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segunda-feira, 23 de junho de 2014

O que pensam os eleitores que avaliam o governo Dilma como regular


A maior diferença entre os que consideram o governo regular e os que consideram o governo ótimo/bom reside na percepção da inflação.

Antônio David
El País

Se junho de 2013 representa uma virada na conjuntura políticado país   , a marca dessa virada parece ser o meio-termo. Pelo menos a se considerar a avaliação do Governo Dilma.

No início daquele mês (7/6), segundo o Datafolha, o governo da presidente Dilma era avaliado como ótimo ou bom por 57% dos eleitores, como regular por 33% e ruim ou péssimo por 9%. Três semanas depois (28/6), a popularidade do governo despencou, segundo o mesmo instituto, mas não a ponto de inverter o quadro.
Desde então, a marca do governo Dilma tem sido o predomínio do "regular", como mostra o gráfico:


Fonte: Datafolha (*)

PESO - Qual é o peso deste eleitor para quem o governo é regular? Sabemos que o eleitor que avalia o governo como ótimo/bom ou como ruim/péssimo tende a votar, respectivamente, em Dilma e na oposição.

A pesquisa estimulada do Datafolha - em que são fornecidos nomes ao entrevistado - revelou que, dentre os que consideram o governo como ótimo ou bom, 72% votam em Dilma, 14% votam em outros candidatos, 5% votam em branco ou nulo e 9% não sabem. Já dentre os que consideram o governo ruim ou péssimo, apenas 2% votam em Dilma, 52% em candidatos de oposição (sendo 31% em Aécio e 10% em Eduardo Campos), expressivos 32% votam em branco ou nulo e 12% ainda não sabem como votarão.

Não é difícil perceber que o pleito de outubro será definido por aqueles que hoje avaliam o governo como "regular". Neste momento, essa parcela do eleitorado divide-se assim: 27% votam em Dilma, 38% em outros candidatos (dos quais 22% em Aécio e 7% em Eduardo Campos), 16% votam em branco ou nulo e 17% não sabem como votarão.

No entanto, a pesquisa aferiu como os eleitores votariam se figurasse o ex-presidente Lula no lugar de Dilma. Nesse cenário, sobre para 41% os que declaram votar em Lula contra 32% dos demais candidatos (sendo 19% para Aécio e 7% para Eduardo Campos), além de 12% que votam em branco ou nulo e 14% que não sabem. Entre os eleitores que consideram o governo Dilma ruim ou péssimo, sobre de 2% para 20% os que votariam em Lula caso ele fosse candidato. O aumento não é desprezível, mas a maioria continuaria com a oposição.

Na projeção    de segundo turno feita pelo Datafolha entre Dilma e Aécio, dentre os eleitores que consideram o governo Dilma como regular 43% votariam em Dilma contra 39% em Aécio. 11% votariam em branco ou nulo e 7% não sabem como votariam. Em sendo Eduardo Campos o adversário de Dilma, a vantagem da petista é um pouco maior dentre os eleitores que avaliam o governo como regular: Dilma teria 44% contra 33% de Eduardo Campos, sendo 14% os que votariam em branco ou nulo e 9% de indecisos.

Para se ter dimensão do peso desta parcela do eleitorado, dentre os que consideram o governo Dilma como ótimo ou bom, Dilma teria 87% contra Aécio e 86% contra Eduardo Campos no segundo turno. Inversamente, entre os eleitores que consideram o atual governo ruim ou péssimo, na disputa Dilma x Aécio, apenas 4% votariam em Dilma, enquanto 69% votariam em Aécio, 23% votariam em branco ou nulo e 4% não sabem em quem votariam. Se o adversário da petista fosse Eduardo Campos, seriam 5% para Dilma, 61% para Campos, 29% brancos e nulos e 5% indecisos.

PERCEPÇÃO E EXPECTATIVAS - A interpretação desses dados exige cuidado, sobretudo aquela que revela a diferença na situação com Dilma e na situação com Lula. Antes de mais nada, deve-se considerar que parcela expressiva do eleitorado tem uma percepção da política muito focada em pessoas. A constatação óbvia é que, entre Lula e Aécio, a maioria dos eleitores da coluna do "regular" prefere o petista, ao passo que entre Aécio e Dilma, a maioria fica com o tucano.

