com futuro: “o que dizemos hoje, será trovão amanhã”.
Bruxelas: uma oficina social
As mensagens que circulam no Twitter tornam-se realidade em Bruxelas. “Indignados, na rua, em vez de calar a boca, é melhor uma oficina a céu aberto”, diz um cartaz colocado na porta da sede do banco BNP Paribas, onde os indignados organizaram uma oficina a céu aberto sobre o tema “As mulheres da Europa são as verdadeiras credoras da dívida pública”. Segundo os promotores da oficina, a crise e os consequentes planos de austeridade não farão senão aumentar as já visíveis desigualdades de gênero.
Na Bélgica, por exemplo, as diferenças salariais entre homens e mulheres de alta qualificação chegam a 21%. Alfred, um indignado francês que se uniu à marcha dos indignados em Tolouse, explica: “as mulheres pagaram pela crise mais do que qualquer outra categoria. A pobreza faz delas as primeiras vítimas, as demissões nas empresas sempre começam por elas e que vem aí não indica nada melhor”.
As assembleias populares dos indignados contam com convidados “não
gratos”, segundo a expressão de Jan Slangen, membro da Ágora de Bruxelas: “Está cheio de policiais à paisana que supervisionam nossas assembleias. Isso se parece cada vez mais com um Estado policial”, disse Slagen, irritado. O tema central das marchas e das oficinas irrita os poderes europeus. Como ocorreu quando os indignados do sul chegaram a Paris, onde muitos foram detidos e brutalmente golpeados pela polícia, em cada lugar há uma calorosa recepção popular e uma mobilização policial desproporcional.
Jordi, um militante de Barcelona, acredita que “eles têm medo de nós, medo de que isso se aprofunde. Viemos reclamar tudo o que falta e denunciar os privilegiados: “democracia direta na Europa, fim do monopólio dos tecnocratas que elegemos. Queremos que as oligarquias políticas que guardam o poder a sete chaves se dissolvam”.
Tradução: Katarina Peixoto
A medida que passaram os dias convergiram para Bruxelas indignados da Grã-Bretanha, Grécia, Alemanha, Itália, Irlanda, Noruega, Dinamarca, Suécia, Holanda e Portugal. Os caminhantes chegaram a Bruxelas com um tesouro nas mãos: O Livro dos Povos. Na marcha em direção a Bélgica, os indignados realizaram nas localidades visitadas assembleias populares nas quais recolheram as queixas, ideias e reflexões dos habitantes.
Miguel Ángel, um dos protagonistas da Marcha Mediterrânea, ressalta que “ninguém ficará surpreso com a universalidade dos problemas recolhidos no Livro dos Povos. Desemprego, corrupção, desperdício do dinheiro público, aumento dos impostos, diminuição dos investimentos em saúde e educação, problemas ambientais. Esses são os problemas do Universo”. O livro dos povos será apresentado às instituições europeias com a mesma filosofia que desprende de um grafite pintado em um muro de Bruxelas: “nossos sonhos não cabem em vossas urnas”. Como diz um cartaz da organização ATTAC: “não somos mercadorias nas mãos de políticos e banqueiros”.
Logo de saída, o movimento dos indignados rechaçou o convite do Parlamento Europeu. A Eurocâmara os convidou mas, em uma carta remetida na quinta-feira, os indignados lembram que no Livro dos Povos “estão as vozes esquecidas” e incitam os europarlamentares a participar “de maneira horizontal” nas assembleias que eles organizam. A meta, em princípio, foi difícil de concretizar em Bruxelas. Do mesmo modo que em Madri. Barcelona, Paris, Nova York ou Washington, o braço rígido do liberalismo esperou os indignados com um severo dispositivo policial.
Assim que chegaram à capital belga e se instalaram no Parque Elisabeth foram desalojados pela polícia com um forte aparato militar. A Ágora Bruxelas Internacional que deveria ser realizada ali terminou com a prisão de dezenas de pessoas até que as autoridades municipais instalaram os indignados no edifício da HUB, Hogeschool-Universiteit Brussel. Ali vivem confinados há uma semana.
Os cartazes escritos em vários idiomas testemunham o espírito que rodeia esse encontro que, ao longo da semana, debateu e elaborou propostas sobre os problemas do planeta. ‘Bem vinda dignidade”, “Resistir não é um crime”, “Seja você mesmo a mudança que quer para o mundo”, “Regras para nós, ouro para eles”, dizem as consignas. Pierre, um indignado francês que partiu de Toulouse, celebra o apoio popular recebido ao longo do caminho e repudia as operações policiais: “as pessoas se aproximam de nós, nos animam, dão água, comida, compartilham nossos problemas. Na verdade, estamos todos no mesmo barco: sem trabalho, pagando aluguéis de mansão por um apartamento que é uma caixa de fósforos, com salários ridículos e um sistema financeiro cujos delinquentes seguem livre e festejando a catástrofe que provocaram. Foi uma marcha dura, a cada dia tendo que encontrar um lugar onde comer e dormir. Além disso, a maioria dos indignados são pessoas que estão sem trabalho, temos poucos recursos, mas seguimos adiante”.
