Temendo que outras testemunhas também fiquem caladas, presidente da comissão vai conversar com relator para que requerimentos sejam apreciados antes – como o de quebra total dos sigilos da construtora Delta
Embora fosse esperado, o silêncio do bicheiro Carlos Augusto Ramos provocou um impasse na CPI do Cachoeira. A situação que levou Cachoeira a ficar calado – não produzir provas contra si mesmo – repete-se para todos os demais integrantes da sua quadrilha, que igualmente respondem a processo em consequência das Operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. Assim, é grande a possibilidade de que sessões próximas da CPI, para as quais eles estão convocados, sejam igualmente infrutíferas. Diante dessa perspectiva, o presidente da CPI, senador Vital do Rego (PMDB-PB), pretende conversar com o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), para propor uma mudança no rumo das investigações. Sua proposta: diminuir o peso dos depoimentos e adiantar decisões administrativas, como, por exemplo, a quebra do sigilo da empreiteira Delta Construções em território nacional. Assim, em vez do silêncio de depoentes, a CPI avançaria produzindo provas a partir da análise de documentos.
Por enquanto, continuam marcados os depoimentos de integrantes da quadrilha de Cachoeira para quinta-feira (24), mas Vital quer estudar mudanças. Ele tentará fazer um acordo para tentar votar ainda esta semana alguns requerimentos acelerando a CPI. Em último caso, se o acordo não der certo, Vital do Rego disse ao Congresso em Foco que na sessão marcada para o dia 5 de junho colocará em votação o pedido de quebra total do sigilo da Delta. Até agora, só está quebrado o sigilo da empreiteira na região Centro-Oeste. Na mesma sessão, ele afirma que colocará em votação também os requerimentos de convocação dos governadores Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ).
Segundo Vital, a intenção é negociar acordos que possam fazer com que requerimentos sejam aprovados, trazendo para a CPI documentos que façam a investigação avançar. “Não adianta fazer sessões como a de hoje em que nada de prático é feito. Se ninguém falar, vamos fazer o quê?”, questiona. Para o senador, o grande volume de investigações já concluídas pela Polícia Federal torna essa CPI diferente, o que obriga a se pensar em novas práticas.
“A natureza dessa CPI é diferente. Essa é uma comissão de análise de documentos e de análise jurídica. Parte do trabalho já foi feito pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Essa já veio com o réu preso e com os indiciados. Então mudou. A natureza da CPI é outra”, disse.
Antecipação
A intenção demonstrada por Vital do Rego vai ao encontro do que pensam outros integrantes da CPI. Ontem (22) mesmo, o senador Pedro Taques (PDT-MT) já queria antecipar essa votação. “Precisamos votar hoje a quebra de sigilos dos envolvidos nos crimes investigados”, disse ele. “Se deixarmos para o dia 5 de junho, o dinheiro das empresas investigadas pode ter se esvaído por uma cachoeira.”
Também defensor do recebimento rápido das informações bancárias e fiscais da Delta, o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) externa a preocupação com o “mau exemplo” do depoimento de Cachoeira. “Dificilmente agora alguém vai depor na CPI.”
Leia entrevista com Francischini:
CPI ajudou defesa de Cachoeira, diz deputado
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Para o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), é preciso sair do já apurado pelas operações Vegas e Monte Carlo. “A CPI precisa ir a fundo para desvendar essas relações com o poder público e a influência da organização criminosa para direcionar e fraudar contratos com governos”, afirmou ele.
Quadrilha de Valparaíso
Porém, se Vital do Rego não conseguir convencer Odair Cunha a mudar o roteiro proposto, a CPI promete novas sessões com baixa temperatura. A próxima reunião da CPI será na quinta-feira (24) às 10h15 para ouvir membros da “organização criminosa” de Cachoeira que atuavam principalmente em Valparaíso (GO) e outras cidadezinhas goianas do Entorno de Brasília.
São eles: Lenine Araújo de Souza, considerado pela Polícia Federal o gerente operacional da quadrilha e responsável pelo sistema de contabilidade; José Olímpio de Queiroga Neto, espécie de “concessionário” de Cachoeira de máquinas caça-níqueis no Entono; Gleyb Ferreira da Cruz, considerado um “faz-tudo” da quadrilha, além do ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, e do policial militar Jairo Martins, que faziam serviços de espionagem para a organização.
Mas um depoimento pode ser relevante. Também será ouvido o ex-vereador do PSDB Wladmir Henrique Garcez. De acordo com os grampos da PF, era ele quem intermediava contatos de Cachoeira com o governador de Goiás, Marconi Perillo. Também tinha essa função o ex-diretor do Detran Edivaldo Cardoso. A PF diz que Perillo e o bicheiro tinham “intimidade”, a ponto de marcarem um jantar na casa do senador Demóstenes, como revelou o Congresso em Foco.
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