Contudo, é possível ir mais fundo. Seria o caso de constatar que, na verdade, parte desses eleitores distingue entre a pessoa e o projeto que ela representa. Se para esse eleitor o período anterior, em que Lula era presidente, era melhor, e se o período atual não é tão bom, uma parte crê que voltará a ser melhor com Aécio - são os que votariam em Lula se o ex-presidente fosse candidato, mas, sendo Dilma a candidata, intencionam votar em Aécio. O ponto é que nenhum dentre estes eleitores acha que, votando em Aécio, vai piorar. Ao contrário.

Seria necessário discernir o quanto da percepção e das expectativas do eleitor deve-se à sua experiência de vida e o quanto se deve à percepção que ele tem da vida dos demais. Nesse quesito, a imprensa talvez tenha grande influência no sentido de fazer a cabeça das pessoas.

A pesquisa Datafolha perguntou aos entrevistados sobre inflação, poder de compra e desemprego: vai aumentar? vai diminuir? vai ficar como está? Trata-se da expectativa do eleitor quanto ao futuro.

Dentre os eleitores que consideram o governo Dilma como regular, 47% acreditam que o desemprego vai aumentar, 16% acreditam que vai diminuir e 30% acreditam que ficará como está; 25% acreditam que o poder de compra aumentará, 39% que diminuirá e 28% que ficará como está; e expressivos 66% creem que a inflação aumentará, 6% que diminuirá e 20% que ficará como está.

O exame destes dados revela que a maior diferença entre os que consideram o governo regular e os que consideram o governo ótimo/bom reside na percepção da inflação. Curiosamente, dentre os três quesitos, aquele que a oposição elegeu para bater no governo e aquele que tem merecido um grande destaque na imprensa - sejam as opiniões da oposição e aquelas difundidas pela imprensa fundamentadas ou não.

Afinal, o quanto da percepção destes eleitores deve-se à propaganda antigoverno e o quanto se deve a sua própria experiência de vida?

Não admira que a avaliação do governo como "regular" é maior entre os mais pobres, como mostramos no final do artigo. A inflação pesa mais sobre o ombro dos que ganham menos. Os eleitores perceberam em junho do ano passado que os alimentos e alugueis estão mais caros ou cresceu o medo de que encareçam devido ao que a imprensa vincula? Provavelmente, ambas as coisas. Sobretudo os alugueis nas capitais e regiões metropolitanas dispararam. Muitos dentre os mais pobres foram jogados para a periferia da periferia. A oposição e a imprensa aproveitam-se para tentar criar uma situação de descontrole dos preços - quando, na verdade, o preço    dos alugueis é controlado pelo mercado e determinado pela especulação imobiliária.

De qualquer modo, é interessante atentar para outro dado revelado pela pesquisa. Face à pergunta sobre a situação econômica do país e a própria, enquanto 21% dentre os que avaliam o governo como regular acreditam que a situação do país vai piorar, 36% que vai melhorar e 35% que ficará como está, nada menos que 40% dos entrevistados nesse segmento acreditam que sua situação econômica pessoal vai melhorar e apenas 16% acreditam que vai piorar, sendo 40% os que acreditam que ficará como está. O que revela haver certa desproporção entre a percepção e as expectativas guiadas pela própria experiência de vida e aquelas definidas pelo que se ouve e se lê.

DESAFIO - Se há eleitores dispostos a votar em Lula, se o ex-presidente fosse candidato, mas que votariam em Aécio sendo Dilma a candidata, para Dilma o desafio é mostrar, na campanha, que a disputa é de projeto. Que entre ela e Lula não há diferenças, que ambos representam o mesmo projeto, que Aécio representa um outro projeto, e que entre um e outro há uma antítese. Aassociar às pessoas a marca dos projetos que representam.

