16,1% admitem optar pelo silêncio; especialista diz que culpa é da descrença
FOTO: LEO FONTES
Marcas. Empresário colocou equipamentos de segurança e se mudou para um apartamento; mesmo assim, ele acaba de sofrer um novo assalto
Não é preciso ter vivido algum episódio de violência para se sentir vítima dela. Prova disso é a Pesquisa Nacional de Vitimização, feita a pedido do Ministério da Justiça, que mostra que os belo-horizontinos têm mudado cada vez mais os hábitos para tentar fugir dos criminosos.
Segundo o levantamento, Belo Horizonte é a segunda capital do país em número de alarmes (só perde para Curitiba) e em interfones (atrás de Porto Alegre). Além disso, 64,8% dos entrevistados disseram que evitam sair à noite ou chegar tarde em casa. Até os costumes mais tradicionais entre os mineiros estão mudando: 16,1% dos entrevistados disseram que evitam até falar com os vizinhos.
O estudo completo, com 75 mil entrevistas, deve ser concluído em janeiro do ano que vem, mas O TEMPO teve acesso a alguns dos dados já compilados. Segundo eles, 15,6% dos entrevistados da cidade têm alarme em casa, enquanto em Curitiba o percentual é de 16,8%. Quanto a interfones, 39,7% dos entrevistados da capital relataram ter o dispositivo, ante 44,9% em Porto Alegre.
Para o sociólogo Robson Sávio, o resultado reflete a falta de confiança da população nas autoridades de segurança pública. O sentimento de insegurança, segundo ele, é tão forte que até quem não foi vítima de crime adere aos equipamentos tecnológicos. "A pessoa percebe que a cidade está mais violenta ou tem notícia de que alguém próximo foi vítima de algum crime e começa a tomar medidas de autoproteção".
Essa realidade é percebida também por Wilson Faria Feitosa, 40, dono de uma empresa de segurança que atende, em média, a dez clientes por mês somente para instalar alarmes em residências. "Hoje, a instalação de equipamentos de segurança já faz parte do projeto das casas. Antes, era comum atender clientes e ficar procurando espaço para instalar. As pessoas agora já constroem pensando na segurança", explicou.
O empresário L.A.A.F., 53, se viu forçado a virar um desses clientes. "Entraram na minha casa duas vezes. Resolvi morar em apartamento". Segundo ele, a venda da casa às pressas lhe rendeu um prejuízo de R$ 100 mil. No novo imóvel, ele conta com alarme, cerca elétrica, interfone com visor e chave de segurança para elevador. Ainda assim, o apartamento já foi arrombado uma vez.
Outras pesquisas recentes também mostraram o medo da população. Estudo divulgado em julho pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), por exemplo, revela que 84,2% da população do Sudeste do país tem medo de ser assassinada. No caso da Pesquisa Nacional de Vitimização, realizada pelo Datafolha e Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), ainda não foi informado o total de entrevistados de Belo Horizonte nem todos os números absolutos
Distância pode ter efeito contrário
Ao contrário do que parte da população tem feito, o sociólogo Robson Sávio acredita que o distanciamento entre vizinhos pode ser um tiro no pé. "A vigilância informal entre vizinhos tem um peso porque ela diminui a possibilidade de um estranho chegar a um determinado local sem ser notado. Nas regiões mais nobres, que são mais visadas, onde os vizinhos deveriam ter mais coesão, vemos as relações cada vez mais rarefeitas", afirmou.
É o caso de uma pedagoga de 31 anos que mora há quatro anos no mesmo prédio no bairro Castelo, na região da Pampulha. Ela conta que só conhece uma vizinha, mesmo assim porque elas estudaram juntas quando adolescentes. "Foi a maior coincidência encontrá-la. Mas eu prefiro assim, ninguém sabe da minha vida e, assim, não conta dela para ninguém. Vivo sem ser incomodada. O custo-benefício é melhor do que se eu fizesse amizades". Quando viaja, ela pede a mãe para molhar suas plantas e "ficar de olho" em sua casa. (KA)
É o caso de uma pedagoga de 31 anos que mora há quatro anos no mesmo prédio no bairro Castelo, na região da Pampulha. Ela conta que só conhece uma vizinha, mesmo assim porque elas estudaram juntas quando adolescentes. "Foi a maior coincidência encontrá-la. Mas eu prefiro assim, ninguém sabe da minha vida e, assim, não conta dela para ninguém. Vivo sem ser incomodada. O custo-benefício é melhor do que se eu fizesse amizades". Quando viaja, ela pede a mãe para molhar suas plantas e "ficar de olho" em sua casa. (KA)
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