Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

domingo, 3 de abril de 2011

As profundas mudanças no campo popular brasileiro


"Estamos virando uma página importante da história política do país", afirma Rudá Ricci, sociólogo, em nota publicada no seu blog.
Segundo ele, "o que era inovação na redemocratização do país pode ser, hoje, anacrônico".
Eis o texto.
Estou procurando retratar, em notas recentes, a profunda mudança que vem revirando o campo popular brasileiro. Estamos virando uma página importante da história política do país.
Na década de 1980, as pastorais sociais, movimentos sociais e sindicatos se constituíram no bastião das lutas por direitos e democratização do país. Contudo, na década seguinte houve uma inflexão importante.
As pastorais sociais acusaram o golpe da crise de identidade (que se arrasta até hoje). Não sabiam mais se eram apoio, motivação ou assessoria. As bases sociais que apoiaram, mobilizaram e formaram tinham ganhado asas. Se transformaram em CUT, em MST e outras mega-organizações, com financiamento próprio. Algumas pastorais chegaram a exigir respeito a alguns desses movimentos, sentindo que se transformavam em meros suportes moral e material, sem qualquer direito a falar.
Em seguida, veio a crise de financiamento das ongs e movimentos sociais. O MST foi um dos poucos que conseguiram se manter independentes. A grande maioria capitulou e passou a firmar convênios com governos para poder sobreviver financeiramente. Se alteraram por dentro. Se transformaram em pequenas empresas de serviços públicos terceirizados. A composição interna mudou. De luta por direitos, a grande maioria dos funcionários dessas ongs passaram a se perceber funcionários. O ideal político foi substituído pelo ideal profissional. Muitas ongs (antes movimentos sociais) vivem à beira de um racha interno, entre a diretoria da velha guarda politizada e os técnicos jovens despolitizados e com aspirações profissionais.
O MST, agora, já acusa o golpe da ascensão social dos últimos anos. Sua base de arregimentação seca aceleradamente. O campo é o setor econômico que mais perde pobres, agora classe média baixa. Os acampamentos em beira de estrada minguam.
O movimento sindical, por seu turno, ingressou na era do neocorporativismo. Definem ministros e seus assessores, recebem verbas milionárias a partir de convênios com o governo federal, dirigem o FAT, tornam-se conselheiros de estatais, indicam ou controlam agências reguladoras. Não se trata do jargão direitista da "República Sindical", gasto pelo uso e abuso pelo golpe militar. Trata-se de um fenômeno de tipo europeu que Phillippe Schimitter denominou de neocorporativismo, quando a estrutura sindical opera recursos em arenas de negociação com agências públicas, grandes corporações e empresas nos segmentos e arranjos setoriais da indústria, comércio, serviços, agricultura. Definem, enfim, a pauta governamental.
A resultante política desta nova prática sindical é o afastamento gradativo da direção em relação à sua base sindical e a mudança gradativa de sua pauta. As direções diminuem a alternância de poder e a preocupação com a formação de novas lidernaças. Envelhecem. Passam a disputar seus privilégios como se fossem direitos. Não admitem que suas indicações e pautas sejam rejeitadas pelos governos, qualquer que seja o partido ou ideologia de plantão.
Enfim, a mudança em nosso país é das mais radicais. E temos que compreender que o que era inovação na redemocratização do país pode ser, hoje, anacrônico.

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