No mesmo dia em que o presidente dos EUA, Barack Obama, se despediu do Brasil, o governo brasileiro lamentou a morte de civis na Líbia e pediu oficialmente o cessar-fogo o quanto antes para os países da linha de frente do bombardeio.
A reportagem é de Eliane Cantanhêde e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 22-03-2011.
Em nota que começou a ser redigida de manhã e só foi divulgada à noite, depois de intensas negociações entre Itamaraty e Planalto, o governo "manifesta expectativa de que seja implementado um cessar-fogo efetivo no mais breve prazo possível".
Repetindo a argumentação que já usara para se abster na votação do Conselho de Segurança da ONU que abriu as portas aos bombardeios, a nota insiste na retomada de negociações e na busca de saída diplomática.
Divulgado pelo Itamaraty, o texto afirma que o cessar-fogo será "capaz de garantir a proteção da população civil" e criar condições de resolver a crise pelo diálogo.
A versão original era ainda mais direta, pedindo o cessar-fogo imediato e advertindo que, sob o pretexto de ajudar a população líbia, os ataques estavam tendo um efeito oposto e matando civis.
Conforme a Folha apurou, os termos foram amenizados para ter o tom "de um chamamento positivo, não de crítica". Em vez de "pedir" ou "exigir" cessar-fogo imediato, por exemplo, o Brasil "manifesta a expectativa".
Segundo a diplomacia, os termos se aproximam da posição da própria Liga Árabe.
O chanceler Antonio Patriota, principal responsável pela iniciativa, vem mantendo contatos com todos os países que também se abstiveram na votação de quinta passada no Conselho de Segurança: Rússia, Índia e China, com os quais divide o Bric, e também a Alemanha.
Patriota, que se reuniu à tarde com a presidente Dilma Rousseff, também tenta ampliar o leque dos países que mantêm a posição de cautela ante a ação militar. Um desses países é a Turquia, parceira do Brasil na negociação do fracassado acordo nuclear do Irã.
Há, ainda, contatos com a África do Sul, que integra o Ibas com o Brasil e a Índia, e os países da Unasul, no que diplomatas definiram para a Folha como uma tentativa de "gerência mais equilibrada da governança global".
Houve, porém, a advertência de que o governo não quer bater de frente com os EUA e parte da Europa, mas sim insistir nas negociações.
Tanto que o final da nota reafirma o apoio aos esforços do enviado da ONU à Líbia e de comitê da União Africana "na busca de solução negociada e duradoura".
Na avaliação interna do governo, os EUA estão divididos: enquanto Obama apresentava resistências à intervenção armada, a secretária de Estado, Hillary Clinton, assumiu uma posição mais dura desde o início.
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