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terça-feira, 1 de outubro de 2013

O troca-troca de partido, com os velhos deputados acostumados a mudar de legenda


Os 34 congressistas que migrarão para o PROS e Solidariedade, recém-criados 

pelo TSE, estão acostumados a mudar de legenda. 


Somados, eles completarão 80 trocas de siglas na carreira.

Os pelo menos 34 parlamentares que constam na lista dos dirigentes do Solidariedade e do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) como futuros filiados somarão 80 mudanças de partido ao longo da trajetória política, caso confirmem a migração para as duas mais recentes legendas do país. Levantamento da reportagem mostra que o recordista entre eles está migrando para o seu sétimo partido. Mas o deputado licenciado Maurício Trindade (BA) não está sozinho entre congressistas que estão acostumados ao troca-troca de siglas. Dos 34, 23 podem representar, no mínimo, a terceira legenda na carreira.

Na bagagem, os migrantes vão levar 13 ações penais que respondem no Supremo Tribunal Federal (STF) e 30 inquéritos nos quais são investigados pela Corte. Os processos referem-se a crimes eleitorais, ambientais, fraude de documentos, irregularidades em licitações e corrupção. O Solidariedade – liderado pelo deputado Paulo Pereira da Silva (SP), ligado à Força Sindical – e o PROS conseguiram registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na terça-feira. O primeiro contabiliza ao menos 23 congressistas e o segundo, 11.

Maurício Trindade será o presidente do PROS – sua sétima sigla – na Bahia. Secretário de Promoção Social e Combate à Pobreza da Prefeitura de Salvador, ele alega que a mudança, a despeito da primeira impressão, é uma questão de coerência. “Sou secretário do prefeito Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM) e meu partido está com o governo do estado. Nas eleições do ano que vem, o ACM Neto fará oposição ao governador Jaques Vagner (PT)”, diz.

Sobre as trocas anteriores (PPB, PSC, PST, PSDB, PL e PR), Trindade argumenta que o PPB acabou e foi se desdobrando em outros partidos. “As legendas que foram mudando. O PDC virou PRB, que virou P…”, confunde-se. Para ele, o troca-troca se justifica pelo fato de “os partidos do Brasil terem dono”. “E se o dono quer ir para um lado, a gente não é obrigado a ir com ele”, argumenta, acrescentando que também não há ideologia partidária no resto do mundo. “A China comunista está tomando Coca-Cola.”

Entre os 23 que caminham, no mínimo, para seu terceiro partido, está o deputado Marcos Medrado (BA), que já passou pelo PRN, PP e PDT, sigla que vai deixar na semana que vem para se filiar ao Solidariedade. O congressista disse à reportagem que vai se filiar à recém-criada legenda na terça-feira. Alegou, no entanto, que só deixará a sigla pela qual foi eleito em 2010 por falta de espaço.

“Tenho 30 anos de vida pública e agora estou saindo por causa de inviabilidade com a direção atual do PDT. Fiquei 20 anos no PP antes. Não gosto muito de mudar de partido”, afirmou Medrado, que é investigado em dois inquéritos que tramitam no STF. “Não respondo a nada por corrupção. (A investigação) é por causa de uma propriedade”, frisou para detalhar o motivo do inquérito no qual o Ministério Público apura suposto crime ambiental.

Já o deputado Carlos Manato (ES) vai ingressar em seu terceiro partido. Ele assinou a ficha de filiação ao Solidariedade anteontem. “Houve problema de espaço no partido (PDT), no âmbito estadual. Por isso, vi uma oportunidade maior para eu crescer no Solidariedade”, admitiu o parlamentar, que será presidente da sigla no Espírito Santo. Manato rejeita a pecha de que seja mais um a trocar indiscriminadamente de partido. Ele relata que se candidatou em 1994 pelo PSDB, mas deixou de militar até ingressar em 2001 no PDT, onde ficou mais de 12 anos.

ESTÁ NO DNA Para o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), casos como o do deputado Maurício Trindade mostram que há políticos que têm “no DNA o hábito de mudar de partido”. “O ex-vereador de Goiás que está a frente do Pros já trocou de partido, senão me engano quatro vezes. Isso mostra que o sujeito é do ramo, a troca de partidos está no DNA dele”, frisou ao se referir ao presidente do partido, o ex-vereador de Planaltina de Goiás Eurípedes Júnior.

Na avaliação de Fleischer, os parlamentares que desembarcam nas agremiações recém-criadas buscam mais espaço e segurança, pois sabem que no Pros e no Solidariedade não correrão o risco de perder o mandato por infidelidade partidária. “Falamos que existem partidos de aluguel, mas também há os deputados de aluguel”, afirmou Fleischer, sem se referir a um político específico.

Donadon

O deputado Natan Donadon (sem partido-RO), preso na penitenciária da Papuda, no Distrito Federal, desde junho, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que possa deixar a cadeia para exercer o mandato parlamentar. Donadon afirma que a prisão em regime fechado impede que a decisão do Legislativo, que manteve seu mandato, seja cumprida. “Se, por um lado, a Constituição autoriza a manutenção do mandato de parlamentar condenado criminalmente e exige que ele frequente um número mínimo de sessões, por outro, o regime de cumprimento da pena deve ser compatível com a deliberação do Legislativo”, afirmam os advogados de Donadon no pedido encaminhado ao STF nesta semana.

Vaivém político

Os novatos, Solidariedade e Pros, garantem que atraíram pelo menos 34 parlamentares para suas legendas.

Juntos, esses 34 congressistas já trocaram de partido 46 vezes.

Caso migrem para as novas legendas, completarão 80 trocas.

Um deles, o deputado Maurício Trindade (PR-BA), está indo para o sétimo partido.

É, no mínimo, a terceira troca de sigla de 23 deles.

Dos 34, apenas nove nunca trocaram de legenda.

Nove parlamentares respondem a ações penais.

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