Presidentes do PSDB, DEM e PPS afirmam que não vão politizar o julgamento do mensalão do PT para não pressionar o Supremo e que pretendem usar o tema com cautela nas eleições.
As ruas desertas e o vazio na praça dos Três Poderes no primeiro dia de julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal expressaram a dificuldade que os partidos de oposição têm para mobilizar pessoas e protestar contra o governo federal. Eles reviveram um fantasma de 2005, quando, no auge do escândalo — no dia em que o publicitário Duda Mendonça admitiu ter recebido dinheiro de caixa 2 na campanha presidencial de Lula em 2002 — PSDB, DEM e PPS abandonaram a ideia do impeachment porque sabiam que não teriam força nas ruas para pressionar por uma votação de afastamento no Congresso.
Ontem, os presidentes dos três partidos desconversaram e admitiram que ninguém vai "bater bumbo" nem fazer manifestações públicas de rua para pressionar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) durante o julgamento do mensalão. Mesmo depois de o ex-presidente Fernando Henrique divulgar dois vídeos ressaltando a importância do evento e o PSDB distribuir material lembrando que esse era o mensalão do PT, nenhuma liderança expressiva dos partidos inflamou o país. "Se nós criticamos a CUT por querer usar dinheiro público para defender mensaleiros, não poderíamos fazer isso, mesmo sem usar dinheiro público", declarou ao Correio o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).
Para Guerra, a ausência de pressões nas ruas não significa que os partidos de oposição ao governo federal estejam desprezando os efeitos que o julgamento do mensalão poderá causar no PT. "Toda vez que o assunto aparecer na televisão, nos jornais ou nas conversas, as pessoas vão lembrar que esse escândalo de corrupção aconteceu no governo do ex-presidente Lula", prosseguiu.
O tucano estava em São Paulo para acompanhar o primeiro debate entre os candidatos a prefeito de São Paulo. Ele garantiu que José Serra também não pretende privilegiar esse tema durante a campanha municipal para não dar visibilidade a um candidato — Fernando Haddad, do PT — ainda pouco conhecido pelo eleitorado. "Vamos mostrar as propostas de nossos candidatos para as cidades brasileiras", completou o presidente do PSDB.
O presidente do DEM, senador José Agripino (RN), demonstrou surpresa ao ouvir o questionamento sobre as razões pelas quais a oposição não promoveu passeatas ou carreatas ao longo do dia de ontem. "Essa pergunta é séria mesmo? Não vamos politizar essa questão, porque isso é tudo o que o PT quer. Seria uma atitude pouco inteligente da nossa parte pressionar sobre um assunto que é da competência do STF", completou Agripino. Para ele, o noticiário jornalístico servirá para pressionar os petistas ao longo do processo que se desenrolará no Supremo. "Todos têm em mente que esse é um assunto que precisa ser resolvido o mais rapidamente possível", completou o senador.
Já o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), afirmou que o julgamento em si é a maior prova da maturidade das instituições democráticas brasileiras. "Agora não dá para os petistas dizerem que não existiu o mensalão nem o Lula dizer que tudo é uma farsa. O assunto virou uma ação penal no Supremo e o julgamento começou ontem", declarou ele, completando que espera as sentenças, "condenando ou absolvendo, para derrubar as convicções de que os poderosos podem tudo neste país".
Freire acrescentou não ver muito sentido em ruas repletas de manifestantes dizendo que confiam no Supremo. "Por que os petistas não fazem manifestações também? Alegam que querem um julgamento técnico? Mentira, é porque sabem que não há como sair às ruas para defender corruptos", afirmou. No Twitter, o silêncio dos oposicionistas não foi diferente. Coube aos petistas colocar o tema do mensalão entre os tópicos mais comentados do dia. As duas hashtags usadas por defensores dos 38 réus no processo — #ConfioNoSTF e #BrasilConfiaNoSTF — ficaram entre o terceiro e o quinto lugares no ranking de temas mais tuitados ao longo da tarde.
As mensagens acusavam acusavam a imprensa, o procurador-geral, desqualificavam ministros que se opuseram ao desmembramento da ação penal e aproveitavam para divulgar, por meio de um link, um vídeo de protesto contra a "farsa do mensalão". O trauma de 2005 faz com que eles diminuam, constrangidos, a voz, ao lembrar do momento em que tiveram a chance de propor o impeachment de Lula por caixa dois e não o fizeram. "Eu reconheço que houve um excesso de cautela de nossa parte naquele instante", diz Agripino. (Valor Econômico)
Mensalão: a piada do primeiro dia.
"Formação de quadrilha ocorre quando as pessoas se associam com o objetivo de cometer crime. Eu diria que Delúbio, Genoino e Dirceu se associaram em torno de um sonho, de um projeto de poder, de uma ideia de mudar o Brasil, de melhorar o Brasil."
Arnaldo Malheiros, advogado do mensaleiro Delubio Soares.
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