Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A POLÍCIA NÃO É EXTENSÃO DO VÍDEO GAME


Carta aberta aos candidatos à carreira policial. 



Entre os muitos jovens que pretendem entrar para polícia podemos notar que parte deles possuem uma visão um tanto quanto romântica da carreira policia. Não é de se admirar que isso aconteça, pois a juventude tem dessas coisas. Quando somos jovens (e eu ainda sou) tendemos a enxergar a vida de uma maneira bastante simplista sendo que a própria vida se encarrega de nos apresentar a realidade e, se somos capazes de assimilar tal realidade de modo saudável, aprenderemos com ela e nos tornaremos maduros. 

A função da polícia, dizendo de modo resumido, é promover a segurança pública. Talvez nunca tenhamos vivido um momento tão inflamado no que diz respeito as questões de segurança pública. Mais do que nunca a nossa sociedade clama por um enfrentamento cada vez mais racional e eficiente das mazelas da insegurança. A conjuntura atual exige uma reforma estrutural nesse modelo de enfrentamento e, muito mais do que uma reforma estrutural, uma reforma ideológica daqueles que são protagonistas dessa atividade. 

Creio que a pergunta que deve ser feita aos candidatos á uma vaga nas polícias, seja nas polícias judiciária seja nas polícias administrativas, é: Por que você quer ser um policial? As respostas talvez não surpreenderão. Alguns irão dizer que querem ser policiais porque o pai é um policial. Outros dirão que querem ser policiais porque acham "doido" (Gíria de mineiro), emocionante, radical, ou porque gostam de adrenalina. Uns dirão que querem ser por que querem estabilidade. E se mudarmos o sentido da pergunta e questionarmos: Para quê você quer ser um policial? 

Não tenho dúvidas que encontraremos respostas como as seguintes: Quero ser um policial para salvar vidas e proteger pessoas. Ou então, despencando o nível, outros dirão: Quero ser policial para higienizar as ruas, pra dar tiro em vagabundo e bater na cara de viciado. (Talvez em uma evidente influencia de Tropa de Elite). Podemos ver que dentre as repostas apresentadas (que escrevi baseado no que tenho notado) há a ausência de uma motivação que defina o real significado do que a polícia é ou do que é a atividade policial. São respostas que são, no mínimo, superficiais, quando não são totalmente contrárias ao real significado da polícia. 

Sabem qual é a importância disso? Simples. Há, entre interessados na carreira policial, a ausência de uma consciência voltada para os problemas que as polícia enfrentam e para o potencial de se tornarem instrumentos de transformação da realidade e de enfrentamento das dificuldade que a transformação da realidade exige.  Costuma-se enxergar a polícia como uma instituição perfeita (o que esta longe de ser), composta por homens perfeitos ou super heróis. Assumem um "corporativismo" antes mesmo de vestirem a farda, ou tomarem o distintivo.

Pensam que a polícia não erra e que está sempre injustiçada. SEMPRE! Se alguém apenas criticar uma ação mal sucedida de alguma equipe de policiais já se inflamam de ódio, lançam aquela já batida frase: "Não gosta de polícia chama o Batman".   Veem a atividade policial como uma atividade emocionante, radical, repleta de adrenalina, e por causa disso, quando chegam a entrar para polícia, desdenham das atividades rotineira ou administrativas. Querem ser do Bope, da ROTAM, do GRE, do CORE. Querem "vibrar", querem ser "Stive" (Influências dos filmes americanos), querem ser "faca na caveira".. Desdenham do policiamento de área, do policiamento comunitário e acabam ficando desmotivados quando caem na realidade do dia-a-dia da polícia; quando descobrem que a realidade chegou, que a vida adulta chegou e que a polícia não é extensão do vídeo game. Não estou generalizando. Não sei se são poucos ou se são muitos, em relação ao total. Só sei que conheço muita gente assim. 

Temos muitas polícias engessadas, sem estrutura e investimentos adequados, sem adequadas condições de trabalho e, principalmente, compostas por membros desmotivados. 

A história muda quando se toma um choque de realidade. Creio que o primeiro passo é saber que as coisas não são bonitas como a nossa tendencia ao romantismo pretende nos convencer que são. A polícia tem muitos problemas. Aliás, o Brasil tem muitos problemas. A desigualdade social, a criminalização da pobreza, a falta de diálogo entre população e polícia, a corrupção de policiais, o crescente número de homicídios, o aumento das reincidências, enfim... São problemas nossos, da sociedade, mas particularmente da polícia, dos órgãos de justiça criminal. 

De tanto enxergamos os problemas de forma romântica, só propomos soluções românticas e ineficientes (ou não propomos solução alguma). Mais do que saber que os problemas existem, precisamos de assumir uma atitude madura que nos torne capazes de trabalhar por soluções, ainda que nos custe a vida, a paz, as noites de sono. Há lugar para quem quer fazer o melhor. Quer ser um policial? Queira ser o melhor, mas não desista pelas mazelas e pelos discursos de que não é possível fazer. Aprenda a se dedicar para entender o papel da polícia, ou ao menos o seu papel como cidadão. Cresça intelectualmente. Não queira ser apenas um repetidor de clichês.  

Se os próximos cursos de formação (seja de soldados, oficiais, investigadores, delegados...) não foram compostos de candidatos determinados a enfrentar a realidade e objetivar a racionalização da segurança pública, será difícil dizer que os órgãos de defesa social irão ser modernizados para atender as enormes dificuldades que enfrentamos.  As nossas polícias precisam de policiais que assimilem a gravidade dos problemas por elas enfrentados. A polícia da modernidade requer não mais homens apenas fortes, carrancudos, "caveiras". Cada vez mais exigem-se bons gestores, educadores, estrategistas, doutrinadores... 

Em fim. Policiais capacitados para transformar as polícias em órgãos cada vez mais eficientes. É claro que as mudanças não ocorrerão imediatamente. ainda existe uma grande resistências de velhos comandantes ou velhos delegados. Resistência à modernidade, resistência ao novo, ao mais eficiente e menos arcaico. Mas é claro que estou dirigindo esse texto aos futuros policiais. Aos candidatos que, assim como eu, não querem viver de repetir erros, clichês ultrapassados ou práticas ineficientes. O futuro começa hoje. Então estude, recicle-se, pense. 


http://praticapolicial.blogspot.com.br/

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