Sou simpatizante de qualquer forma de manifestação e reivindicação popular. Ao mesmo tempo, sou avesso a qualquer forma de violência. Esses dois posicionamentos tornam bastante complexa a análise de algumas táticas de manifestação que ultimamente têm se apresentado no Brasil. O caso não é julgar se nosso país está bem ou não, se o Estado comete violência ou não, se temos ou não educação, saúde, infraestrutura ou segurança de qualidade. É mais do que claro que o Estado brasileiro é perverso, elitista e autoritário.
O ponto a se discutir é a violência enquanto tática de reivindicação. Ou seja… Quanto há de ganho político no protesto que admite depredações, enfrentamento à força policial e práticas afins? Particularmente percebo o uso da violência em manifestações como contraproducente para a própria manifestação, que acaba se inserindo num ciclo comum a qualquer ato onde a violência esteja presente. Seguem abaixo os cinco principais motivos para não usar violência em protestos:
1. Justificam a repressão policial
Quanto mais disposto ao enfrentamento estiver um manifestante mais repressivas as forças policiais serão – com justificativa legal para isso. Ao lançar uma pedra em um policial, está garantida a legítima defesa por parte deste, que pode usar de meio proporcional para repelir a agressão. Às vezes ocorre do policial extrapolar essa prerrogativa, e então o ciclo de violência mútua entre policiais e manifestantes se inicia terminando com feridos, presos e até mortos – como já ocorreu.
2. Abrem espaço para extremistas
Quando um grupo se admite enquanto autor legítimo de violência, abre espaço para que modalidades ideológicas extremistas componham seus quadros – inclusive aqueles que proclamam a violência pela violência. Por isso deve ser muito aprofundado o debate sobre o controle do uso da força por parte das polícias (que usam a força em nome do Estado). E quando isso se dá como tática de reivindicação popular? Qual o controle sobre as intenções e ações de seus adeptos?
3. Dão imagens negativas para que a mídia explore
A grande mídia, de maneira geral, está comprometida com os grandes governos e as grandes corporações – seus principais anunciantes e financiadores. No mundo todo esses são os alvos das insatisfações populares, por motivos óbvios: as elites não têm do que reclamar, e sempre terão a oposição da parte da população que se sente explorada e mal tratada. Ao se apresentarem violentos os protestos concedem a estética de irresponsabilidade e agressividade gratuita, tudo que a grande mídia precisa para negativar inclusive as pautas das manifestações.
4. Espantam manifestantes pacíficos
O público de manifestações geralmente é composto por jovens entusiasmados com uma afirmação política. Ao situar práticas violentas como ingrediente dessas manifestações (algo sempre propagado e estigmatizado pela grande mídia) a tendência é que boa parte dos interessados em se manifestar evitem participar dos protestos, ou sejam desencorajados por familiares e amigos.
5. Justificam o discurso em favor da “ordem”
Todo governo, qualquer que seja a orientação ideológica do partido no poder, dirá que “admite manifestações democráticas” mas não tolerará distúrbios na ordem e na segurança da população. Esse posicionamento, que parece defender os interesses sociais, na prática, visa a manutenção do poder onde ele está. Protestos violentos incentivam esse discurso e geram medidas governamentais como a criação de leis draconianas e gastos com estruturas repressivas (colocar as Forças Armadas nas ruas, por exemplo).
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Quando o povo vai às ruas (como ocorreu em junho do ano passado) qualquer governante se sente pressionado a realizar as reformas em prol de mais justiça social. Ao praticar violência, esse mesmo governante encontra a desculpa que queria para descaracterizar todo e qualquer ato de protesto. Mesmo que as causas sejam justas, as táticas de reivindicação devem ser corretas, eficientes e legítimas.
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