Matheus Baraldi, que pedirá o afastamento da cúpula da polícia paulista, critica "estrutura ideológica" que "cria assassinos".
São Paulo – Ao anunciar oficialmente que pretende pedir afastamento da cúpula da Polícia Militar de São Paulo, o procurador da República Matheus Baraldi criticou ontem (26) a "estrutura ideológica da violência" presente no dia a dia da corporação. “Essa estrutura ultrapassou todos os limites. Essa cultura da apologia da violência cria assassinos”, afirmou.
A fala ocorreu durante audiência pública que reuniu mais de 300 pessoas na sede do Ministério Público Federal de São Paulo, no centro da cidade. Em resposta, a Secretária de Segurança Pública de São Paulo informou que irá representar contra o procurador.
Cerca de 200 pessoas foram mortas em apenas dois meses em circunstâncias com indícios de participação de grupos de extermínio formados inclusive por policiais. “Baseados em critérios internacionais, entendemos que é possível solicitar o afastamento do comando da PM”, disse Baraldi.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que “a ideia propalada pelo procurador da República, de que a PM estaria descontrolada e teria que ter o comando substituído, é absurda e capciosa. A Polícia Militar é uma instituição preparada e serve de referência a outras polícias do País. É evidente que, numa corporação com mais de 90 mil homens, erros acontecem. Quando eles ocorrem – como nos dois casos da semana passada – os policiais são presos e, após procedimento disciplinar, expulsos”, em referência ao caso do empresário morto no bairro de Pinheiros, em São Paulo, e de um rapaz, em Santos. O carro que ele estava com outros cinco pessoas foi alvejado 25 vezes por policiais.
O governador Geraldo Alckmin, que não compareceu à audiência nem mandou representante de nenhuma de suas secretarias, classificou a troca do comando da PM como “totalmente descabida” na manhã de ontem.
Para os organizadores da audiência, no entanto, os casos não podem ser vistos como isolados. “Em São Paulo morrem por ano cerca de 500 pessoas, em episódios classificados como resistência seguida de morte”, afirmou a defensora pública Daniela Skromov. Segundo ela, 20% das mortes violentas são de responsabilidade de policiais, enquanto parâmetros internacionais apontam apenas 3% como aceitáveis.
Em meio à audiência, o comandante geral da PM, o Coronel Roberval Ferreira, divulgou em seu Facebook uma carta aberta em que afirma que a polícia não irá se acovardar. A mensagem foi mal avaliada por participantes do ato público. “Temos que caminhar para uma segurança pública que esteja aliada ao respeito integral aos direitos humanos. Esse tipo de postura reativa de dizer que a polícia não irá se acovardar faz parte de um passado”, afirmou o defensor público Carlos Weis, que presidiu a mesa da audiência. Danilo Cara, do movimento Mães de Maio, e Rodolfo Valente, da Pastoral Carcerária, veem a declaração como mais uma “carta branca” do comando para a violência das tropas.
Apesar de defenderem pontos de vista opostos e vaiarem a fala uns aos outros diversas vezes durante a audiência, os representantes da sociedade civil e os de associações da polícia militar que compareceram para defender a corporação não pouparam críticas ao governador Geraldo Alckmin. “Nós não morremos de amores por esse governo, não morremos de amores pelos péssimos salários que eles nos pagam”, disse o coronel Paes de Lira, ex-comandante da PM de São Paulo e ex-Deputado Federal. No entanto, ele afirmou que a audiência foi chamada no “calor do momento” e que “uma corporação centenária não podia ser desmoralizada”.
Os organizadores da audiência propuseram a convocação de uma nova audiência daqui a três meses para reavaliar as ações propostas hoje. Eles se reunirão na segunda-feira (30) para preparar os documentos que serão enviados para a Procuradoria Geral da República.
fonte: Brasil Atual.
Acesse o Artigo Original: http://www.uniblogbr.com/2012/07/violencia-da-pm-de-sao-paulo.html#ixzz22HnCHFj0
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