Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Pai Nosso, há dois mil e onze anos fazem a mesma coisa

Coluna do Professor Virgilio de Mattos -

PAI NOSSO,
HÁ DOIS MIL E ONZE ANOS FAZEM A MESMA COISA!
Virgílio de Mattos
        Se nem o Deus cristão, pai do que foi preso, julgado, sentenciado pela multidão e pelo poder de então, para depois ser torturado e morto pela polícia - que ainda desapareceu com o corpo - conseguiu resolver, o que pensa você, leitor acostumado com dúvidas e dádivas, que pode fazer?
        Os mortos de fome mundo afora. Os presos de todos os gêneros e crimes. Os loucos segregados sem possibilidade de escuta, organização e vida digna. As crianças idem – que uma revisora, era uma vez, mas isso foi recente, disse não existir: gente idem -, para reduzirmos a um minimum minimorum as possibilidades, são crucificadas diuturnamente em um sistema que explora e faz existir a sociedade dividida em classes.
        Dividida em apenas dois grandes grupos: o dos que mandam e o dos que obedecem, a sociedade pensa emprestar a solução de conflitos para o direito penal e que isso resolveria tudo, de mal de amor a genocídio. Para isso conta com seus juízes e tribunais, seus promotores e procuradores de justiça – sempre cismei com essa expressão: “procurador de justiça”, por que não a encontram nunca durante a árdua labuta? –, seus advogados públicos e dativos. E com a sociedade sedenta de sangue desde o ano zero, não importa se Pilatos ou Obama, o imperador de Roma ou o Papa, o dono do “movimento” ou da fábrica de munições.
        Continuamos cercados pela massa de ignorância que faz mover as rodas do mundo: aqueles que são movidos por dinheiro. Aqueles que não acham o lucro imoral. Os perversos que fazem qualquer negócio por uma oportunidade de negócio.
        Há dois mil e onze anos fazem a mesma coisa.
        Veio esse jovem subversivo expulsar os vendilhões da fé e do templo no tempo dos negócios mais escancarados, sem a sutileza com que fazem hoje a mesma coisa. E trucidaram-no.
        Fico admirado. Não com a colocação pronominal, mas com o problema.
        Desde muito menino vendo a imagem sofrida dele pregado, por longos pregos eu imaginava, na cruz. O rosto, muito magro, com esgares. Sobre a cama de minha mãe aquele quadro acompanhou-nos por toda vida – especialmente a dela – uma imagem do Cristo pregado em um cruzeiro num monte Suíço, dizia ela, cheio de neve e árvores, e eu imaginava um dia frio e na tristeza dele.
        Nenhuma solidariedade das massas pobres naquela imagem da infância. Nenhuma revolta. Nada.
        Hoje eu entendo melhor um pouco: deviam estar todos comemorando; com funk, churrasco, axé e cerveja; com a gangue de Barrabás, o “elemento de altíssima periculosidade” da época. Imagino se não teria havido um acerto, alguém levado uma grana, sou sempre muito desconfiado...
        Mataram o outro, o que se lastima a morte na sexta-feira da paixão, chamada santa.
        Direito penal veio sendo sempre isso: uma espécie de máquina impiedosa destruindo tudo através dos tempos, parece uma praga que pegou.
Credo.
[1] - Do Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade. Do Fórum Mineiro de Saúde Mental. Autor de Crime e Psiquiatria – Preliminares para a Desconstrução das Medidas de Segurança, A visibilidade do Invisível e De uniforme diferente – o livro das agentes, dentre outros. Advogado criminalista. virgilio@portugalemattos.com.b

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