Sondagens nas redes sociais vêm sendo feitas na tentativa de identificar integrantes de gangues e reais suspeitos de crimes nas ruas
Por MICHELE MEIRELES
As provocações de grupos de jovens no mundo virtual, por meio das redes sociais, têm se transformado em confrontos frequentes no mundo real. E, como num ciclo sem fim, se um conflito ocorre em uma área pública, rapidamente os grupos se organizam novamente pelo Facebook, acelerando as revanches, que têm se tornado mais graves, com perdas de vidas precoces. A exposição destes jovens na internet, muitos deles ostentando armas e confessando crimes, não é novidade, mas torna-se mais visível com a ampliação do acesso à internet. A preocupação com o aumento dos grupos que incitam a violência na internet levou a Polícia Militar a incrementar o monitoramento nas redes há cerca de seis meses. De acordo com levantamento da PM, 600 grupos vulneráveis à prática criminal foram identificados, sendo que cem seriam fan pages de gangues rivais. São pelo menos 1.100 perfis monitorados, sendo 80% ligados a possíveis gangues e drogas. As sondagens apontam, ainda, a suspeita de envolvimento destes jovens com casos de homicídios. A Polícia Civil também afirma que as redes sociais são usadas em quase 100% das investigações ligadas a assassinatos e brigas de gangues e que, por meio da internet, a instituição tem conseguido chegar até a prisões e apreensões. Tanto a PM quanto a Polícia Civil confirmam que crimes planejados virtualmente ocorrem de fato nas ruas.
Durante dois meses, a Tribuna acompanhou as postagens de cerca de 30 jovens que, ao invés do sobrenome, incorporam o nome dos grupos aos seus e passam a formar uma "família". São adolescentes que estampam em suas páginas o ódio a outros jovens só por morarem em bairros diferentes. Além dos conflitos já conhecidos entre moradores de bairros vizinhos, jovens de regiões distantes, como São Judas, na Zona Norte, São Benedito, na Zona Leste, e Ipiranga, na Zona Sul, se unem 'contra' outros bairros, que também fazem o mesmo. Desta forma, as rixas ficam pulverizadas por toda a cidade (ver quadro).
Pelo levantamento, o jornal encontrou indícios de que 14 confrontos ocorridos nas ruas nos últimos meses tiveram repercussão no Facebook e promessa de revanches. As ameaças de vingança se acirram ainda mais durante os finais de semana. Os jovens prometem ir para o Centro se encontrar com os oponentes para embates. Na noite da última sexta-feira, um dos garotos de Santa Cruz, prometeu que haveria rixa neste fim de semana. Segundo afirmação dele, adolescentes de Santa Luzia estariam cercando ônibus do São Judas Tadeu na Avenida Getúlio Vargas. "'haam inttt '' luzia ta gostando de cercar onibus de são judas ' na getulio ' amanhã noiis vaii partir de bonde vamos ver quem e quem '" (sic).
Em cada embate que ganha as ruas, a vontade de vingar os colegas vem à tona por meio de novas postagens. Um dos garotos escreveu que "si quise acabr com o bonde vai ter q mata todo mundôh (sic)"(ver quadro). Alguns adolescentes se apresentam no perfil da rede social como "traficante", "bandido" e dizem trabalhar na "empresa malandragem", afirmando que frequentam a "faculdade do crime". Não têm medo de se mostrar como se estivessem na criminalidade, ao contrário, desejam é deixar indícios de que participaram de crimes. Aqueles que estão nestes grupos sabem do risco que correm, e, mesmo assim, dizem não se importar. Um dos garotos do São Judas Tadeus, do "Bonde dos Beckham", escreveu em sua página, em 24 de outubro, que "essa vida é difícil mas a gente tem que conpriender, hoje nois mata amanhã nois pode morrer"(sic). Outro garoto, que diz integrar o Bonde dos Malvadinhos, do Santo Antônio, admite a banalização da vida: "Por causa de um boné, por causa de descussão. Hoje em dia os menor tão matando até irmão"(sic).
Exibição na rede mostra disposição para crimes
O promotor da Vara da Infância e Juventude, Alex Fernandes Santiago, se diz "impressionado" com a atuação das gangues na cidade. "Juiz de Fora tem um perfil violento, e o que chama a atenção...
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