Sábado, 15 de outubro, é o grande dia. Depois da Jornada Internacional do Anticapitalismo realizada dia 12 de setembro em Bruxelas, o sábado é o dia de ir “juntos por uma mudança global”. “A resposta das pessoas superou nossas expectativas”, diz Irene, uma jovem integrante da Ágora Internacional Bruxelas. As cifras falam por si só: 900 cidades do mundo, de 93 países, responderam ao chamado. O manifesto elaborado para este 15 de outubro, traduzido em 18 idiomas, incluindo o hebraico e o japonês está acessível na página http://15october.net/pt e destaca que “os poderes estabelecidos atuam em benefício de uns poucos, ignorando a vontade da grande maioria, sem se importar com os custos humanos ou ecológicos a pagar. É preciso por um fim a esta intolerável situação”.
Jon Aguirre Such, porta-voz de Democracia Real Já, da Espanha, explica que as manifestações mundiais e a concentração emblemática em Bruxelas, são feitas contra quatro poderes: o financeiro, o político, o militar e o midiático. Bancos, agências de classificação de risco, paraísos fiscais, dirigentes políticos, a OTAN e os grandes grupos de comunicação encarnam o lado obscuro da modernidade. Mais profundamente, o eurodeputado irlandês Paul Murphy, integrante do grupo Confederação da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica no Parlamento Europeu, destacou a forma pela qual as revoluções árabes influenciaram as mobilizações no Ocidente: “as revoltas do mundo árabe nos ensinaram o poder do povo”.
Daí a proposta dos organizadores das marchas para quando alguém se aproxima e pergunta: “quem está por trás disso tudo”. A resposta é muito simples: “eu”. Todos esses “eu” já estão no Twitter (#soy150) explicando por que chegou a hora de lutar pela mudança: “porque acredito na humanidade e em sua capacidade de mudar o mundo”, escreve Blanca Mundele. Paco Arnau escreve no Twitter: “porque é preciso apontar os culpados: grandes empresários e banqueiros, e não só seus lacaios na política e no governo”. Lily anota: “porque já é hora de despertar de uma vez e mudar, tomar decisões próprias em vez de deixas que as tomem por nós”.
A coordenação mundial do 15-O elaborou um mapa interativo das marchas mundiais (http://map.15october.net/). A página do 15-O no Facebook também oferece muita informação adicional sobre um evento que, nos últimos dias, acelerou sua densidade planetária (https://www.facebook.com/15octobernet?sk=wall).
Cegos e surdos ante à desigualdade, a pobreza, a destruição do planeta, o crime financeiro, a exploração dos trabalhadores, a eliminação das classes médias, a fome, a corrupção e a impunidade, os poderes do mundo terminarão algum dia renunciando frente à onda de protestos. Esse é o sonho de Jean Claude, de apenas 17 anos, um estudante belga que pintou em um muro do centro da cidade uma mensagem com futuro: “o que dizemos hoje, será trovão amanhã”.
Bruxelas: uma oficina social
As mensagens que circulam no Twitter tornam-se realidade em Bruxelas. “Indignados, na rua, em vez de calar a boca, é melhor uma oficina a céu aberto”, diz um cartaz colocado na porta da sede do banco BNP Paribas, onde os indignados organizaram uma oficina a céu aberto sobre o tema “As mulheres da Europa são as verdadeiras credoras da dívida pública”. Segundo os promotores da oficina, a crise e os consequentes planos de austeridade não farão senão aumentar as já visíveis desigualdades de gênero.
Na Bélgica, por exemplo, as diferenças salariais entre homens e mulheres de alta qualificação chegam a 21%. Alfred, um indignado francês que se uniu à marcha dos indignados em Tolouse, explica: “as mulheres pagaram pela crise mais do que qualquer outra categoria. A pobreza faz delas as primeiras vítimas, as demissões nas empresas sempre começam por elas e que vem aí não indica nada melhor”.
As assembleias populares dos indignados contam com convidados “não
gratos”, segundo a expressão de Jan Slangen, membro da Ágora de Bruxelas: “Está cheio de policiais à paisana que supervisionam nossas assembleias. Isso se parece cada vez mais com um Estado policial”, disse Slagen, irritado. O tema central das marchas e das oficinas irrita os poderes europeus. Como ocorreu quando os indignados do sul chegaram a Paris, onde muitos foram detidos e brutalmente golpeados pela polícia, em cada lugar há uma calorosa recepção popular e uma mobilização policial desproporcional.
Jordi, um militante de Barcelona, acredita que “eles têm medo de nós, medo de que isso se aprofunde. Viemos reclamar tudo o que falta e denunciar os privilegiados: “democracia direta na Europa, fim do monopólio dos tecnocratas que elegemos. Queremos que as oligarquias políticas que guardam o poder a sete chaves se dissolvam”.
Tradução: Katarina Peixoto
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