Pesquisa revela como órgãos públicos e recicladores tratam a sucata automotiva
Cristiane Mendonça - redacao@revistaecologico.com.br
SEM COBERTURA e piso adequado: situação que acelera o envelhecimento e prejudica a reciclagem dos carros - Fotos: Aluízio Durço Bernardino
O Brasil experimentou nos últimos anos um crescimento econômico acelerado. E, graças às facilidades de crédito, ter um automóvel deixou de ser um sonho distante. Apenas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a quantidade de veículos passou de 1,08 milhão em dezembro de 2002 para 2,28 milhões em dezembro de 2011, um crescimento de 8,87% ao ano, segundo o estudo “O crescimento da frota de veículos nas principais áreas urbanas brasileiras”, de autoria do mestre em engenharia de transportes Paulo Rogério da Silva Monteiro.
Com o aumento da frota, vieram os problemas. Entre eles, a destinação correta de carros que não podem mais circular, seja por envelhecimento ou por acidentes que acarretam em perda total. Mas, o que fazer com esses veículos que estão fora de circulação?
Para o professor do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do Instituto UNATEC, Aluizio Durço Bernardino, a resposta é óbvia, mas não simples: reciclar. Coordenador de uma pesquisa que, junto com universitários, estuda o reaproveitamento da sucata automotiva na RMBH, ele conta que o trabalho revelou informações pouco positivas. Nos pátios de leilões e no próprio Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran), veículos são armazenados em lugares inapropriados. A falta de cobertura e piso adequado deixam esses automóveis ao relento, sofrendo com a ação do sol e das chuvas, acelerando a oxidação e o vazamento de óleos, lubrificantes e graxas que contaminam o solo. Prejuízo não só para o meio ambiente, mas também para a economia, já que componentes, como o aço, se deterioram e perdem valor no processo de reciclagem. Segundo a assessoria do Detran, os pátios utilizados são credenciados, sendo de responsabilidade desses locais o processo de guarda dos veículos. A instituição informa ainda que “atende às exigências legais quanto à estrutura física e adequação, inclusive relacionada ao meio ambiente”.
VEÍCULOS ENFERRUJADOS, poluem o meio ambiente e suas peças têm menos chance de voltar ao mercado produtivo
Outro agravante apontado pelo professor é a falta de estruturação por parte dos recicladores. Imagine um veículo que, para o seguro, não sirva mais. Destinado aos pátios de leilões, ele é vendido para um sucateiro, por exemplo. O sucateiro desmancha, vende as peças principais e fica com o restante do veículo, armazenado por anos, se deteriorando. “Um material que também poderia ser reciclado e não é! Verdadeiro desperdício, já que há um grande interesse das indústrias siderúrgicas nesse tipo de resíduo.”
A informação é confirmada pela gestora ambiental Júlia Duarte Cunha, que fez parte da pesquisa, realizada entre 2011 e 2012. Os estudos apontaram que, nesse período, “a empresa Gerdau, por exemplo, utilizou a sucata como principal insumo em 75% de suas atividades. Outra grande empresa, a Belgo Mineira consome atualmente cerca de 120 mil toneladas por mês de sucata, metade proveniente de geladeiras e eletrodomésticos, e a outra, derivada da indústria automobilística, mecânica e naval”. Júlia visitou vários locais de acondicionamento e venda de sucata em BH e constatou que a falta de estrutura e cuidado desses lugares prejudica a reintrodução do aço no processo produtivo. “Se ele estiver enferrujado, perde o valor.”
FALTA DE ESTRUTURA no armazenamento faz com que as peças se deteriorem, perdendo a possibilidade de serem recicladas
Legislação
A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), prevê a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos. Isso significa que todos aqueles que estão envolvidos na produção até a compra de um veículo, por exemplo, sejam responsáveis pela destinação correta dele quando for descartado. Determinação que traz esperança para o professor Aluizio. “A grande vantagem dessas políticas nacionais e estaduais são os capítulos que tratam da logística reversa. O que abre discussão para acordos setoriais de extrema importância para as indústrias recicladoras e montadoras fazerem pactos com sucateiros, leiloeiros e o Detran, promovendo, assim, o desenvolvimento de toda uma cadeia produtiva sustentável”, analisa.
O Resultado
Os relatórios das pesquisas desenvolvidas pelos alunos da UNATEC serão publicados em revistas científicas para mostrar a importância de uma política pública voltada para a sucata automotiva. O projeto já tem três anos e meio e envolve um aluno por ano na área de pesquisa e extensão do instituto.
Fique por dentro
De acordo com o Instituto Nacional das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Inesfa), em média, 66% do material reciclável, de um carro antigo, é aço;
Além de evitar o descarte irregular desses carros, a sucata de aço é 100% reaproveitável pelas siderúrgicas, e esse processo reduz a poluição do ar em 85% e o consumo de água em 76%, se comparado à atividade de mineração de ferro;
Para cada tonelada de aço reciclado, há uma economia de 1.140 quilos de minério de ferro e uma redução no consumo de 154 quilos de carvão e 18 quilos de cal.
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