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O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Morte de sargento expõe riscos da rotina dos bombeiros

Sargento morta após combater incêndio na Savassi foi a quinta militar dos Bombeiros a morrer em ação nos últimos quatros anos, vítima de um trabalho que é sinônimo de risco
Corpo de Fernanda chega em carro aberto e é recebido por colegas consternados: apaixonada pelo trabalho, ela morreu cumprindo a missão que abraçou (Jair Amaral/em/D.a Press)
Corpo de Fernanda chega em carro aberto e é recebido
 por colegas consternados: apaixonada pelo trabalho,
ela morreu cumprindo a missão que abraçou
O ritual se repete diariamente: antes de sair para trabalhar, o soldado do Corpo de Bombeiros Anauê Sandino sempre pede proteção a Deus; quando chega, agradece por voltar ileso. Para muitos, a profissão desses militares é de heróis, mas o que poucos percebem é que esses profissionais correm os mesmos riscos que as pessoas que resgatam. Vez ou outra, um desastre faz lembrar essa realidade. Foi o que ocorreu na quinta-feira, quando a colega do soldado, a sargento Fernanda Ferreira Patrocínio de Oliveira, de 33 anos, morreu em circunstâncias ainda não esclarecidas após combate a incêndio em um prédio da Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte.

Ontem, ele se despediu dela no Cemitério Parque Renascer e reavaliou os cuidados que deve ter em sua rotina. Fernanda foi a quinta bombeira morta em Minas no exercício da profissão nos últimos quatro anos. O fogo no prédio já havia sido controlado quando a sargento foi encontrada inconsciente no elevador por um dos moradores. Antes, ela havia sido vista entrando no prédio sem equipamentos de segurança. Retornou bastante suada e demonstrando cansaço. Foi orientada a colocar máscara com cilindro de oxigênio e voltou para o interior do prédio. 

Ocorrências como a que vitimou Fernanda estão longe de representar o único risco a que estão expostos esses profissionais, também vulneráveis ao atender ocorrências de trânsito, por exemplo. Em 21 de janeiro do ano passado, quatro pessoas foram atropeladas por uma carreta carregada de bois na BR-135 em Montes Claros, Norte de Minas. Entre elas estava um bombeiro que atuava no resgate às vítimas de outro acidente. Claudionor Silva Cordeiro, de 32, morreu.

 “Enfrentamos o perigo todos os dias”, conta o sargento Wellerson Henrique, que trabalhou com Fernanda no 2º Batalhão de Bombeiros Militares de Contagem e ontem esteve no velório da colega. Segundo ele, acidentes de trabalho ocorrem, mas em todas as operações os militares prezam pela própria segurança para salvar vidas.

A natureza das operações, porém, não garante que a precaução tornará a ação 100% segura. “Quando a gente sai para atender uma ocorrência, a gente não sabe se volta. Prestamos o melhor atendimento à sociedade para sair do serviço com a consciência tranquila”, acrescenta o soldado Anauê Sandino. Entre as atividades de risco ele cita o mergulho, corte de árvores, atividades em alturas, soterramento, incêndios e ocorrências com risco de explosão. 

 “Seu sonho era salvar vidas”

“Ela estava sempre sorrindo. Se chorava, era de emoção.” Essa é a maior lembrança que a auxiliar administrativa Maria Alaíde Ferreira da Silva, de 55 anos, pretende guardar da filha Fernanda. “Saber que ela morreu salvando vidas me conforta”, disse a mãe, ontem, durante velório.

Maria Alaíde conta que desde pequena sua filha tinha o desejo de salvar pessoas. Trabalhou com análises clínicas, fez faculdade de enfermagem e atuou durante anos nos hospitais Belo Horizonte e Luxemburgo antes de entrar para os Bombeiros. “Eu sabia que era uma profissão de risco, mas nunca fomos contra o desejo dela. Sempre a admirei, pois é uma profissão abençoada”, disse a mãe. 

O pai dela, o almoxarife Gladiston Vicente da Silva, de 57, foi ao velório com a camisa dos Bombeiros que ganhou da filha, que gostava do serviço operacional. “Ela fez parte da equipe da Cidade Administrativa, mas pediu para ir para a rua”, contou. Para ele, a morte de Fernanda precisa de respostas da polícia. “Disseram que não tinha desfibrilador com eles no incêndio. Ficaram meia hora tentando reanimá-la com massagens. Eles têm que descobrir o que ela estava fazendo no elevador, pois é o local menos indicado em caso de incêndio, pois pode faltar energia e a pessoa ficar presa”, comentou. Diante das dúvidas quanto às circunstâncias da morte, o desejo de Fernanda de ser cremada não foi atendido. 

O chefe do Departamento de Investigações da Polícia Civil, delegado Wagner Pinto de Souza, disse que um inquérito deverá ser instaurado para apurar as circunstâncias da morte. Os bombeiros também abriram investigação interna. “Vamos apurar se houve falhas humanas e se os equipamentos usados eram os ideais”, disse o assessor de comunicação da corporação, capitão Frederico Pascoal. 

O corpo de Fernanda chegou ao cemitério em um caminhão aberto do Corpo de Bombeiros, em cortejo seguido por várias viaturas. A Bandeira do Brasil cobria o caixão da sargento, que estava nos bombeiros havia quatro anos. Foi na corporação que conheceu o marido, o soldado Rodrigo do Patrocínio Oliveira, que hoje presta serviços na Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim.


Fonte: Do Jornal Estado de Minas

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