Emmanuel Pinheiro/22-02-2011
Policiais com submetralhadoras no Aglomerado da Serra: arma em punho só na favela, dizem moradores
A classe social determina o tipo de atendimento que a pessoa vai
receber da polícia. A afirmação parte de especialistas em segurança
pública e da população, que percebe a diferença na abordagem nos
aglomerados e em regiões nobres da capital.
É também uma das conclusões de uma tese de doutorado feita por um
professor que acompanhou, dentro e fora das viaturas, o trabalho da
polícia por mais de um ano. “Os policiais veem isso de forma natural”,
afirma Lúcio Alves de Barros, doutor em ciências humanas pela UFMG. Para
ele, os “homens da lei” refletem um comportamento da sociedade. “A
diferença é que a polícia tem poder e chega a bater e a matar”.
Estereótipo
Durante o trabalho de campo, Barros presenciou e até reproduziu essa
diferenciação. “Depois de algum tempo acompanhando os policiais, passei a
olhar as pessoas da mesma forma que eles, pensando em quais seriam
abordadas ou não de acordo com o estereótipo do criminoso: negro, pobre e
jovem”. A discriminação também existe na forma de tratar os envolvidos e
na dedicação do policial para resolver o problema.
“Os moradores de aglomerados estão acostumados com policiais portando
armas pesadas, fazendo abordagens constantes e levantando suspeitas
infundadas. Isso não ocorre na zona sul, onde as pessoas com certeza vão
reclamar e denunciar o excesso”, diz o professor.
Na pele
O vendedor Wanderson Calixto dos Santos, de 34 anos, morador da região
de Venda Nova, sentiu na pele a diferença. “Apanhei durante uma
abordagem policial, sem motivo. Não fazem isso com rico. Com pobre, o
tratamento é outro. E pagamos os mesmos impostos”.
Em defesa do interesse e do patrimônio das elites
Nos bairros nobres, os moradores não reclamam da abordagem policial
porque, ali, isso não é uma realidade. “Ninguém é parado na rua e nunca
vi policiais portando armas ostensivamente”, diz a médica Elizabete
Godinho. Ela vive no Belvedere, na zona Sul de BH. A disparidade nas
abordagens é percebida, porém, em ocorrências diárias.
Juiz
No mês passado, dezenas de viaturas foram à casa de um juiz após o
imóvel ser arrombado. O caso do comerciante do Belvedere baleado durante
um assalto está sob os cuidados do Departamento de Operações Especiais
(Deoesp) da Polícia Civil. “A justificativa para isso é, claramente,
interesses políticos e econômicos. A polícia deveria manter a segurança
de toda a população, mas prioriza ações para defender a elite”, afirma
Robson Sávio, professor da PUC Minas e especialista em segurança
pública.
Delegados do Deoesp informaram investigar o caso no Belvedere “por
determinação da chefia”. Normalmente, um episódio assim iria para a
delegacia da região onde aconteceu.
A Secretaria de Estado de Defesa Social informou que a orientação aos policiais é dar “atendimento igualitário a todos os cidadãos”
Fonte: Hoje em Dia.
A Secretaria de Estado de Defesa Social informou que a orientação aos policiais é dar “atendimento igualitário a todos os cidadãos”
Fonte: Hoje em Dia.
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