Militar considerado destemido no combate à criminalidade, paga caro por atuação trágica
Em julho de 2013, cabo Williams Leite de Oliveira atingiu o jovem Igor Fernando do Nascimento com um disparo durante uma abordagem policial
Redação
Há quase sete meses, uma abordagem policial acabou em tragédia no município de Teotônio Vilela, interior de Alagoas. De um lado, um policial militar com 23 anos de carreira, conhecido por sua atuação rígida contra os criminosos, e do outro um jovem de 22 anos, que por algum motivo não atendeu a determinação da autoridade policial e acabou sendo atingido por um disparo de arma de fogo.
A história é do cabo Williams Leite de Oliveira, 40 anos e do estudante Igor Fernando do Nascimento. No dia 11 de julho de 2013, o policial realizava rondas em uma área considerada perigosa do município, e quando o rapaz avistou a viatura, teria acelerado o veículo, que estava com farol apagado e fazia um barulho alto, como bombas estourando, podendo ser confundidos inclusive com tiros. Nesse momento, o militar teria atirado institivamente, por se sentir ameaçado pela atitude do jovem, e um único tiro causou a morte de Igor.
Cabo Williams teria ficado sabendo logo depois que se tratava de um jovem ao qual ele conhecia a família. Igor ficou quatro dias internado, mas acabou não resistindo ao ferimento.
No dia seguinte á abordagem, o militar se apresentou ao 3º Batalhão, em Arapiraca, entregou sua arma, e lá permanece detido até hoje. Apesar de apresentar todos os requisitos para aguardar o julgamento em liberdade – residência fixa há mais de 30 anos, réu primário, estudante do 7º período de Direito, pai de três filhos -, o militar não consegue sequer que seu habeas corpus seja julgado.
As informações passadas neste artigo foram buscadas dentro da própria Polícia Militar e em veículos de comunicação da região onde aconteceu o caso.
Cabo Williams não pode falar com a imprensa e, o caso divide opiniões no município de Teotônio Vilela. De um lado se questiona como um policial considerado disciplinado e severo na atuação profissional se envolveu em um caso desses, e do outro a comoção pela morte do jovem.
Nos bastidores fala-se de perseguição política. Igor seria sobrinho de um ex-prefeito da cidade, sendo este político acusado de desviar milhões em verba pública da cidade no período de 1996 à 2000. O jovem também estaria envolvido em um espancamento que teria deixado a vítima sem os movimentos das pernas. Mas, o intuito não é buscar motivos para a morte do rapaz, o texto relata as informações colhidas na cidade.
Mais de 528 pessoas assinaram um abaixo assinado, atestando o bom trabalho de cabo Williams, considerado valente no confronto contra os criminosos. Atuando por quase cinco anos na 4ª Companhia Independente de Polícia Militar (4ª Cia PM), em Teotônio Vilela, o policial participou da prisão de bandidos e apreensão de roubos e drogas. Dos 59 Termos Circunstanciados de Ocorrências (TCOs) registrados no município, o cabo é responsável por 38, que culminaram com processos na Justiça.
De janeiro de 2012 a julho de 2013, cabo Williams participou de cerca de 200 atuações da PM, em crimes de violência doméstica, crimes ambientais, combate a assaltos a vans, roubos de carros e motos, desacatos e assaltos a banco na região. Em março do ano passado, o militar desbaratou uma quadrilha que furtava energia de alta tensão da Eletrobrás em uma fazenda localizada na zona rural de Teotônio Vilela. O rombo da empresa foi de quase R$ 2 milhões.
Cabo Williams também atuou na prisão dos assassinatos do secretário de Cultura de São Brás, Lucinaldo Simeão de Souza Silva, morto a pauladas em setembro de 2012, em Porto Real do Colégio. Ele também era destemido quando se tratava de crimes políticos, e já teria prendido um vereador no município de Junqueiro.
Além da sua atuação na Polícia Militar, o cabo também palestrava em escolas públicas, prevenindo os estudantes sobre o envolvimento com as drogas.
O cabo hoje vive nas limitações dos muros do quartel. Como dito acima, a Justiça vem adiando o julgamento do habeas corpus e, de acordo com familiares e colegas de trabalho, mesmo que consiga a liberdade provisória, a vida do militar já está marcada pela tragédia. Tragédia esta que também continua marcada na vida dos familiares de Igor, que perderam seu ente ainda jovem.
Mas, o principal questionamento dos familiares e colegas de trabalho de cabo Williams, é a forma como ele vem sendo julgado. Como já dito, o policial apresenta todos os requisitos para responder em liberdade e testemunhas afirmam que o disparo, no caso da morte de Igor, foi instintivo. Seria mesmo perseguição política? O policial estaria recebendo represálias por sua atuação destemida contra a criminalidade, inclusive criminosos que ocupam cargos público? Enquanto as respostas não aparecem claras, o militar amarga o remorso por ter tirado a vida de um jovem, sendo ele pai de um rapaz de 18 anos, além de duas crianças de 6 e 3 anos, e aguarda detido sem saber ao certo qual será o seu destino.
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