Apesar de a Câmara não ter encerrado a votação da proposta, senadores reclamam da criminalização do uso de drogas e da falta de diferenciação entre usuários e traficantes. Texto deve começar a ser discutido em junho
O projeto ainda nem foi aprovado pela Câmara, mas a nova política antidrogas
em discussão no Congresso já encontra resistência entre senadores. E
tudo indica que as polêmicas enfrentadas pelos deputados desde o ano
passado se repitam no Senado. Criminalização do uso de drogas, punição
para grande traficantes e a internação compulsória prometem ser os temas
centrais dos debates no próximo mês.
Os deputados começaram a votar o projeto na tarde de ontem (22). Conseguiram aprovar o texto base
à noite, preservando as propostas centrais elaboradas pelo relator da
proposta, deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL). No entanto, a oposição
começou a obstruir a sessão para obrigar os governistas a votar um
projeto que acaba com a contribuição de 10% dos empregadores ao Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Com a manobra, não foi possível concluir o texto.
Mesmo assim, senadores consultados pelo Congresso em Foco
na noite de ontem demonstram ter resistência à proposta. A votação deve
ser concluída na próxima semana, começando a tramitar no Senado na
primeira semana de junho. As declarações deixam claro que a discussão
entre os senadores deve ficar centralizada na criminalização do uso de
drogas.
Para os parlamentares, a questão precisa passar necessariamente pela
punição aos grandes traficantes e pelo tratamento de saúde aos usuários.
O senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP), por exemplo, classifica como
“retrocesso” tratar o usuário como criminoso. “Essas assepsias não
resolvem. É uma política que fracassou”, afirma o congressista
amapaense, complementando que esse é um “discurso fácil”.
“Difícil é o discurso contra o grande traficante, criminalizar a
corrupção”, avalia. Para ele, a proposta deve sair ainda mais rígida do
Senado por conta do apoio de diversos parlamentares à redução da
maioridade penal. “Daqui a pouco vão querer maternidade de segurança
máxima”, ironiza.
A proposta em análise na Câmara propõe medidas restritivas de
direitos aos usuários de drogas e permite a internação involuntária pelo
prazo máximo de 90 dias, além de obrigar a abstinência total como
condição de permanência no tratamento.
Por sua vez, o senador Cristóvão Buarque (PDT-DF) avalia que a
internação involuntária prevista no projeto deve ser considerada para
usuários de crack. “É uma droga suicida. E o suicídio é uma liberdade
que o Estado não dá”, explica, complementando que qualquer política
antidrogas será insuficiente se não prever, paralelamente, uma política
educacional para crianças em tempo integral.
Vice-líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR) destaca que é preciso
estabelecer limites de rigor entre usuário e traficante. “O Estado tem o
dever de oferecer possibilidades de tratamento. O rigor absoluto contra
o usuário é impraticável”, afirma o tucano, que crê na “maturidade” do
Senado para analisar a proposta.
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