A considerar o que Najla Passos mostra em artigo publicado na Carta Maior, há elementos para convencer o eleitor disso: o ex-presidente tucano foi apontado pela pesquisa Datafolha como o pior cabo eleitoral do país, com 57% de rejeição. Já Lula, é o melhor cabo eleitoral.

No caso específico dos eleitores que consideram o governo Dilma como regular, 71% lembram do governo Lula como ótimo ou bom. E 32% dizem que votariam com certeza em um candidato apoiado por Lula. Os que dizem que talvez votariam em um candidato apoiado por Lula são 29%. No total, 61%.

Assim, trazendo a disputa do terreno    meramente pessoal para o terreno das ideias, alimentando a polarização entre prioridades, Dilma poderá mostrar que com Aécio será pior. Mas isso não é suficiente. Não basta dizer que com o outro será pior. O eleitor quer que o próximo governo seja melhor. Quer mudanças. Dentre os que consideram o atual governo regular, 84%.

Provavelmente entre o eleitor que quer mudanças, as mudanças desejadas não são necessariamente as mesmas. Face à pergunta "Você é a favor ou contra os protestos que estão ocorrendo em várias cidades brasileiras desde junho do ano passado?", 53% responderam ser a favor, 39% contra. Entre os primeiros, predominam os mais jovens e com maior renda e escolaridade. Entre os segundos, os mais velhos, com menor renda e escolaridade. São duas frações da classe trabalhadora, recortadas pelo critério etário. Dilma terá de falar para ambos. Se ganhar, terá de governar para ambos.

Para tanto, a petista precisa apresentar propostas e assumir compromissos. E cumpri-los, se ganhar a eleição. Assim, paradoxalmente, Dilma terá de atualizar o projeto da qual ela e Lula são representantes. Para fazer o mesmo que Lula fez - ou seja, combinar crescimento econômico    e emprego com redução da pobreza e da desigualdade e inclusão - Dilma terá de fazer mudanças.

A pergunta é: que mudanças são essas? Nesse momento, é necessário que se formulem propostas. A direita já tem a sua: ajuste recessivo. Qual é a proposta da esquerda - além da necessária pressão popular? Cabe a portais como a Carta Maior promover esse debate e aos intelectuais, pesquisadores e militantes da esquerda formular e apresentar propostas viáveis que ajudem Dilma em seu segundo mandato.

PERFIL - Qual é o perfil do eleitor que avalia o governo Dilma como regular?

- 40% dos homens, 36% das mulheres.

- 42% dos eleitores entre 16 e 24 anos, 38% dos eleitores entre 25 e 34 anos, 38% dos eleitores entre 35 e 44 anos, 36% dos eleitores entre 46 e 59 anos e 37% dos eleitores com 60 anos ou mais.

- 37% dos eleitores com ensino fundamental, 40% dos eleitores com ensino médio, 36% dos eleitores com ensino superior.

- 40% dos eleitores cuja renda familiar mensal é de até 2 SM, 38% dentre os eleitores de 2 a 5 SM, 37% dos eleitores de 5 a 10 SM, 29% dos eleitores acima de 10 SM.

- 39% dos que vivem em região metropolitana e 38% dos que vivem no interior.


- 38% dos eleitores do sudeste, 35% dos eleitores do sul, 41% dos eleitores do nordeste, 41% dos eleitores do norte, 34% dos eleitores do centro-oeste.

- 37% dos eleitores católicos, 43% dos eleitores evangélicos (pentecostal), 38% dos eleitores evangélicos (não pentecostal), 28% dos eleitores espíritas e 33% dos eleitores umbandistas.

- 41% dos eleitores que intencionam votar em Aécio Neves, 41% dos que intencionam votar em Eduardo Campos, 36% dos eleitores que intencionam votar em branco ou nulo e 50% dos eleitores indecisos (na pesquisa estimulada).


(Pesquisa realizada entre 3 e 5 de junho. BR-00144/2014. Margem de erro: 2% para cima ou para baixo).
 
 
(*) Antônio David é estudante de pós-graduação    na FFLCH/USP.

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