Policial civil reforça denúncias contra a cúpula de segurança de Alagoas
Esposa de Wilson Magalhães procurou o Primeira Edição para reforçar denúncias sobre tortura de presos em Casa de Custódia
Afirmando que seu marido está sendo perseguido desde o dia 2 de fevereiro de 2009, quando descumpriu uma ordem do então comandante-geral da Polícia Civil de Alagoas, Marcílio Barenco, a esposa do policial civil Wilson Magalhães, procurou o Primeira Edição para reforçar as denúncias já publicadas em nosso portal (leia aqui) e apresentar novos documentos que, segundo ela, incriminam membros da cúpula de segurança do Estado, que estariam envolvidos em crimes de sequestro, tortura, peculato, extorsão e abuso de poder.
“O Barenco ordenava que os agentes que estivessem de plantão na Casa de Custódia I, não permitissem que os advogados dos presos comuns pudessem ver seus clientes. Meu marido permitia a entrada dos advogados, e desde então começaram as ameaças”, afirma Samyra Magalhães. O detalhe é que a Casa de Custódia em questão, só deveria manter detidos policiais civis acusados de crimes.
Os documentos arquivados por Wilson comprovariam que os presos comuns eram retirados do Sistema Prisional e levados para a Casa de Custódia I, para sofrer todo tipo de tortura. Um deles, identificado como Cícero Aquino, teria sido levado para o Hospital Geral do Estado (HGE), durante o plantão dos dias 29 e 30 de setembro de 2009, alegando que estaria sendo envenenado dentro da Casa de Custódia.
Samyra relatou os nomes dos policiais civis que também teriam assinado os relatórios onde estão registrados os crimes cometidos dentro da Casa de Custódia: José Alberto Herminegíldo da Silva, José Luciano Vasconcelos, Antônio Alves do Nascimento, Luiz Augusto Alves, Maurício Antônio Moreira Torres, José Petrucio , Wellington Santos, Paulo Fábio Porto Esperon, Marcos Adriano, José Cláudio Martins, Edgar Costa Sobrinho, Marcio Lima Costa e outros.
“Além deles, diversos corregedores da Polícia Civil têm conhecimento da pratica de tortura, mas omitiram em seus relatórios a presença de presos comuns em solitárias dentro da Casa de Custódia I. Além disso, desde novembro do ano passado que as escalas dos policiais das Custódia I e II não são publicados no Diário Oficial do Estado”, denuncia.
De acordo com Samyra, o presidente do Conselho de Segurança, advogado Paulo Breda, sabe das denúncias.
Ameaças
“Na época em que meu marido confeccionou o B.O. [Boletim de Ocorrência], não existia nenhuma corregedoria contra ele, mas, depois das denúncias, o Conselho de Segurança forjou um processo contra ele, afirmando que ele teria sacado uma arma contra outro policial, o Wellington Barbosa. Então, Wilson foi afastado preventivamente, mesmo estando em auxílio doença, sendo diagnosticado estresse [F43.2]. Ele foi submetido à junta médica e lhe tiraram a arma, o que diminuiu ainda mais a proteção dele e de nossa família”, afirma Samyra.
“Na época em que meu marido confeccionou o B.O. [Boletim de Ocorrência], não existia nenhuma corregedoria contra ele, mas, depois das denúncias, o Conselho de Segurança forjou um processo contra ele, afirmando que ele teria sacado uma arma contra outro policial, o Wellington Barbosa. Então, Wilson foi afastado preventivamente, mesmo estando em auxílio doença, sendo diagnosticado estresse [F43.2]. Ele foi submetido à junta médica e lhe tiraram a arma, o que diminuiu ainda mais a proteção dele e de nossa família”, afirma Samyra.
Segundo a esposa de Wilson, imagens de câmeras de segurança comprovariam que o policial não teria sacado nenhuma arma para o colega, mas estas provas nunca foram colhidas.
Ainda de acordo com a esposa do policial civil, há seis meses sua família está sob proteção do Conselho Estadual de Segurança, porém, nem tudo o que lhes foi prometido, está acontecendo de verdade. “O Conselho fingiu nos dar segurança vinte e quatro horas. Eles colocaram segurança somente durante o dia”.
Esta semana a família teria passado por maus bocados, quando criminosos forjaram o sequestro da mãe de Wilson. “A avó dele passou mal e teve que ser internada em um hospital. As pessoas que nos ligaram tinham informações que só a família e a polícia sabem dos detalhes. Eles ainda colocaram uma mulher gritando, fingindo ser minha sogra”, conta.
De acordo com Samyra, existe um B.O. confeccionado pela mãe de Wilson, onde consta que ela foi vítima de um assalto, e feita refém há alguns anos. As pessoas que ligaram esta semana tinham essa informação e a usaram para assustar a avó do policial.
“No dia da ligação, a Polícia Militar foi acionada, entramos em contato com promotores de Justiça, mas depois descobrimos que era um trote. No entanto a mãe de Wilson procurou um veiculo de comunicação para denunciar o caso e agora vem recebendo mensagens com ameaças pelo celular. As pessoas que enviam essas mensagens, ameaçam também a irmã mais nova do meu marido, que é menor de idade. Eles sabem tudo sobre a vida da nossa família”, afirma Samyra.
