Ação focada no mercado varejista mira as crescentes dificuldades do segmento na contratação de padeiros
imagem de destaque Marcelo Sant'Anna/Imprensa MG
Os recursos necessários para a linha de supercongelados foram completados pelo Ministério Público do Trabalho
De olho nas mudanças no mercado varejista, o Centro de Reintegração Social (CRS) da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Pouso Alegre, no Sul de Minas, começa a produzir pães supercongelados. Com um investimento de R$ 100 mil em equipamentos, os 11 recuperandos, como são chamadas as pessoas em cumprimento de penas de privação de liberdade nas Apac’s, que levam ao forno 5 mil pães por dia, agora vão se dedicar também a congelar a 45 graus Celsius negativos a massa cortada e enrolada.
A inovação faz parte da cultura empreendedora da Apac de Pouso Alegre, com ramificações na indústria, na agropecuária e na prestação de serviços. O novo negócio mira as crescentes dificuldades dos estabelecimentos varejistas de contratar e manter padeiros.
Graças ao supercongelamento, a fermentação é interrompida. Depois desse choque térmico, o produto pode ser conservado num freezer comum. Na medida da demanda, os pães são retirados da refrigeração para fermentação e crescimento por algumas horas e, em seguida, assados.
O gerente de produção e superintendente-geral adjunto do CRS de Pouso Alegre, Divino Barbosa Soares, explica que boa parte do investimento na linha de pães supercongelados foi garantido pela venda do rebanho leiteiro, com a desativação da ordenha. Eram 200 litros diários. Segundo o diretor, a venda do excedente, de cerca de 120 litros por dia, vinha se mostrando antieconômica. O braço agropecuário da Apac de Pouso Alegre, no entanto, foi mantido, com a criação de gado de corte, suínos, plantação de café e milho.
Os recursos necessários para a linha de supercongelados foram completados pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), que destinou ao projeto valores arrecadados com a aplicação de multas a empresas locais.
A confiança depositada pelo MPT no trabalho dos recuperandos da Apac de Pouso Alegre tem precedente. Há poucos meses entrou em operação uma extrusora de plástico adquirida por R$ 75 mil, também proveniente de multas em ações trabalhistas. Num galpão do CRS, três recuperandos se dedicam a produzir estojos de carregadores de bateria de equipamentos eletrônicos para a MCM, uma fabricante de Santa Rita do Sapucaí.
Adriano Carlos do Carmo é um desses trabalhadores. Antes de ser recuperando morava nas ruas e não tinha perspectiva nem sequer de um trabalho fixo. Na Apac, teve a oportunidade de se qualificar. “Antes de começar a trabalhar aqui no galpão, a gente fez um treinamento para aprender a mexer nos computadores e nas máquinas. Eu nunca imaginei que pudesse, um dia, chegar tão longe. Principalmente, que essa oportunidade surgisse dentro de uma prisão”, conta o recuperando.
A atividade industrial e de prestação de serviços do CRS de Pouso Alegre inclui oficina mecânica, serralheria, marcenaria e limpeza de bicos de injetoras de plástico da fabricante de eletrônicos Johnson Controls.
Repasses
O CRS da Apac Pouso Alegre tem capacidade para acolher 200 recuperandos. Em 2015, a Seds já repassou R$ 1,075 milhão para a manutenção do centro. Considerando as 33 Apac’s em funcionamento em Minas Gerais, os repasses somaram R$ 18,1 milhões neste ano.
As Apac’s são instituições da sociedade civil que se encarregam da manutenção, segurança e atendimento aos presos, com o apoio institucional do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.
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