Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

sábado, 14 de junho de 2014

A bola da cidadania


"É triste elencar um hexacampeonato já conquistado, no qual o gasto dos superfaturamentos derivados de atrasos supera o nosso gosto pelo futebol, o alegado de obras viárias que viriam contrasta com o legado pífio que restará, o louvor ao trabalho dos operários dos estádios não diminui a dor pelo número recorde de mortos (nove!) em acidentes evitáveis, o orgulho de sediar o torneio fica maculado pela submissão do Estado brasileiro aos ditames da Fifa", escreve Chico Alencar, professor de História e deputado federal, em artigo publicado pelo blog de Juca Kfouri, 01/06/2014.
Eis o artigo.
Um centro cultural em Madri, instalado em prédio abandonado por iniciativa do ‘Ocupa’ da juventude rebelde, estampa frase marcante: “a cabeça é redonda, como uma bola, para que as ideias possam circular”.
Lá no país dos atuais campeões do mundo de futebol percebi mais uma razão da popularidade dos esportes com bola: o movimento, o giro inesperado, a necessidade do rebatimento ou da habilidade na interação. A capacidade de interrupção, do corte, e, para livrar-se dele, da tabela, do drible, da ágil parceria. Tudo isso exige antevisão, rapidez de raciocínio, inteligência. Um craque sozinho não arruma nada, exceto no tênis ou no pingue-pongue.
Faço essas cogitações porque vou sim, me interessar pelos jogos da Copa do Mundo, em especial os da seleção brasileira, torcendo para que ela faça no campo o que anda faltando na política brasileira: jogo limpo, solidário, lúcido, empenhado, com espírito de equipe.
Recupero as origens de minha paixão pelo futebol – que é a de tantos, e tanta que muda-se de partido e de cônjuge, mas não de time – para dizer também que isso não se choca com os questionamentos sobre os preparativos para sediar a Copa no Brasil. Protestar e torcer não são antípodas.
Digo isso com a autoridade de quem, ao lado de apenas oito deputados (e, no meu caso, de Jean Wyllys, Ivan Valente e do senador Randolfe, na Câmara Alta, como posição de partido), votou contra a Lei Geral da Copa, aquela que dá a base jurídica para esse escrete de escândalos que podiam ser evitados.
Empolgar-se com belas exibições do ‘onze canarinho’, como até os heroicos presos torturados na ditadura o fizeram, em 1970, não inibe o empenho em denunciar o ‘time’ especializado em gols contra que acabou por compor tudo o que faz desta a Copa dos encaFIFAdos.
É triste elencar um hexacampeonato já conquistado, no qual o gasto dos superfaturamentos derivados de atrasos supera o nosso gosto pelo futebol (1), o alegado de obras viárias que viriam contrasta com o legado pífio que restará (2), o louvor ao trabalho dos operários dos estádios não diminui a dor pelo número recorde de mortos (nove!) em acidentes evitáveis (3), o orgulho de sediar o torneio fica maculado pela submissão do Estado brasileiro aos ditames da Fifa (4), a capacidade de mobilizar recursos orçamentários e de bancos estatais (mais de R$25 bilhões!) evidencia o absurdo da carência em vários outros setores de urgente necessidade social (5), a avassaladora propaganda em torno do evento, movida por motes como ‘o futebol está voltando para casa’ ou ‘isto muda o jogo’, choca-se com a realidade de quem foi removido, perdendo sua casa, ou ainda dela necessitando, nesse país com déficit habitacional de dez milhões de moradias (6).
Apesar de tanto bolo, a bola, quando rolar, vai nos interessar, com seu potencial de emular superação e estimular a bela e plástica criação. Diante da TV, reunindo amigos, o copo repartido e o buzinaço a cada vitória fará com que esqueçamos, por bons momentos, as negociatas da Copa, o ‘business’ total do megaevento.

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