Ainda de acordo com a esposa do policial civil, no último sábado o carro da família estava com os quatro pneus baixos pela manhã e, durante a noite três indivíduos teriam tentado atear fogo no veículo. “Pela manhã os pneus foram murchos e dentro do condomínio onde estávamos. E, de noite, por volta da meia-noite, três homens estavam rondando nossa residência para incendiar nosso carro. Eles rondaram a região por cerca de três horas, e só desistiram por conta dos seguranças particulares e dos vizinhos, por que nós ligamos pra polícia, mas não apareceu nenhuma viatura para atender nosso chamado”.
Órgãos se omitem
Samyra acusa ainda o Conselho de Segurança de omissão. “É do conhecimento do Conselho que nossa casa foi invadida em outubro do ano passado. Roubaram a chave mestra do carro e retiraram os freios. Além disso, a cerca - elétrica do condomínio foi cortada, mas nenhuma providência foi tomada, pois é do interesse de autoridades locais que meu marido seja assassinado antes de chegar em Brasília”.
Samyra acusa ainda o Conselho de Segurança de omissão. “É do conhecimento do Conselho que nossa casa foi invadida em outubro do ano passado. Roubaram a chave mestra do carro e retiraram os freios. Além disso, a cerca - elétrica do condomínio foi cortada, mas nenhuma providência foi tomada, pois é do interesse de autoridades locais que meu marido seja assassinado antes de chegar em Brasília”.
Ela afirma ainda que o marido entrou em contato com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, e que, depois disso procurou diversos outros órgãos, mas que nenhum se pronunciou e tampouco afastaram os acusados dos seus cargos, evitando que provas sejam destruídas.
Segundo Samyra, Wilson Magalhães entregou cópias de alguns documentos que incriminam diversas autoridades em Alagoas ao seu advogado e a um jornalista de uma rede de televisão nacional. “Inclusive, o subsecretário da Defesa Social, Paulo Cerqueira, aparece nos documentos, acusado de crimes de tortura”, denuncia.
“A 17ª Vara Criminal de Alagoas também tem participação em diversas irregularidades na Casa de Custódia II, onde mais de 60 presos foram mantidos incomunicáveis nas celas 7, 8 e 9, pois as mesmas não possuíam câmeras. Os detentos não tinham contato nem com seus advogados”, afirma.
Farra de adicionais
A esposa de Wilson contou ainda que existe uma “farra de adicionais” noturnos e diárias pagas a policiais civis envolvidos em diversas atividades criminosas. “Policiais que não trabalham sequer uma noite, recebem quinze adicionais noturnos. Para se ter uma ideia, a senhora Maria Gorete Cavalcante - que não tem nível superior - recebe como gerente da Central de Polícia e finge ser coordenadora da Casa de Custódia I, cargo esse que não existe, mas mesmo assim sua nomeação foi publicada no Diário Oficial do Estado. Além disso, ela recebe adicional noturno como se estivesse trabalhando em Maceió e recebe diária como se estivesse de plantão em Recife, isso em um mesmo dia”, afirma Samyra.
A esposa de Wilson contou ainda que existe uma “farra de adicionais” noturnos e diárias pagas a policiais civis envolvidos em diversas atividades criminosas. “Policiais que não trabalham sequer uma noite, recebem quinze adicionais noturnos. Para se ter uma ideia, a senhora Maria Gorete Cavalcante - que não tem nível superior - recebe como gerente da Central de Polícia e finge ser coordenadora da Casa de Custódia I, cargo esse que não existe, mas mesmo assim sua nomeação foi publicada no Diário Oficial do Estado. Além disso, ela recebe adicional noturno como se estivesse trabalhando em Maceió e recebe diária como se estivesse de plantão em Recife, isso em um mesmo dia”, afirma Samyra.
Mesmo com as denúncias do policial civil, segundo Samyra, o Conselho de Segurança procurou proteger o então casal de diretores da Casa de Custódia I e Casa de Custódia II, Maria Gorete, que agora tem o cargo de coordenadora, e Murilo Moura, que recebem 30 adicionais noturnos. “Os dois são envolvidos em diversas práticas de tortura com participação direta de um promotor de execuções penais, que também é membro do Conselho de Segurança”, afirma Samyra, sem querer citar mais nomes.
Wilson Magalhães, segundo sua esposa, teria denunciado o casal por tentativa de homicídio na área do 4º Distrito Policial, em frente a uma agência bancária. Samyra não entrou em mais detalhes, mas afirmou que promotores do Grupo Estadual de Combate as Organizações Criminosas (Gecoc), acoberta Maria Gorete e Murilo Moura, junto com a 17ª Vara Criminal.
“Eles acobertam diversas atividades criminosas de policiais ligados ao ex-delegado geral da Polícia Civil, Marcílio Barenco, que de forma muito conveniente foi nomeado em Minas Gerais pelo governador que é do partido PSDB, assim como o governador de Alagoas. Além do mais, o nome de Barenco não está na lista de aprovados do concurso publicado no Diário de Minas do dia 25 de agosto de 2007”.
Além desses órgãos públicos de segurança, Samyra afirma que o presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas (OAB/AL), Gilberto Irineu, também se omitiu nesse caso. “De posse de documentos importantes, a OAB não acionou a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que só foi acionada pelo deputado estadual, Judson Cabral”.
Wilson Magalhães esteve no Ministério Público para pedir proteção e denunciar a omissão dos demais órgãos. “Eles pediram 60 dias para conclusão do processo”, finalizou Samyra.
Fonte: Primeira Edição
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