Em dez anos, entre 2001 e 2010, 93% das pessoas que morreram em supostos tiroteios com a Polícia Militar em São Paulo moravam na periferia. O distrito com mais casos é Sapopemba, na zona leste, com 52 ocorrências. O levantamento do Instituto Sou da Paz usa dados do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade da Secretaria Municipal da Saúde.
As chamadas "resistências seguidas de morte" - na Saúde definidas como mortes por "intervenção legal" - também crescem de acordo com gênero, idade e raça das vítimas. Negros e pardos foram os que mais morreram nos últimos dez anos: 54% do total de vítimas na cidade, enquanto no Censo de 2010 apenas 37% da população de São Paulo se declara dessas raças.
Quase todas as vítimas (99,6%) são homens. Em dez anos, só cinco mulheres morreram em supostos confrontos. Segundo Lígia Rechenberg, coordenadora de análise de dados do Instituto Sou da Paz, a idade dos mortos impressiona: 60% têm entre 15 e 24 anos. "A situação mais estranha é a dos jovens com 16 e 17 anos, que correspondem a 9% do total de vítimas e apenas 3,6% da população. É preciso entender por que esses adolescentes estão morrendo", diz Lígia.
A violência policial em Sapopemba começou a chamar a atenção em 2003. Um dos principais nomes na defesa dos direitos humanos no bairro, Valdênia Aparecida Paulino, sofreu ameaças por denunciar o envolvimento de policiais nos crimes e precisou sair do Brasil. "A falta de equipamentos públicos, moradia digna, acesso de qualidade à educação, saúde e cultura, a atuação desumana da polícia e o envolvimento de jovens com drogas e infrações são os maiores desafios do bairro", diz Sidnei Ferreira da Silva, coordenador do Núcleo de Cultura do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca).
Na zona leste, os bairros de Cidade Tiradentes (33 ocorrências) e Itaquera (31) ficam em quarto e quinto lugares. Brasilândia, na zona norte, é o segundo, com 48 casos. Capão Redondo, na zona sul, fica em terceiro, com 35 ocorrências. Na história recente da PM, em 2004, um caso notório foi o assassinato do dentista Flávio Ferreira Sant'Ana, de 28 anos - os policiais pensavam que ele era um assaltante. Flávio era negro e filho de um sargento aposentado da PM.
R7.
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