Renan Calheiros exaltou o compromisso da emissora com a liberdade de expressão e instituiu o Prêmio Roberto Marinho de Mérito Jornalístico
O Senado realizou uma sessão especial, nesta quarta (5), para homenagear os 50 anos da TV Globo, a emissora que nasceu e se consolidou à base da sua associação com a mesma ditadura militar que calou o Congresso e significou a maior ruptura democrática do Brasil.
Frente aos holofotes do maior grupo midiático do país, senadores dos mais diferentes campos ideológicos se revezaram na tribuna para reverenciar as Organizações Globo. De José Serra (PSDB-SP) a Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), passando por Marta Suplicy (Sem partido-SP) e Jorge Viana (PT-AC).
Um dos signatários do requerimento para a homenagem, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), exaltou as qualidades que sua visão particular de mundo enxergam na emissora. ”Vivemos um momento difícil e turbulento da vida nacional, particularmente no que diz respeito às incertezas que têm marcado a economia e a política do país. Ocasiões como essa serão inspiradoras de coragem a partir do exemplo que observamos na história da Globo”, afirmou.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) associou a TV à defesa da liberdade de expressão, valor que apresentou como sendo um dos mais caros à democracia. “Quero reiterar a firme posição do Senado Federal como guardião da liberdade de expressão. Quaisquer insinuações, gestos ou atos no sentido de restringir ou inibir a liberdade de expressão, a qualquer título ou a qualquer pretexto, terão — eu já disse e queria reafirmar — uma resposta altiva deste Congresso”, garantiu.
Calheiros anunciou ainda a instituição, a partir deste ano, do Prêmio Roberto Marinho de Mérito Jornalístico, criado em 2007 pelo então senador Antônio Carlos Magalhães para homenagear o amigo e parceiro que fundou e presidiu a emissora. O senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), escolhido para presidir a comissão que anunciará os vencedores até o final deste ano, também rasgou elogios à TV Globo.
A propósito, nenhum dos 81 membros do Senado teceu uma crítica sequer à emissora. Nenhum deles lembrou a infração à legislação brasileira que significou a criação da TV Globo, a partir de um acordo com o grupo estrangeiro Time-Life, o que era proibido na época. Fato que, inclusive, chegou a motivar um pedido de CPI do parlamento, posteriormente engavetada.
Nenhum parlamentar ousou recordar o quanto a emissora deu sustentação à ditadura que torturava e assassinava brasileiros, a ponto do general Emilio Garrastazu Médici dizer que dormia feliz todas as noites depois de assistir o Jornal Nacional e constatar que, enquanto no mundo pipocavam greves e manifestações, tudo ia bem no Brasil.
Nenhum senador citou que a Globo, durante a campanha pelas Diretas Já, omitiu dos seus telespectadores a existência do movimento político, chegando a registrar uma grande passeata realizada em São Paulo como festividade em comemoração ao aniversário da cidade.
Os parlamentares também não recordaram a edição do debate final da campanha presidencial de 1989 que favoreceu o então candidato Collor de Mello, hoje também senador por Alagoas . Ou qualquer outro exemplo, dentre muitos, do quanto e como a emissora tomou partido e tentou direcionar os votos dos brasileiros em todas as eleições democráticas.
Também não criticaram o monopólio midiático brasileiro, do qual as Organizações Globo , também proprietária de rádios, jornais, revistas e canais de TV a Cabo, são a principal representante.
No parlamento de um Brasil cada vez mais hostil e polarizado, a TV Globo foi tratada como uma unanimidade que ela não é. Afinal, nas ruas e nas redes, crescem cada vez mais os protestos contra a parcialidade do grupo midiático que continua apoiando o grupo político que sustenta a defesa dos seus interesses empresariais.
Filho e herdeiro do legado de Roberto Marinho, o vice-presidente Institucional e Editorial do Grupo Globo, João Roberto Marinho, agradeceu tamanho apoio e reconhecimento no mesmo clima de desapego à verdade e aos fatos históricos.
“A TV Globo não defende partidos, não defende religiões, não defende formas de comportamento, não defende formas de agir. O que fazemos é acompanhar as mudanças da sociedade com as contradições que essas mudanças acarretam”, afirmou.
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