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sexta-feira, 8 de março de 2013

Alfabetização: afinal do que se está falando?

Para educador, governo erra na medida provisória que estabelece oito anos como a idade certa para alfabetização de crianças: fica bem com grupos das universidades e mal com a sociedade


por Congresso em Foco |


João Batista Araujo e Oliveira *

​O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, diz que é para alfabetizar as crianças até o final do 3º ano. Já a secretária municipal de Educação do Rio, Cláudia Costin, afirma que, na cidade, a alfabetização deve ocorrer até os seis anos, no 1º ano. Paula Louzano, da Universidade de São Paulo (USP), apontou, no programa Bom Dia Brasil, que deve ser aos seis anos, como na escola privada. O IBGE afirma que 15% dos alunos do 3º ano são analfabetos. E os dados da Prova Brasil de Língua Portuguesa indicam que cerca de 60% dos alunos do 5º ano não conseguem fazer uso da língua. Certamente, não se está falando da mesma coisa.
​Eis o cerne da questão: o que é alfabetização? O que é alfabetizar? Como saber se o aluno está alfabetizado? Por que tanta polêmica em torno disso?
​A questão é ideológica, e precisa ser debatida nesses termos.  A comunidade científica internacional não tem dúvidas sobre o que seja alfabetizar. Se o ministro quiser, encontrará na Capes ou entre seus antigos colegas do Ministério de Ciência e Tecnologia quem lhe informe sobre a Ciência Cognitiva da Leitura. Os países que têm nota boa no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) sabem o que é alfabetizar e quando se faz isso. Em todos eles, isso se dá em um ano, começa e acaba no 1º ano da escola. Finlândia e Itália levam seis meses, França pouco mais de um ano por causa da ortografia, não da leitura. Só os países de língua inglesa – ricos ou pobres – demoram mais devido à complexidade de seu código alfabético. Se quiser, o ministro tem como se informar.
​Por que o Brasil não se alinha com esse entendimento? Porque as Faculdades de Educação consideram – desde a década de 1980 – que alfabetizar nesse sentido compartilhado internacionalmente é algo menor, mecânico, depreciativo e, sobretudo, algo que não pode ser ensinado e avaliado como tal? O que nos credencia à tamanha arrogância?
​Se não houvesse tanta ideologia, seria fácil resolver a questão. Bastaria um programa de ensino que prescrevesse o que deve ser ensinado no 1º ano e como isso seria avaliado – na escrita e na leitura inclusive na fluência de leitura. Se o Brasil quisesse avançar mais depressa, também exigiria que as escolas ensinassem usando os métodos de alfabetização comprovadamente eficazes. Esses existem, são conhecidos e a diferença que fazem é enorme. O ministério afirma o contrário, mas está equivocado e com isso prejudica o país. O resto – todo o resto – é questão de programa de ensino de Língua Portuguesa ou de outras coisas – certamente não existe alfabetização matemática e o contorcionismo verbal faz mais mal à saúde mental do que o cigarro para o pulmão.
​Na recente votação na Câmara dos Deputados sobre o desastrado programa da alfabetização na Idade Errada, um terço dos deputados se opôs à medida. É inédito. Cabe ao Senado aprofundar o debate.
O governo pode estar bem com grupos da universidade, mas está perdendo sintonia com a sociedade. É pouco provável que o ministro esteja na pasta daqui a três anos para avaliar o tamanho do desastre.  Ele pode até ganhar a batalha agora. Mas o Brasil perde a guerra.
É educador e presidente do Instituto Alfa e Beto, ONG criada em novembro de 2006 com a missão de disseminar e promover políticas e práticas de educação baseadas em evidência.
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