Após quase três anos parado nas gavetas do Congresso Nacional, o
Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 74/2010 deve ser apreciado hoje na
Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Casa. Batizado de
Estatuto do Concurso Público, o texto prevê a criação de uma lei geral
para regulamentar as práticas dos processos seletivos de servidores e
empregados públicos no âmbito da União, dos estados, dos municípios e do
Distrito Federal.
Entre os pontos mais polêmicos do PLS, estão o fim dos certames
exclusivos para formação de cadastro reserva, a obrigatoriedade de que
os editais sejam publicados, pelo menos, 90 dias antes da data de
aplicação das provas e a garantia de nomeação dos selecionados dentro do
número de vagas previsto. Com essas regras, o objetivo é que sejam
minimizadas as fraudes envolvendo concursos públicos. A votação na
comissão tem caráter terminativo, e, caso o texto seja aprovado sem
recursos, segue para tramitação na Câmara dos Deputados.
Relator do texto na CCJ, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) explicou
ao Correio que a lei deve garantir a punição em caso de práticas
irregulares na realização de concursos. "Ele garantirá os princípios de
transparência e de igualdade (entre os candidatos, o princípio da
isonomia), impondo regras claras e gerais. O projeto pode resguardar o
sigilo das provas, responsabilizando, em caso de fraudes, os culpados de
forma civil e criminal", explicou.
De acordo com o parlamentar, nestes quase três anos na comissão, o PLS
chegou, inclusive, a ser analisado pelo Ministério do Planejamento para
que o governo pudesse fazer eventuais sugestões. Contudo, ele teria
retornado sem alteração. A pasta não quis, porém, confirmar à reportagem
qual é a avaliação das propostas.
As fraudes em concursos públicos são uma preocupação antiga. Não
raramente, surgem denúncias de irregularidades nos editais, na aplicação
das provas ou mesmo na divulgação dos resultados. A Associação Nacional
de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac) diz que recebe até 60
reclamações por dia contra processos seletivos suspeitos. Segundo Maria
Thereza Sombra, diretora executiva da entidade, as queixas mais comuns
são a falta de fiscalização adequada aos exames. "Há casos de candidatos
que usam celular em sala de prova ou vão ao banheiro sem a companhia de
um fiscal", contou.
"As bancas examinadoras acabam contratando qualquer pessoa para
trabalhar (no certame). Enquanto não houver uma regulamentação, cada uma
faz o que bem entende", comentou ela. Segundo ela, a profissionalização
desse tipo de funcionários é de alto custo. Além disso, Maria Thereza
diz que é comum reclamações referentes ao uso de questões e itens iguais
em diferentes seleções. Por isso, ela defende a aprovação, o quanto
antes, do estatuto.
Rigidez
O especialista em direito público Alexandre Lopes acredita que, se
entrar em vigor, a lei também contribuirá no combate a crimes de
improbidade administrativa, sobretudo em relação à nomeação dos
candidatos aprovados. Ele diz ainda que é preciso mais rigor na hora de
escolher uma empresa para organizar a seleção. "Com as novas regras
valendo, se ela não atender os requisitos obrigatórios, não vai ser
contratada." O presidente do GranCursos, Wilson Granjeiro, acredita que a
regulamentação deve atrair ainda mais o interesse de profissionais ao
funcionalismo público. "O candidato terá mais segurança para fazer as
provas", argumentou.
Advogado especializado em concursos e consultor jurídico da Associação
Nacional de Defesa e Apoio aos Concurseiros (Andacon), Alessandro Dantas
ressalta que hoje, na falta de normas específicas para a realização dos
processos seletivos, são usados para direcionar decisões em relação ao
tema a Lei nº 9.784/1999, que trata da regulamentação do processo
administrativo em âmbito público, e o Decreto nº 6.944/2009, que reúne
regras em relação aos concursos apenas da União. Ou seja: valem as
regras da administração pública, que nem sempre abrangem toda a
complexidade dos certames.
Fonte: Correio Braziliense
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