Por Sílvio Carneiro - é jornalista
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Diógenes, o Cínico, era um filósofo da Grécia Antiga que tornou-se um mendigo que habitava as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude. Ele vivia num grande barril, no lugar de uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por “um homem honesto”. Reza a lenda que seus únicos bens eram um alforje, um bastão e uma tigela (que simbolizavam o desapego e autossuficiência perante o mundo), sendo ele conhecido também, talvez pejorativamente como kinos, o cão, pela forma como vivia.
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A felicidade – entendida como autodomínio e liberdade – era a verdadeira realização de uma vida. Sua filosofia combatia o prazer, o desejo e a luxúria pois isto impedia a autossuficiência. A virtude – como em Aristóteles – deveria ser praticada e isto era mais importante que teorias sobre a virtude.
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Diógenes é tido como um dos primeiros homens (antecedido por Sócrates com a sua célebre frase “Não sou nem ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo.”) a afirmar, “Sou uma criatura do mundo (cosmos), e não de um estado ou uma cidade (polis) particular”, manifestando assim um cosmopolitismo relativamente raro em seu tempo.
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É famosa, por exemplo, a sua história com Alexandre, o Grande, que, ao encontrá-lo, ter-lhe-ia perguntado o que poderia fazer por ele. Acontece que devido à posição em que se encontrava, Alexandre fazia-lhe sombra. Diógenes, então, olhando para a Alexandre, disse: “Não me tires o que não me podes dar!”. Essa resposta impressionou vivamente Alexandre, que, na volta, ouvindo seus oficiais zombarem de Diógenes, disse: “Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes”.
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Conheci algumas histórias de Diógenes através dos velhos livros do meu pai que, apesar de matemático, sempre foi um grande humanista. E desde sempre me identifiquei com aquele filósofo que tinha como lema “vivere parvo” (em latim, “viver do pouco”). Nunca tive muitas necessidades materiais – “Eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus!”, como diz a letra daquela música antiga – e sempre desejei, no máximo, viver em paz.
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Ultimamente – e eu quero deixar aqui bem claro, sem um motivo específico – venho ficando cada vez mais abusado de certas coisas desse mundo contemporâneo em que vivemos. Simplesmente por ser um mundo em que tudo parece ser tão superficial quanto a página deste blog. Lembro do início da internet, quando surgiram os primeiros IRCs, chats e cidades virtuais, antecessores já remotos das atuais redes sociais. Tudo era moda e quem não estivesse conectado não era cool – assim permanece até hoje. Tem gente que é tão viciada que, quando a conexão do seu modem está lenta, seu coração começa a bater em disritmia também. Alguns profissionais (e aqui eu só posso falar dos meus colegas jornalistas) não sabem mais fazer nada se não tiver uma internet pra produzir seus textos repletos de CTRL+C / CTRL+V. Ah, fala sério!
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Já falei antes aqui sobre o Twitter, uma ferramenta que nunca me apeteceu, depois veio a enxurrada de orkuteiros sem noção que dominaram o mundo virtual com suas bobagens. Agora o Facebook é a bola da vez, onde muitos já reclamam da “orkutização” de uma ferramenta de comunicação revolucionária, mas que muita gente ainda não sabe realmente para que serve e usa todos os recursos disponíveis apenas para tentar viver aquele sonho dos 15 minutos de fama que Andy Worhol previu nos anos 60.
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Certo dia reencontrei um velho amigo que há anos eu não via. Jornalista, produtor de audiovisual, um cara altamente descolado e inteirado com o mundo, ele não possui contas de Twitter, Orkut, Facebook, MSN ou qualquer outra coisa parecida, a não ser uma conta de e-mail pra manter alguns contatos. Ele também não possui telefone celular. O mais incrível disso tudo é que ele vive muito bem sem todas essas bugingangas virtuais.
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Como um Diógenes moderno, o meu velho amigo faz questão de mostrar que é ainda é possível viver no mundo real e que o mundo virtual, muitas vezes, não passa de uma vitrine de fantasmas decadentes que passam a eternidade tentando aparecer para os “vivos”.
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Como Diógenes e meu velho amigo Bruno Sena, cada vez mais me convenço da verdade do lema “vivere parvo” e penso que todos nós precisamos , de acordo com a realidade de cada um, voltar a praticar coisas simples do mundo como sair de casa, ver as outras pessoas na rua, conversar pessoalmente, olhar nos olhos do outro, dizer o que se pensa sem a necessidade de se esconder por trás de escudos…
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Que as conexões transformem-se em abraços e apertos de mão verdadeiramente amistosos. Que os bate-papos saiam das telas dos computadores e encham as praças, ruas e, sobretudo, as mesas dos bares. Que as pessoas abandonem o chilrear (twitter, em inglês) dos computadores e ouçam o canto dos pássaros que rasgam os céus e enfeitam as árvores e alamedas. E que os “livros de rostos” tornem-se rostos vivos e sorridentes no mundo real.
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Com esse texto, aos poucos me despeço das redes sociais (por enquanto e até quando me der na telha manterei esse blog). Quero amigos de verdade que estejam sempre por perto e com quem eu possa contar. Quero abandonar de vez a frieza dos bits e bytes e sentir o calor humano e o sangue correndo nas veias, no caminhar do meu dia a dia.
Tela de Léia, in: http://artescomaleia.arteblog.com.br/104804/Pintura-em-Tela/
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