Aliados na chapa que elegeu Dilma Rousseff presidente da República, PT e PMDB não se entendem na hora de definir os respectivos espaços políticos na Esplanada dos Ministérios e no Congresso. O PMDB sugeriu que a atual configuração da Esplanada seja mantida, com os partidos mantendo o mesmo número de ministérios que comandam hoje. O PT alega que elegeu mais deputados e que Dilma não pode assumir engessada por um acerto político fechado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva. Já no Congresso, o PT, além de querer presidir a Câmara em 2011 - por ter a maior bancada de deputados federais (88) - quer que o Senado também adote o sistema de rodízio no comando da Casa, ideia vetada pelos pemedebistas.
A reportagem é de Paulo de Tarso Lyra e publicada pelo jornal Valor, 11-11-2010.
Para dificultar ainda mais qualquer tipo de acordo, o PT tem quatro postulantes ao cargo de presidente da Câmara no biênio 2011-2012: o líder do governo na Casa, Cândido Vaccarezza (SP); o atual vice-presidente Marco Maia (RS); e os ex-presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP) e João Paulo Cunha (SP). "Quanto antes definirmos o nome de nosso candidato, melhor, pois teremos que conversar com as demais legendas", disse o líder do PT na Casa, Fernando Ferro (PE).
Para tentar colocar um mínimo de ordem no debate, Ferro convidou ontem o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra (SE) e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, para uma reunião com a bancada de deputados do partido, encontro que durou mais de três horas e acabou sem consenso. Em alguns momentos do encontro, ao qual os jornalistas não tiveram acesso mas podiam acompanhar as reações pela porta de vidro, era possível ver José Eduardo Dutra bastante alterado. "Não houve bronca nenhuma. É que muitos estavam concentrados na própria campanha, alheios a outros debates. Hoje [ontem] foi um momento de catarse para todos colocarem suas impressões", minimizou o presidente do PT do Rio, deputado Luiz Sérgio.
José Eduardo Dutra defendeu que o mais prudente é não deixar que as duas questões contaminem o debate político. "Governo é governo, Parlamento é Parlamento. No governo, a presidente Dilma definirá a composição com base nas conversas que tivemos com os partidos da base aliado. No Parlamento, existe uma princípio regimental de que o tamanho das bancadas deve ser respeitado", afirmou. Isso inclui a oposição - PSDB e DEM - que, pelos tamanhos das bancadas eleitas, também têm direito a indicar candidatos para ocupar vagas nas Mesas Diretoras do Congresso.
O presidente do PT declarou que, na primeira conversa que teve com o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), na semana passada, defendeu a manutenção do revezamento no comando da Câmara e a extensão da regra para o Senado. Ele recusou-se, no entanto, a fazer juízo de valor sobre postulantes aos cargos de presidente das duas Casas Legislativas. "O melhor para um governo que inicia é um consenso nas eleições das duas Mesas. Não vou entrar no mérito sobre nomes".
O PT, contudo, está tenso quanto a isso. Deputados do partido não estão gostando do apetite do PMDB para ocupar espaços no Congresso e na Câmara. "É muito ruim o mesmo partido comandando as duas Casas ao mesmo tempo", reclamou o secretário de comunicação do PT, deputado André Vargas (PR). "E como fica o PT? Elegemos 14 senadores, 88 deputados e só comandamos uma Casa do Congresso por um único biênio? questionou o petista gaúcho.
Ex-presidente das Câmara e um dos cotados para disputar novamente o cargo, Chinaglia afirmou que o acordo tem de envolver também os demais partidos da base aliada. "Na época em que eu fui eleito, fechamos um acordo com o PMDB que foi levado também aos demais partidos da coalizão", lembrou ele.
Se o PT não se entende com o PMDB, também há uma briga interna para ver quem tem mais poder para ser nomeado ministro.
Os recentes problemas com o Enem tiraram a força que Fernando Haddad ainda poderia ter para seguir como ministro da Educação no governo Dilma, embora estivesse já na lista dos substituíveis. Entre os nomes que vêm sendo citados para a Pasta, aparecem a senadora eleita Marta Suplicy (SP) e o candidato derrotado ao governo paulista Aloizio Mercadante (SP). "Você nomeia o Mercadante, que perdeu, e deixa a Marta de fora? Ou indica a Marta e despreza quem teve 35% dos votos válidos para o governo de São Paulo?", questionou um petista com força no Estado.
Dutra encerrou ontem as conversas com os aliados. O PRB, por exemplo, lembrou que, durante o governo Lula, o partido estava representado pelo vice José Alencar e que precisa, a partir de janeiro, ser contemplado com outra vaga. "Política se faz com ocupação de espaços. Temos, por exemplo, o senador Marcelo Crivella (RJ), que tem competência técnica para ocupar qualquer Pasta", disse o presidente do partido e deputado eleito, pastor Vítor Paulo (RJ).
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