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quarta-feira, 21 de março de 2012

Assassinatos racistas deixam França em estado de alerta


A França entrou em alerta máximo nesta segunda-feira. Um homem assassinou a tiros quatro pessoas, três crianças e um adulto, na porta de uma escola judaica, em Toulouse, no sul da França. O indivíduo repetiu a cenografia que havia empregado entre 11 e 15 de março quando assassinou três soldados franceses de origem magrebina e feriu gravemente um quarto, oriundo das Antilhas francesas. A polícia investiga três militares franceses ligados a grupos neonazistas.

Paris - Um lobo solitário, adepto da eliminação racial, assassinou a tiros quatro pessoas, três crianças e um adulto, na porta de uma escola judaica, em Toulouse, no sul da França. O indivíduo repetiu a cenografia que havia empregado entre 11 e 15 de março quando assassinou três soldados franceses de origem magrebina e feriu gravemente um quarto, oriundo das Antilhas francesas. A polícia já apurou que o criminoso usou a mesma arma nos dois atentados. Segundo adiantou o semanário Le Point, as autoridades estão buscando três militares franceses ligados a grupos neonazistas que pertenciam ao mesmo regimento que os três militares assassinados a sangue frio nas localidades de Toulouse e Montauban.

O atentado desta segunda-feira foi um ato de barbárie completo: um pouco antes das oito da manhã, o indivíduo, a bordo de uma potente motocicleta branca, chegou às portas do colégio judaico Ozar Hatora, de Tolouse. Ele disparou contra as pessoas que estavam na porta e matou a queima-roupa um professor de religião de 30 anos, suas duas filhas de três e seis anos e uma outra menina de oito anos, filha do diretor do colégio. Esta última vítima morreu nos braços de seu pai. A matança continuou logo em seguida dentro do colégio. O indivíduo entrou no colégio para perseguir os alunos, disparando para todos os lados. Outras cinco pessoas ficaram feridas, entre elas um jovem de 17 anos que se encontra em estado crítico.


O caráter racista das ações não deixa lugar a dúvidas. O até agora desconhecido matou em dois dias pessoas de origem magrebina, judeus e feriu um negro. No atentado de segunda, atirou para matar, não importando se fossem crianças ou adultos. O ministro francês do Interior, Claude Guéan, declarou que o sentimento de impunidade do assassino preocupa o governo. A descrição feita por testemunhas e as imagens registradas pelas câmeras de vigilância dão conta de um homem frio, perfeitamente treinado no uso das armas e sem qualquer compaixão. Após matar o professor, sua primeira vítima, o homem perseguiu a menina de seis anos e matou-a a tiros. “Disparou contra tudo que tinha pela frente”, disse o promotor Michel Valet. Ele tinha duas armas, uma calibre 11,43 e outra de 9 milímetros. Usou primeiro a pistola de 9 milímetros e, em seguida, sacou a outra a arma, com a qual continuou a matança. A arma calibre 11.43 foi a mesma empregada nos assassinatos dos três militares.

Nestes crimes anteriores, o homem atuou com a mesma metodologia e frieza. O semanário conservador Le Point adiantou que as investigações apontam para a participação de três militares neonazistas pertencentes ao 17º regimento de engenheiros paraquedistas de Montauban. Em 2008, o seminário satírico Le Canard Enchaêné e outros jornais publicaram uma foto na qual se viam estes militares fazendo a saudação nazista diante de uma suástica. Dois dos três militares assassinados na semana passada pertenciam a este regimento. O perfil dos três soldados neonazistas coincide com o retrato que surge dos testemunhos dos crimes: grandes, musculosos, cheios de tatuagens e vestidos com roupas pretas. Esta não é, contudo, a única pista explorada pelos investigadores.

As semelhanças entre os três assassinatos são muito eloquentes: a moto, a arma, as descrições das testemunhas e o fato de que todas as vítimas têm origem étnica e confessional distinta. O presidente francês foi imediatamente ao local dos fatos, mesma atitude tomada pelo candidato socialista François Hollande. Nicolas Sarkozy decretou um minuto de silêncio para esta terça-feira. “Toda a República francesa foi afeta por este drama abominável”, disse Sarkozy. O massacre no colégio de Toulouse interrompeu a campanha eleitoral para as eleições presidenciais do próximo 22 de abril e 6 de maio (segundo turno). A campanha entrava nesta segunda-feira em sua fase oficial com a lista final dos 10 candidatos. Sarkozy e Hollande cancelaram seus atos de campanha, que recomeçará na quarta-feira, após a realização dos funerais dos três soldados assassinados em Toulouse e Montauban.

A França entrou em alerta máximo nesta segunda-feira. O assassino segue solto. À noite, milhares de pessoas realizaram uma caminhada em Paris da Praça da República até a Praça da Bastilha. Os sete assassinatos provocaram uma sensação de horror e uma união nacional. Os crimes ocorreram em um clima exacerbado pela campanha eleitoral. Os estrangeiros tem sido alvo de incontáveis ataques por parte de candidatos como a ultradireitista Marine Le Pen e autoridades do Estado. O rosário de agressões e referências ofensivas alcançou níveis muito baixos na campanha. O gesto de um louco reclama prudência e a evitar interpretações rápidas e abusivas. A democracia racial é uma marca desses tempos, seja qual for o continente. Os fundamentalistas de todas as confissões sempre o mesmo no final: a desintegração.

Tradução: Katarina Peixoto

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