O vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um dos mais tradicionais do país, será extinto a partir deste ano. A reitoria da instituição anunciou ontem que vai aderir totalmente ao processo seletivo ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que utiliza o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para o ingresso na universidade.A decisão foi informada após uma reunião do Conselho Universitário, no início da noite de ontem. Em 2011, a UFMG havia aderido parcialmente ao Enem como forma de ingresso para a primeira etapa, mas a segunda etapa era feita exclusivamente por meio de uma prova da universidade. Agora, o processo será todo feito por meio do Enem e do Sisu.
“A nossa decisão vai ao encontro das outras universidades do Brasil e da metodologia usada em países desenvolvidos. É muito mais democrático porque o aluno poderá fazer um único processo seletivo”, afirmou o reitor da UFMG, Clélio Campolina.
O sistema da política de cotas da universidade continuará o mesmo. “Como aderimos em 2012 com 12,3% das vagas, no próximo ano, esse índice será de 25% e vai atingir, no processo de 2015, os 50% previstos na lei”, explicou.
Apenas os cursos que exigem exames para identificar habilidades – como música, dança e teatro – terão edital específico. Os candidatos a esses cursos farão o Enem e depois a prova de habilidades.
Especialistas. Eliane Fonseca, diretora pedagógica do pré-vestibular Soma, vê a decisão da universidade como positiva. “Já estava na hora de Minas aderir (ao Enem). Os cursinhos em geral sabiam que isso poderia acontecer. A mudança assusta os alunos, mas entendo que agora será mais fácil, pois eles vão estudar para uma coisa só”, explicou.
Carlos Magno Lemos, especialista em educação e professor da Universidade Federal de Pernambuco, concorda. “Os cursinhos vão aderir a essa demanda, e isso será muito positivo porque o aluno estará preparado até para o vestibular em outras universidades”.
Já a especialista em educação Rosângela Mendonça alerta que é preciso tomar cuidado para o Enem não se transformar em um grande vestibular, com dificuldades que excluam os alunos de escolas públicas. “Já existem cursinhos particulares especializados na preparação para o Enem. Temos que ver até que ponto a adesão total ao exame será democrática. O Enem cobra mais a habilidade do aluno do que a memorização, mas há realidades regionais que não são consideradas em um vestibular unificado”.
Alunos. O vice-presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, Gladson Reis, informou que a entidade é a favor da mudança. Porém, ele questiona o fato de a decisão ter sido tomada sem diálogo com os estudantes. “O vestibular era um método que privilegiava os estudantes com condições financeiras de fazer cursinho, mas, mesmo com o Enem, ainda há desigualdade”.
Ironia
Aluno ensina miojo em prova
Um candidato que incluiu a receita de macarrão instantâneo na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) obteve 560 pontos, mais da metade do valor total da prova, de mil pontos.
Carlos Guilherme Ferreira Custódio, 19, iniciou o texto falando sobre o “Movimento Imigratório para o Brasil no século XXI”, tema da redação, mas depois escreveu: “Para não ficar muito cansativo, vou agora ensinar a fazer um belo miojo, ferva trezentos mls de água em uma panela, quando estiver fervendo coloque o miojo, espere cozinhar por três minutos, retire o miojo do fogão, misture bem e sirva”.
Em seu Facebook, o aluno do Centro Universitário de Lavras, no Sul, escreveu que a intenção era testar os corretores do Enem e que deveria receber zero. Procurado, ele não respondeu à reportagem.
O Ministério da Educação informou que o aluno foi penalizado por ter escrito a receita, e que o texto, em partes, foi fiel ao tema.
Para José Francisco Soares, pesquisador do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, a correção da redação do Enem precisa melhorar. “Porém, não podemos nos basear nesse fato e dizer que algum aluno tenha sido prejudicado”. (NS/JS)
Fonte: Jornal O Tempo
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