Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A pedagogia policial

Por: Pedro Estevam Serrano

Ocupação na USP

Leciono, há mais de duas décadas, numa universidade de muito prestigio em minha área de saber, o Direito. Nos últimos anos tem sido comum, cada vez mais, em nossas universidades, e não só a USP, o trato de questões de conflitos com movimentos políticos e de reivindicações das comunidades nos campi através do uso da força policial militar.
Os métodos empregados costumeiramente pela Policia Militar são evidentemente inadequados a um ambiente de educação cidadã. Foto: André Lessa/AE
Convocar a polícia, antes de tudo, significa assumir nossa ineficiência como educadores no plano da gestão universitária, nossa incapacidade de criar estruturas de poder e representação nas universidades semelhantes às que exigimos como intelectuais, com diálogo, arejamento democrático – pedagogia pelo afeto e debate e não pelo cassetete, enfim.
Temos de ter consciência de que cada ato praticado dentro de uma universidade, mesmo que aparentemente administrativo, há de ter sempre sentido pedagógico. Se não se recomenda a violência nem no adestramento de cães usados nas ações policiais, como se pretende ensinar cidadania e respeito aos nossos alunos pelo uso do aprisionamento e da violência?
Que a sociedade debata se o uso de drogas é um problema de policia ou de educação ainda vá lá. Mas que se acolha a tese repressiva em plena universidade é de estarrecer pela desconfiança que representa em métodos educativos e que, em geral, ela mesma cria e propaga.
Se a conduta dos estudantes que ocuparam a reitoria foi produto de um grupelho pouco representativo e autoritário, o que parece verdadeiro, após a ação da policia este quadro se reverteu. Como há anos não se via no movimento estudantil o comparecimento à assembleia estudantil posterior às prisões dos estudantes foi significativa e deliberou pela greve geral em protesto.
Me parece de bom senso que problemas reais de segurança no campus, que implicam violência marginal, não se dão por conta da ausência da PM, mas sim pela ausência de qualquer vigilância ou monitoramento.
Força civil de segurança treinada pela própria universidade ou mesmo forças policias especialmente treinadas para segurança nos campi seriam a solução adequada.
Isso porque os métodos empregados costumeiramente pela Policia Militar são evidentemente inadequados a um ambiente de educação cidadã.
As abordagens policias em geral são feitas com base em preconceitos sociais e de etnia; a violência é usada como método de investigação e não como mera auto-defesa. A manifestação pública de reivindicação de grupos é vista por essas forças como crime e não como legitimo exercício de direitos fundamentais de cidadania.
Liberdade e segurança são valores relevantes para a vida social. Para que ambos imperem concomitantemente, temos de saber ponderá-los adequadamente face a cada circunstancia fática. Por evidente num educandário onde se preza a formação livre do pensamento – e que quer estimular a experimentação de ações de cidadania pelos jovens – o valor da liberdade deve preponderar. Não há saber de excelência sem liberdade de pensar. Neste ambiente, é melhor pecar pelo excesso de liberdade do que pelo excesso de repressão.

Fonte: Carta Capital

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